4 de janeiro de 2016

Jiló vs Brigadeiro.


Oi 2016! Prazer, Juliana.

Agora vai... Chegaram ao fim os 15 dias de recesso. E a esbórnia. Ufa!

E depois de iniciar num fim de semana - o que não foi nada mal - o ano começa “oficialmente” nesta segundona, 4 de janeiro, nublada aqui em Londrina. E aí?

Foi bem bom enquanto durou. Depois de muitas festas; um dedinho luxado; horas de sofá com muita pipoca, filmes e séries; toda a comilança que essa época do ano nos impõe e a calça jeans que deu um pequeno sufoco pra fechar essa manhã, o saldo é positivo. Deu pra curtir a família, os amigos, a casa, a cozinha, o ócio... E agora, uns dias de detox e umas capsulazinhas de Goji Berry devem resolver os excessos. 

É isso, acabou a brincadeira. E no dia derradeiro, ontem no almoço, entre suculentas costelinhas de porco, vários tipos de massas, rabada com polenta (que eu amo!) e várias outras gordices no buffet do restaurante onde fomos comemorar o aniversário do Enzo, quando me dei conta, mais de 1/4 do meu prato estava ocupado por jiló grelhado. Isso mesmo, JILÓ. Sorri e pensei: acho que “inconscientemente” estou apenas sendo coerente com o gostinho amargo do último dia da mini-férias. Mas que nada, é mais simples que isso, contrariando as estatísticas, eu gosto de jiló, ué! E, contrariando outras estatísticas, voltei hoje animadona para o trabalho, porque ter um - nesses tempos nebulosos - já é uma boa coisa e gostar dele, melhor ainda. Também, porque meu fígado e a minha avó (que ganhou 3 beijos no primeiro dia do ano – piada interna) agradecem. Tá vai, eu confesso, é possível que essa animação toda seja por saber que daqui a duas semanas eu entrarei de férias, as oficiais. Desculpe!

Depois de perceber que fiquei 2015 inteirinho sem escrever um único post aqui no blog, estou de volta. Acho... Até isso é culpa do 2015, coitado! E nesse primeiro post do ano quero registrar alguns desejos, pra mim e pra vocês:

Que o amargo fique no jiló e em 2015. E que 2016 seja doce como o brigadeiro do bolo de ontem do meu filho de 12. Mas sabemos bem de quem (prioritariamente) depende.

Que na memória guardemos só os frames de qualidade. Os zuados, a gente enterra com o Lemmy. Aliás, que puta perda!

Que toda a lamentação, desânimo, posições arrogantes e desesperança que imperaram nas rodas de conversas e especialmente nas redes sociais, em 2015, não estejam introjetadas definitivamente em nossas cabeças e corações e que tenhamos mais serenidade para analisar e lidar com notícias, situações e com a realidade.

Que depois do INEFÁVEL 2015 e o clima de suspense que ele nos deixou, que essa ansiedade coletiva e toda nossa expectativa sobre o que vem por aí, não nos trave e nem amargure. É claro que a mudança de ano no calendário, por si só, não resolve os problemas. Ainda lidaremos com a tragédia de Mariana; o terrorismo no mundo; a corrupção no Brasil; etc, etc, etc...  E problemas novinhos em folha certamente vão aparecer em 2016. C´est la vie! Só acho que a forma de lidar com as dificuldades, inclusive na maneira de se expressar por aí, pode ser o começo da mudança, simplesmente porque insatisfação, raiva, intolerância e sofá, nunca foram capazes de nenhuma transformação. Ok, agora é aquele momento que você pensa: “Putz, lá vem o papinho que a mudança começa em cada um e blá blá blá...”. Clichê? Total. E chato pra cacete. Mas é isso, alguns deles falam a verdade. É que (só) criticar é, geralmente, mais conveniente do que mudar e fazer alguma coisa. Mas não resolve, nem a fatura do cartão que você tem pra pagar dia 10 e nem os problemas econômicos e políticos do país, não resolve nada. Sendo assim, que tal encararmos o novo ano de forma diferente? Melhora pra todo mundo.

 Como diria aquele poeta gringo: “Move your fucking ass, baby!!!”

Com amor,
Juliana.

8 de dezembro de 2014

Da Série: 37 anos de mim – Depois das 8 partes, o fim.

Já que estou na semana dos 37, resolvi blasfemar sobre mim.

Farei uma “Série” com várias partezinhas e depois vou juntar tudo e ver o quanto de coerência consegui juntar em 37 anos. Já posso adiantar que sou num dia a pessoa mais normal, bem resolvida e decidida do mundo e no outro, posso ser pura bagunça, tipo louca mesmo. Mas a essência, os princípios e as convicções, não mudam em dia nenhum. Dá um pouco de medo ver o final dessa brincadeira. Mas sou sem vergonha.

Pra começar, não gosto de beterraba, nem de gente fofoqueira, nem de convites pra jogar Candy Crush e nem de Pink Floyd, muito menos de Pink Floyd (desculpe Sá!). Mas, adoro praia e ficar melada de areia num dia nojento de tão quente.

Ah, e sinto tédio quando escuto “se tem dia da consciência negra deveria ter dia da consciência branca”. *Risos*

Não acho que a vida se resume em plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. De qualquer forma - pra garantir - já plantei algumas. Mas acho mesmo é que precisamos cuidar das que temos e plantar várias ao longo da vida. Filhos? Já tive. Sou louca pelos meus, mas também acho que é possível ser feliz sem. Mas só antes de tê-los. Tem gente que faz essa opção e é. E um livro? Nunca escrevi um de verdade, além de um de terror na quinta série. Já me falaram (os amigos, claro) que eu deveria, porque gosto de escrever e vivo "me expondo". Mas a verdade é que eu acho que tenho que comer muito feijão com arroz pra escrever um livro. Livro pra mim é coisa séria. Gosto do descompromisso com as palavras e com a forma. Gosto da catarse.

Fui descobrindo que, com exceção das coisas que “devem” ser, não gosto de nada unilateral na vida. Nem da palavra eu gosto.

É simples. Não me agrada radicalismos e regrinhas com relação a gosto e às coisas cotidianas. Por exemplo, não acho que a pessoa precise gostar de UM estilo de música, UM tipo de leitura, usar UM estilo de roupa, frequentar UM tipo de lugar. Quando mais jovem, confesso, já desejei ter um “gosto” só sobre as coisas, achava que isso trazia alguma coerência à vida. Nunca consegui, por sorte. Hoje, acho isso muito chato.

Saio hoje de chinelo. Amanhã, se eu quiser, meto um salto lindo e depois de amanhã passo o dia de tênis. Eu adoro - na mesma proporção - comer uma costelinha (na gaita) e uma Brahma gelada (com milho mesmo!) no Bar do Jaime ou um Bife de Ancho com uma Patagônia no Cabaña Ganadera (meu restaurante preferido por aqui). Eu posso estar lendo A Bibliotecária de Auschwitz (recomendo, aliás!) e na mesma meia hora pegar uma revista e ler “Como fortalecer os glúteos”, o que é muito foda! Os dois, Auschwitz e fortalecer os glúteos. Numa “roda de youtube” posso escolher Back in Black do AC/DC, Réu Confesso do Tim Maia, Alvorada do Cartola, Homem na Estrada dos Racionais, enfim, gosto de música, qualquer uma que me disser alguma coisa, agradar aos meus ouvidos e me fazer bater os pés. Tudo isso é só para dizer que coisas bem diferentes uma da outra podem me fazer feliz igualmente e que os chatos e as convenções não me apetecem. Eles só tem razão quando o assunto é o Funk. Ah, o funk…

Por falar em música, também sou daquelas que acha que música move o mundo. Tudo que envolve ela. Ouvir, dançar, cantar, tocar, lembrar, enfim... Adoro dançar, mas, um dos meus cunhados me disse uma vez - depois de uma festa de formatura e um pé pisado - que eu sou ótima dançando sozinha e livre. E isso dispensa qualquer explicação. Também não sei cantar, mas adoro e canto assim mesmo. Uma frustração: não tocar nenhum instrumento. E isso, ao contrário de dançar e cantar, não dá pra fazer sem saber. Se bem que tá cheio de gente por aí que... Deixa pra lá, que a ideia aqui é falar mal só de mim.

Poucas coisas na vida me deixam mais feliz do que café, amor e gentileza. Simples, não!? Humm...

Já provei muitos, porque sou bem fã, mas o meu requeijão preferido é o Crioulo, talvez porque eu deteste a ideia de separar o Brasil, ou só porque ele seja bom pra cacete mesmo. Adoro requeijão com torrada e o Brasil tudo junto.


Tenho Aristóteles na pele. Porque fui metida, li algumas coisas, mas sei muito menos dele do que gostaria. Tenho Guimarães Rosa como citação de Facebook, o que quer dizer quase nada. Isso, se não fosse ele, que pra mim quer dizer quase tudo.

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim. Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

Quero parar de fumar. Eu sei, já falei isso antes... Agora, além dos motivos óbvios, a atividade física, que sempre foi um peso e hoje é um prazer, está atrapalhando muito o meu desempenho com o cigarro. Vou te contar, não tá fácil! Mas vou conseguir, já fiz coisas piores.

Também não sei emitir nota fiscal do jeito novo, só naquele bloco old school. Não sou eu que faço minha declaração de imposto de renda. Esqueço senhas, números de telefones, datas de vencimento e datas de aniversários importantes. Como podem ver não sou boa com números, mas sempre fui boa de conta. Ou seja, raciocínio “ok” e memória “zero”.

As coisas que faço melhor não me garantem nenhuma grana, mas... Sou boa pra organizar festas; sempre acerto o tamanho do pote na hora de guardar a comida que sobrou (dica: na dúvida, sempre escolha o menor); sou craque em fazer baliza e fazer criança rir; e todos os dias repito a façanha de fazer a melhor comida que já fiz na vida, pelo menos na opinião do Enzo, o que não é pouco.

Não ligo (mesmo) que me peçam o último pedaço ou o último gole. Não poderia, costumo fazer isso. Eu sei, eu sei... Mas pelo menos não conto o final do filme, nem do livro. Não mais.

Os meus filhos me ensinam todos os dias que as crianças aprendem com aquilo que a gente faz e não com o que a gente diz. Eu continuo falando, mas também sendo, ou tentando ser.

Me emocionam... Um gol do Corinthians nos 45 do segundo tempo; o olhar e o sorriso dos meus filhos, sempre, mesmo quando eu já sei que vão pedir alguma coisa; Um Sonho de Liberdade, As Pontes de Madison e até O Paizão naquela cena do julgamento (pois é!).

Me dá saudades... A época da faculdade; Londres; meus avôs e outros tantos que se foram e não me despedi direito; os luais da Praia Brava; jogar bétis na rua até quando não dava mais pra enxergar a bolinha; de quando a vida era só festa e chamava os garçons dos bares pelo nome, daquela época só restou o Almir e alguns dos bares, eu é que não vou mais (tanto); sinto saudade de lugares, imagens, cheiros, vozes, tantas coisas e pessoas... Sou lotada de saudades. E não vejo mal nisso. Acho essa, a prova mais evidente de que se foi feliz – também - antes.

Amo viajar. E viajo menos do que gostaria. Já que é preciso tempo, dinheiro e escolhas. Ainda as faço, mas com o tempo, as viagens foram virando fraldas, porcelanatos, mensalidades escolares e financiamentos... Mas quer saber? Não posso reclamar, não. Com “só” 37 já conheci muitos lugares incríveis. E gosto de viajar de qualquer jeito. Pode ser de carro, de avião, de trem, de ônibus. Pra Paris ou Curitiba, todo lugar. Até pra Sapopema se me chamarem, eu vou. Pode ser de mala ou mochilão. Pode ser hotel, albergue, casa alugada ou casa de amigo. Se o lugar for limpo, tiver chuveiro e cama razoáveis, e claro, bons parceiros de viagem, eu topo. Porque, aliás, viajar com gente chata é um porre. Prefiro um porre, na verdade. E em grupo também é complicado, mas na última que fizemos em família e em 12 (É isso mesmo, 12 pessoas!), todos sobrevivemos e nos divertimos.

Quase todo mundo que eu conheço gosta de viajar. E olha, vou ser bem sincera, a pessoa tem que ser muito mal humorada pra não gostar. Viajar transforma os dias, as percepções, as opiniões, os preconceitos, os conhecimentos, os equívocos, o pensamento. Viajar, com o tempo e as viagens acumuladas, pode transformar o seu jeito de ver a vida.

Viajar me faz curiosa e ansiosa feito criança. Gosto dos detalhes. Viajar é comer sem culpa e experimentar até aquilo que você sabe que não vai gostar. É acordar cedo mesmo que tenha ido dormir tarde e bêbada, mas não porque tem hora pra acordar. E no outro dia perder o horário do café-da-manhã do hotel porque decidiu dormir até quando der vontade. É dar risada numa fila quilométrica de um teatro ou quando erra o caminho e tem que andar o dobro. Viajar é usar roupas que aqui nunca ficariam boas. É lembrar de esquecer os roteiros tradicionais. Não estou dizendo que quem vai a Paris deva voltar sem conhecer a Torre Eiffel e quem vai a Barcelona, a La Rambla (Ah Barcelona!!!), mas é ótimo esquecer os roteiros de vez em quando...

Viajar é ter histórias pra contar e pra lembrar.

A primeira viagem de que se tem notícia na minha vida foi pra Itanhaém, uma praia do litoral paulista que fomos por muitos anos. Eu tinha 1 ano. E lá, aprendi a andar. Talvez por isso goste tanto de praia, dei meus primeiros passos na areia. Com pouco mais de um ano fiz minha primeira viagem de avião. Uma viagem curta e engraçada. Engraçada, hoje. Não pra minha mãe, naquele dia. Assim que o avião decolou, passei mal e desmaiei, e ela, desesperada – segundo meu pai conta e ri - pedia insistentemente que parassem o avião. É, eu sei...

Depois dessa iniciação curiosa foram muitas e muitas aventuras. Viagens em família, com namorado, com amigos. Praias, fazendas, ilhas, cidades... Até aqui, se lembrei direito, foram 13 países, muitas cidades, noites mal dormidas, lugares apaixonantes, sustos, caminhadas intermináveis, barracas alagadas, pés torcidos, paisagens, cheiros e pessoas inesquecíveis. E a riqueza maior: todas as lembranças e conhecimentos surrupiados de todas as andanças estarão sempre aqui, comigo. Por isso, sou grata por todas as chances e oportunidades que tive de pôr o pé na estrada. Dei uma acalmada, mas deixa as contas diminuírem e as crianças crescerem... Enquanto isso, vou quando dá e “viajo” por aqui mesmo. Também sou boa nisso.

O Fernando Pessoa era mesmo um sabidão... “Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...”

Algumas paixões, fora de ordem... Cozinhar, minha família, as palavras (em todas as suas formas), café, dezembro, conversar com quem eu gosto, Weiss, fazer festa, Pilates, massa, seriados, meu mixer da Cuisinart e o Corinthians. Bobinha, eu sei.

Aliás, por falar em Corinthians, adoro futebol. E ao contrário do que alguns homens (e mulheres) pensam sobre as mulheres que gostam de futebol, sim, eu sei o que é um Impedimento; sei que o Dorival Junior SÓ ajudou a ferrar o Palmeiras, que deve cair; sei o que faz um meio-campo, um volante ou um ponta; sei quem é Ribéry, Ibrahimovic ou Schweinsteiger, etc... Esse último, o palavrão, é da gangue dos nossos algozes, mas nem vamos entrar nesse assunto, que é indigesto.

Não gosto do Arnaldo Jabor, nem do Rodrigo Constantino, nem do Fred do Fluminense e nem de goleiro que escolhe o canto antes da cobrança. E cenoura, só como por “obrigação”.

Sempre fui melhor escrevendo do que falando. Sou tímida. Pode acreditar. E irremediavelmente – ou ingenuamente, se preferir – otimista. Nem um pouco adepta ao pensamento reverso quando desejo e espero alguma coisa, como o Enzo tentou me ensinar a ser, um tempo atrás. Pra mim, pensamento reverso só funciona em matemática, na vida não.

Enfim, o que? Uma mulher de 37 anos “em construção”. Com muitas dúvidas, algumas certezas, desajeitadamente intensa, com erros e acertos, coisas pra resolver, tentando, sempre tentando ser o melhor que posso ser, respeitando os meus limites e sim, muito mais complacente comigo mesma. E quer saber? Feliz com o que consegui até aqui.

O que eu quero daqui até os 38???

Tá bem fácil... Só assinar um Beer Pack do Club do Malte; ter mais tempo pra ler; conseguir descascar uma maça inteira ininterruptamente (sabe aquele espiral de casca? Nunca consegui na vida!); ver o Corinthians, mais uma vez, campeão da Libertadores; viajar pra qualquer lugar e ser bem feliz de todo jeito que eu puder. Só isso.

Com amor e gratidão,
Juliana.









10 de setembro de 2014

MÃE CULPADA é pleonasmo???


Pois não deveria ser.

Então, eu também sou dessas. “Das culpadas”. E o clichê que a culpa é inerente às mães é um dos mais verdadeiros que eu conheço. Mas para a minha sanidade e para o bem estar das crianças estou cuidando disso.

E a “alguma culpa” que eu ainda sinto - e é provável que vá sentir sempre - me motivou a escrever aqui, pra redimir, pra dividir, porque também pode servir pra você, outra mãe.

É bom já não sentir a mesma culpa de tempos atrás. Talvez porque os meus filhos já tenham 10 e 13 anos, o que já lhes confere alguma independência e a mim, complacência. Eles dizem que a mãe “é louca”, mas sei que pra eles isso é um elogio, então pra mim também é.

Antes me culparia muito mais quando só consigo sair as 20h do trabalho e chego no fim do dia deles, quase na hora de irem pra cama. Nesse dia, o jantar atrasa e eu me culpo (mas não devia) porque eles já estão “morrendo” de fome e sono, mas fazem questão de me esperar.

Me culpo quando chego cansada e com nenhuma vontade de olhar a tarefa daquele dia.

Me culpei quando tive que tirar a chupeta deles. Achava uma crueldade, necessária. E ouvir aquele choro sofrido me fazia chorar junto, escondida. Mas passou, e rápido.

Me culpei nas vezes que deixei passar a hora certa de dar o remédio. Mas dei depois e eles sararam.

Me culpei por não ter conseguido fazer parto normal, que eu queria muito. E olha aí, a culpa está explícita nessa frase “...por não ter conseguido”. Simplesmente não deu. O fato é que demorei um pouco pra me convencer disso, mas passou.

Me culpo quando acho que eles não estão “se comportanto” como acho que deveriam. Penso: onde estou errando???

Me culpo quando pego eles na escola, almoçamos correndo e quando estou saindo pra voltar ao trabalho, eles perguntam: “Ah mãe, não pode ficar mais um pouco com a gente?”

Enfim, me culpo, ou já me culpei, por muitas outras coisas, mas já deu... É muita culpa pra uma catarse só.

A verdade é que pra mim e pra maioria das mães dos nossos tempos, a razão maior da culpa é o pouco tempo com as crianças. E isso, com o espaço que a mulher assumiu na sociedade, no mercado de trabalho, na parceria com as responsabilidades financeiras da família e em todos os espaços que foi ocupando, é definitivamente irreversível.

E contra toda essa culpa me convenço todos os dias que nenhuma convenção é mais importante do que o nosso entendimento e de que nenhum filho espera uma mãe perfeita. Esperam uma mãe, com tudo que isso implica, uma mãe de verdade. E que pra eles é muito mais vantagem uma mãe satisfeita com seu trabalho, com a sua vida, independente, realizada e feliz, do que uma mãe “sem culpa”, frustrada e infeliz. Eles querem ter a quem se espelhar e de quem se orgulhar. Eu sei, porque comigo foi assim.

Por isso, hoje já não sinto (tanta) culpa de trabalhar o dia todo e deixá-los na escola e em casa; nem culpa de esquecer alguma coisa que me pediram pra trazer naquele dia; nem culpa de atrasar um pouco o jantar ou pra pegá-los na escola; e nem de deixá-los um dia ou uma noite na casa dos avós simplesmente pra sair e me divertir. Aliás, os avós adoram.

Me dei conta que a culpa pode ir sendo substituída por tudo o que é bom na relação com os filhos, pela cumplicidade dos momentos juntos, pela confiança, pelas trocas e pelo o amor. Esse, indiscutível.

Aqui em casa, as regras são claras, mais claras que as do Arnaldo (o Cesar Coelho), mas a diversão e a alegria também são. Com exceção dos finais de semana, eles tem horários certos pra dormir e acordar. Eles tem horário e supervisão pra ficar na internet ou no vídeo-game. Eles não tem facebook, como quase todas as outras crianças e adolescentes da idade deles. Eles não comem miojo. Eles tem que comer verduras, legumes e pelo menos duas frutas por dia, e anotam pra eu chegar no fim do dia e saber quais foram. Eles tem horário pra fazer tarefa e pra brincar. E eles tem bastante tempo pra brincar, o que acho fundamental. Mas isso tudo, são escolhas que fizemos, é a nossa forma de educar. Cada um tem a sua e eu respeito isso, porque as pessoas, os conceitos, as rotinas, as vidas são diferentes, até entre as mães.

E apesar de toda disciplina que temos em casa, porque acho sim que os limites são fundamentais, sei que não sou uma mãe de Manual, nem de comercial de margarina, muito menos perfeita. Às vezes “surto”; às vezes faço as tranqueiras que eles pedem pra comer; às vezes me escapam os palavrões; às vezes esqueço de ler a agenda da escola; às vezes peço pra eles pararem de brigar, “brigando”; já deixei ir dormir sem tomar banho; já deixei almoçar pastel do Bar do Jaime, etc, etc, etc... Me julguem. Eu me desculpo. E eles me amam e respeitam, logo, está tudo no lugar.

No fim, o que importa é que não falta amor e nem limites, não falta respeito, não tem assunto proibido, não falta diversão, nem alegria, nem educação. Aí, a culpa ainda existe, mas fica pequenininha.

É provável que alguns vão concordar, mas certamente, outros vão me julgar, especialmente as mães modelos, que vivem como “os manuais”. Pra essas, eu só tenho uma coisa a dizer: O importante é ser uma mãe de verdade. A nossa culpa e inseguranças também vão pra eles. Não sou, e nem tenho a pretensão de ser, uma mãe nem melhor e nem pior que as outras. Sou só uma mãe. Com TUDO o que isso carrega e significa. Sou uma mãe imperfeita. Mas sou a melhor mãe que eu posso ser. E o que me conforta, é que eu sei que eles sabem disso.

6 de junho de 2014

A Copa e o tal complexo de vira-latas!

Eu estava aqui pensando... Seria bem legal se rolasse um novo Maracanaço, (com resultado invertido óbvio) na final da Copa, hein!? Brasil tá na A e Uruguai tá na D... Pelas chaves é possível né produção??? Pelo time do Uruguai, apesar de Suárez, Forlán e Cavani, acho pouco provável, mas que seria interessante, seria!

Li dia desses que Nelson Rodrigues falou pela primeira vez do tal complexo de vira-latas dos brasileiros em 1958, e foi antes da Copa da Suécia, na qual aliás fomos campeões mundiais pela primeira vez. Depois de amargar por 8 anos aquela derrota contra o Uruguai na grande final de 50 no Maracanã super lotado, esse, o evento que ficou conhecido como Maracanaço, que eu estava falando ali em cima.

No começo do ano pude visitar o Estádio Centenário no Uruguai, onde tem um belo museu do futebol. O estádio está horrível, em péssimas condições, mas o museu é riquíssimo em história do futebol, e reserva um lugar de super destaque para a final da Copa de 50 contra o Brasil. Foi interessante ver isso de perto e como nos vencer foi e é um motivo de grande orgulho para os uruguaios. Alegria bem maior do que Mujica ter liberado a maconha, vai vendo...

Já que esse foi um episódio que ficou engasgado para muitos Brasileiros, seria mais uma oportunidade pra ajudar a superamos o complexo, pelo menos no futebol. Na verdade, ganhar essa Copa será, já que em muitas cabeças, no Brasil nada presta, é tudo uma merda, tudo que é de fora é superior, enfim... Mas prometo que me aterei ao futebol, onde acontece um fenômeno interessante por aqui, contraditório eu diria, porque apesar de sermos um povo apaixonado por futebol (tá, você pode ser exceção!); de termos muitos dos melhores jogadores do mundo; grandes times; grandes estádios, ainda veneramos o futebol de fora, especialmente o Europeu, e por que? Porque eles são europeus oras, porque são mais organizados, porque eles tem Ribery (que aliás vai desfalcar a França segundo eu soube hoje), Cristiano Ronaldo, Iniesta e outros... Ah, e a grama mais verde, como sempre é a do vizinho. Ah vá!!!

Nem o fato de sermos pentacampeões, a nação que mais ganhou os mundiais na história das Copas, não minimizou o nosso complexo de vira latas. Sempre temos a necessidade de provar pro mundo que podemos ser bons, pelo menos no futebol. E de fato, somos. Se eles têm aqueles caras que eu citei ali em cima, nós tivemos Pelé, Garrincha, Rivelino, Jairzinho, Zico, Romario, Ronaldo... Temos Neymar, David Luis, Tiago Silva e tantos outros, e ainda assim damos pouco valor, e ficamos embasbacados com o futebol deles. Um complexo de inferioridade difícil de entender.

Também acho que a Copa não deve "disfarçar" todos os nossos problemas, e nem que devamos deixar de criticar ou cobrar o que ou quem quer que seja. Só acho que é possível separar as coisas. Você pode torcer pela sua seleção como sempre fez, e continuar exercendo os seus direitos e deveres de cidadão, cobrando, protestando. Meta o pau de verde e amarelo porra! Ou você esquece que o Brasil somos nós, também.

A quem possa interessar, da minha parte é o seguinte: sou apaixonada por futebol, vou assistir a todos os jogos da Copa que eu puder, vou vestir verde amarelo, assoprar a vuvuzela (Ahhh, não tem vuvuzela aqui???), torcer muito para a seleção brasileira, assim como torço sempre a favor do Brasil.

Enfim, eu só tenho uma vida, então é nessa que eu arrumo espaço pra me divertir e ser feliz, e não só amargar descontentamento e decepções. Agora já podem me julgar, afinal, é isso que fazemos o tempo todo.

Boa Copa pra você também. Porque sim, #vaitercopa! E festa junina também, e protestos também... O Brasil é grande, cabe tudo.

27 de maio de 2014

A Copa e a Raiva

Vou começar justificando o título, se bem que acho desnecessário pra quem chegar ao final do texto, mas... O que motivou essa catarse são algumas (muitas) manifestações que tenho visto nas redes sociais, especialmente o facebook, de amigos, conhecidos e estranhos, que tem me inquietado. E há dias estou com vontade de escrever sobre isso. Como já experimentei vários tipos de sentimentos em reação as coisas que tenho lido, achei melhor segurar a onda, e tentar entender melhor esse fenômeno antes de dar os meus pitacos, que aliás, são realmente só pitacos. Não espere nenhuma análise profunda, não tenho erudição sociológica pra isso, mas acho que tenho um pouco de sensibilidade (acho!), além da curiosidade e boa vontade para buscar informação, e ouvir e partilhar opinião.

Pensando em todo mundo que adotou efusivamente a hashtag “#naovaitercopa” e sai por aí compartilhando tudo o que é informação e fotos-montagens (das mais toscas) que aparecem, sem nenhum critério ou cuidado, pra mim, quem faz isso, a não ser que seja uma piada muito boa, vai de desinformado à mal intencionado. O negócio é curtir e compartilhar informações contra alguém ou alguma coisa, nesse caso específico, contra a realização da Copa no Brasil e contra o governo. A impressão que dá é que funciona assim: É esquerda, é governo, é Brasil, é político? Então vamos descer o pau!

Afinal, vai ou não vai ter Copa?

Sabemos que sim. Objetivamente falando, vai ter Copa porque o Brasil se candidatou e a FIFA formalizou a escolha há quase sete anos, e que eu me lembre, isso foi muito comemorado no país do futebol. Subjetivamente falando... E no coração e na cabeça dos brasileiros, vai ter Copa? Sabemos que sim, também. Porque apesar de todos os protestos e ameaças, o amor do brasileiro pelo futebol é proporcional à sua indignação com tudo o que está errado no país. Acho mesmo que quando a seleção brasileira entrar em campo, a emoção vai tomar conta e por um momento vamos esquecer a mulher linchada em praça pública, o menino que morreu na fila do hospital e todas as outras desgraças que infelizmente fazem parte da nossa rotina. Então quer dizer que o futebol é mesmo “o ópio do povo”? Pode ser. Um deles, eu diria. Mas já falei aqui, que acho mesmo que todo mundo precisa de um pouco. Hipócrita quem disser que não tem nenhum.

Apesar de todas as nossas mazelas, não consigo entender quando leio “Nesse país está tudo uma merda!” ou “Tenho vergonha de ser brasileiro!” ou “Políticos são todos iguais, só roubam e querem que o povo se foda!” ou “O Brasil não tem jeito, melhor jogar uma bomba!” ou “Inacreditável, construir tantos estádios e gente morrendo nas filas!” e por aí vai... São compreensíveis todas as nossas manifestações cobrando os deveres “deles” e os nossos direitos, especialmente se elas viessem de quem sente as maiores privações. Mas simplesmente não consigo acreditar que todo esse ressentimento e essa forma raivosa de manifestar opinião, essas, que vem dos nossos Iphones parcelados, sejam um surto de solidariedade absoluta aos menos favorecidos. Acho, na verdade, que a preocupação da maioria é individualista, isso quando não é “embalo”, já que acredito ser impossível, pra nós, sentirmos verdadeiramente as privações pela logica de quem as sofre. Acho confortável e conveniente, pra quem não morre na fila, tem plano de saúde, mesa farta, escola boa, trabalho, dinheiro pra cerveja e pro churrasquinho do fim de semana, simplesmente engrossar o coro e jogar a merda no ventilador. E aí??? Que porra você está fazendo além de destilar seu ódio pelo Brasil e pela Copa no facebook?

Não, não me contrataram como advogada, e não, eu não acho que esteja tudo bem e tudo certo, e nem que temos que varrer a sujeira pra debaixo do tapete. Muito pelo contrário, acho que o direito de manifestar opinião, seja pelo FB ou no boteco com os amigos foi conquistado a duras penas, e deve ser preservado. Já que o pensamento contraditório, pra quem sabe ouvir é claro, nos ajuda a evoluir sempre, ou ao menos deveria. O que eu questiono é a forma irresponsável e raivosa como algumas pessoas fazem isso. Fica a impressão que não estão apenas criticando, estão ao mesmo tempo, torcendo contra.

No caso da Copa, que afinal, é também sobre o que eu vim falar, compraram a ideia do #naovaitercopa e a reproduzem sem nenhuma critica ou busca de informação. É claro que também me incomoda profundamente o fato de assistir grandes estádios sendo erguidos e ao mesmo tempo assistir a reportagem do Fantástico de um levantamento do TCU sobre a realidade dos hospitais no país; ou a informação do superfaturamento, ou a má gestão na construção ou reforma dos estádios; ou em como ficou a vida dos familiares daqueles operários que morreram nas obras (para esses sim, não vai ter Copa!). Por outro lado, ninguém quer saber se o dinheiro que financia (sim, porque é financiamento e não repasse) as obras dos Estádios, por exemplo, é empréstimo do BNDES e deverá ser devolvido aos cofres públicos; e nem que as obras de infraestrutura e mobilidade, apesar dos atrasos (que sim, mostram a ineficiência da gestão pública), ficarão para a população, enfim, pra que ter essas informações, se o negócio é meter o pau pura e simplesmente? No fundo acho que o que me incomoda é essa visão maniqueísta que a maioria das pessoas tem, de enxergar só um lado nas coisas, normalmente o seu, claro. Ficam cegas nas suas convicções ou preferências ideológicas, e não conseguem avaliar a realidade dos fatos, com os seus prós e contras. Mais fácil assim, concordo.

Sei que já está ficando desgastado o discurso de que a sociedade está ficando chata, conservadora e retrocedendo em muitos aspectos, mas a verdade é que quando vejo as posturas e posições, de algumas pessoas nas redes sociais, fazendo criticas contundentes à esquerda, com e sem razão, o que me incomoda não são as criticas (que muitas vezes procedem), o que me incomoda é a falta de informação sobre o assunto e tanto ódio. Especialmente os mais jovens, que acham que viraram os arautos da família e dos bons costumes. Ahãm... Mas tudo se encaixa quando me dou conta de quem são a maioria das pessoas que emitem essas opiniões. São geralmente jovens que “nasceram bem”, que estudaram, viajaram, frequentam lugares legais com gente bacana (uhull!!!), e que agora entraram na nova onda de que ser “neoconservador” e criticar a esquerda, o governo, o país e a Copa é “cool”.

Me perdoe se você também é um critico voraz e não se encaixa nesse perfil. Se for o seu caso, não está (ou não deveria estar) preocupado com o que estou dizendo. Já que como eu, deve ter tido essas mesmas oportunidades, ou parecidas, mas uma educação que não foi pautada em radicalismos, conservadorismos e preconceitos, ou seja, muitas dessas pessoas estão simplesmente exercendo a essência da sua origem, o que também não é uma boa desculpa.

Temos todo o direito de achar que o sistema político brasileiro está falido, ineficiente e corrompido, pois infelizmente muitos dos nossos representantes nos deram motivos pra pensar assim. E por isso desejamos tanto a reforma política. Assim mesmo - pode me chamar de ingênua - mas pra mim não são todos iguais, burra são as generalizações. Ou vai me dizer que se tem aquele tranqueira filha da puta na sua família, a família inteira não presta? Enfim, pra você que acha que a solução final é jogar uma bomba no Congresso, tenho uma má notícia, de onde saíram aqueles que estão lá, sairão muitos outros, ou esqueceu que eles saem do nosso meio? Se ainda assim, você acredita que não há opção, e nenhuma escolha a fazer, esse ano terá mais uma chance de mostrar toda a sua revolta facebuquiana, nas urnas. Anule seu voto.

Os meus desejos (especialmente pra você que eu gosto): mais argumentos e menos revolta; mais atitude e menos ressentimento; mais conteúdo e menos hipocrisia. Agora, se o seu ódio e indignação forem muito muito muito grandes, insuperáveis, o meu desejo é que você venda seu carro, seu smartphone e sua geladeira, faça as trouxas e vá morar na Dinamarca. Quem sabe lá consiga resolver toda essa amargura e insatisfação.

Ah tenho mais desejos... Que o Neymar, o Fred, o Bernardo e quem mais quiser façam muitos gols. Que ninguém passe pelo Thiago Silva. Que o Julio Cesar pense na Suzana Werner e agarre todas. Que a Copa aconteça na paz, mesmo com os protestos, que de algumas partes são e serão legítimos. Que o Paulinho faça um gol lindo de voleio. E que sejamos hexacampeões. Tá convidado pro churrasco.

A propósito, você aí do #naovaitercopa que troca figurinhas de domingo no Shangri-lá, tem a 214??? O Enzo está precisando muito!

20 de janeiro de 2014

Não está tudo fudido, não! Só a auto-estima do brasileiro.

Uma das coisas que me impressionaram na viagem a Buenos Aires é a auto-estima dos argentinos. A fama é conhecida, mas agora “experimentei” de perto. Uma auto-estima que beira a arrogância, às vezes. Mas só um país com boa auto-estima consegue manter viva e bem preservada tanta história, através de seus monumentos, prédios, praças, ruas e principalmente da sua gente. Não é a toa que Buenos Aires não pára de crescer como um grande destino turístico, e sagrou-se a “capital europeia” da América Latina, o que já não dá lá muito crédito, considerando a situação atual de muitas capitais europeias (mas isso é outro assunto, voltemos...). E isso tudo apesar dos imensos problemas sociais e econômicos que enfrentam e conhecemos bem. Aliás, enfrentam mesmo, vão pra rua, lutam pelos seus direitos, ocupam os espaços públicos, brigam, esculacham o governo, mas me parece não perderem nunca o sentido de pertencimento àquela pátria, e a defendem acima de tudo. O que é bem diferente do complexo de inferioridade e a “raiva”, eu me arrisco a dizer, que desenvolvemos no Brasil pelo Brasil, ao longo da nossa história.

Pois é... Comecei com a Argentina, mas quero mesmo é falar de nós, brasileiros. Motivada pela vontade de entender o que realmente passa na cabeça das pessoas que só achincalham o Brasil, mas nem por isso planejam ir morar em Zurique ou Copenhague. Basta “passar um pano” no Facebook e vai entender o que quero dizer. Pra mim, por enquanto, uma certeza: Somos um povo contraditório. Somo alegres, festeiros, empreendedores e temos fama de cordiais. E ao mesmo tempo tratamos mal a nossa própria gente e o nosso próprio país.

Tem gente que é implacável nas críticas contra o Brasil.  E que prontamente reproduz qualquer informação ruim, mesmo sem ter certeza da veracidade, xinga, critica, esculhamba. Agora, quando ouve uma notícia boa, não dá valor. Pelo contrário, logo pensa, ou pior, diz: “ah, isso aí é mentira, informação plantada por esse bando de políticos filhos da puta”. Isso pode ser verdade? Claro, e infelizmente. Mas mesmo quando a notícia é séria, divulgada por Institutos e pessoas sérias tem gente que faz questão de achincalhar. E muitas vezes, simplesmente por ter uma postura ideológica diferente, ou por ignorância ou mau caratismo mesmo. A verdade é que as pessoas confundem Nação com Governo. Ninguém é obrigado a gostar de quem está no governo, mas isso não é a mesma coisa que torcer sempre contra o seu país.

É claro que temos muitos motivos para nos indignar e decepcionar com acontecimentos que ocorreram e ocorrem em nosso país. É claro que a realidade esfregada na nossa cara diariamente, como as desigualdades sociais; a decepção com muitos dos nossos representantes políticos; todos os tipos de preconceitos; nossas taxas de analfabetismo; a violência; enfim, nada disso é capaz de provocar um sentimento ufanista. Mas daí a repetir incansavelmente frases como: “ O Brasil não tem jeito mesmo”; “Eita paizinho de merda”; e outras coisas do tipo tem uma larga diferença, e uma boa dose de má vontade. Diante disso, me resta acreditar na constatação de que nós brasileiros (ou uma boa parcela de nós) temos uma péssima auto-estima. O que pode não ocorrer com você pessoalmente, mas como povo, como sociedade, como país, sim.

E penso também que a auto-estima de um povo não depende só do desenvolvimento social, econômico e cultural do seu país. Depende também da postura das pessoas diante da vida. De ter uma visão otimista e positiva do futuro, e mais do que isso, de fazer a sua parte, de buscar as transformações. Agora é a hora que você vai pensar: essa coisa de cada um fazer a sua parte soa como um velho “clichezão”. Pois é, e nem assim...

Somos um país rico em gente. Isso é muito bom, e ao mesmo tempo um problema. Porque temos todo tipo de gente. Gente demasiadamente burocrática. Gente demasiadamente egoísta. Gente demasiadamente sonhadora e idealista. Gente demasiadamente acomodada. Gente demasiadamente capitalista. Gente demasiadamente insatisfeita. Gente demasiadamente irônica. Gente demasiadamente critica. Gente demasiadamente alienada. Gente demasiadamente ignorante. Gente demasiadamente trabalhadora. Gente demasiadamente vagabunda. Gente demasiadamente arrogante. E ainda temos gente demasiadamente com fome, sem educação e sem saúde. E também gente letrada, e ainda assim ignorante. Todo o tipo de gente. E todo tipo de gente misturados também dentro da gente. Ainda assim, quero acreditar que somos - e seremos sempre - gente capaz de absorver e lidar com tantas contradições.

Será mesmo que o Brasil não tem jeito? Será mesmo que somos bons apenas em samba e futebol? Será que não estamos acomodados demais no pensamento que “já fudeu mesmo”? Será que nos sentiremos o resto da vida a colônia coitada e desvirginada por Portugal?

Por que não somos capazes de no dia a dia dar o mesmo “show de civismo” que damos  ao torcer pela Seleção  Brasileira de Futebol?  Estamos nos preparando pra fazer isso na Copa do Mundo, que será “nossa”. Isso é uma outra coisa que eu gostaria de entender. Lá entoamos o hino, nos emocionamos, gritamos pela seleção. E é futebol. Depois reclamamos que nos conhecem apenas pelo futebol, o carnaval, as mulatas e os macacos da Amazônia.

Quero dizer que não tenho nada contra o futebol, ou torcer pela seleção. Adoro futebol e também vou torcer pela seleção. E sobre o que dizem as más línguas, que futebol é um dos ópios do povo, só tenho uma coisa a dizer: que seja! Um pouco de ópio no meio de tanta realidade não faz mal a ninguém.

Respondendo o que perguntei ali em cima: Sim, pra mim, o Brasil tem jeito. E o jeito é a gente que começa a dar. Cada um de nós.

Não tenho nenhuma intensão de ter um discurso nacionalista ou ingênuo. Eu simplesmente não entendo quem tem vocação para passar a vida amargurando coisas ruins. Ou quem passa a vida reclamando de tudo, com e sem razão. E se pensarmos que podemos morrer amanhã, atropelados por uma jamanta, ou de qualquer outra maneira, pode ficar mais fácil superar tanta amargura e tentar buscar felicidade em todos os momentos. Sem drama, mas é isso. Com relação ao Brasil e tudo o que acontece nele, a ideia não é se acomodar e aceitar. A ideia é se posicionar sempre, brigar pelo o que acredita, criticar o que está errado, mas sem deixar de reconhecer o valor que temos e tudo que já conquistamos nos (ainda breves) quinhentos e poucos anos de vida.

Meu desejo: Que consigamos superar esse teimoso complexo colonial e passemos a enxergar também o que temos de bom, e agora, eu não estou falando de futebol, carnaval e mulher bonita, não. Eu estou falando de gente valorosa, de recursos naturais abundantes e exuberantes; de um país que vem conquistando espaço e respeito no mundo, apesar de toda torcida contra.

Para acabar, tudo isso é pra dizer que apesar dos pesares, daqui eu não saio, nem pra Dinamarca. Ah, e pra dizer também que muita amargura faz mal para o fígado e para alma.






26 de novembro de 2013

Em breve, 36! Posso dizer que até aqui, gostei do que vi.


Há uma semana de completá-los, tenho pensado muito em tudo o que tem acontecido na minha vida, e em tudo o que implica trocar de idade. Na verdade, no número de anos em si, quase nada. Agora, o tempo é realmente implacável, para o bem e para o mal. Tenho refletido sobre os 36 anos, como em nenhuma outra idade. Sintomático? Não sei. Pra você que tem mais, deve ser engraçado ler, pra você que tem menos, deve estar achando que vai demorar a chegar (ledo engano!). Mas esse é o momento que eu vivo, e resolvi dividir minhas percepções e considerações sobre ele. Que, aliás, ficaram muito mais longas do que eu esperava, culpa dessa minha mania de escrever demais. Concisão e objetividade ZERO, mas só pra escrever. E sim, o primeiro parágrafo foi o último, como sempre fiz com as minhas redações e às vezes, com a minha vida, começar do final.

Não sinto vontade de ter 20 ou 25 anos, mesmo porque, digo que terei sempre 18, mas principalmente, porque me sinto bem melhor hoje do que aos 20, em todos os aspectos.

Várias descobertas até aqui. Descobri que depois dos 30 as mulheres são mais honestas e diretas, e que isso é muito bom. Que continuo adorando ler. Que tomo muito café, e gosto. Que quanto mais descabelada melhor. Que é ótimo ser dona das minhas decisões e escolhas. Que ainda tenho muito o que aprender. Que no fundo, continuo com a mesma timidez (tem gente que não acredita nela), que me acompanhou a vida toda. Que definitivamente, não se pode ter tudo o que se quer. Que ser absolutamente honesta com os seus próprios sentimentos te faz uma pessoa melhor. Que não dá pra ser só feliz, algum sofrimento faz parte. E que a “maturidade” permite uma certa loucura, já que as condições para lidar com os possíveis "BOs" são melhores.

Aprendi também que maturidade, não se traduz em “ganhar” cada vez mais anos, ela é conquistada através da curiosidade, da informação, da teimosia, da coragem, do conhecimento, da segurança... Ficar mais velha é só a parte ruim de todo o resto, que é bom.

Me conheço muito melhor hoje, conheço meus limites, mas às vezes ainda os ultrapasso. Mas não sou mais tão complacente com os meus defeitos. Os reconheço: teimosa, impulsiva, indisciplinada com algumas coisas, ansiosa, controladora (esse último vai pra conta do Márcio, não acho que seja...
J). Devo ter muitos outros, mas não sou eu que vou revelá-los. Apesar de cabeça dura, tento melhorar sempre.

Concluí também que pintar o cabelo uma vez por mês para esconder os brancos, a barriga mais saliente do que eu gostaria, as celulites, as ruguinhas que começam a aparecer, entre outras coisas indesejáveis, até que é um preço honesto pelo o que eu ganhei até aqui. “Não há parto sem dor”.

Estou aprendendo a não chorar pelo que passou, ou pelo o que não é como eu gostaria, ou chorar pouco e baixo. E apesar de ainda chorar, sempre prefiro rir.

Falo sempre o que penso, sem vergonha, sem melindres e sem pudores. Em alguns momentos falo demais, não em quantidade, mas em “conteúdo”, e às vezes, não da forma mais apropriada, mas é sempre a verdade. A minha, claro. Apesar disso, aprendi a ouvir mais do que falar, mesmo ouvindo muita asneira de vez em quando. Nesse caso, abstrair é a palavra.

Valorizo meus amigos e amigas com toda a força do meu coração, os velhos e os novos, cada dia mais. Apesar disso, muitas vezes, sou relapsa com todos eles e por isso usarei a justificativa mais clichê e verdadeira que existe: o tempo e a distância (e a displicência) não são capazes de abalar uma amizade verdadeira.

Percebi que preciso cuidar mais de mim, da minha saúde e do meu corpo. O que está me custando tempo, energia e dinheiro. Pode valer à pena, mas demora.

Estou controlando melhor o “sentido de urgência” que tenho quando quero alguma coisa. Isso ainda não está resolvido. Still working...

Aprendi que generosidade, gentileza e gratidão deveriam ser obrigações. E as chatices verdadeiras, abolidas. Exercito sempre.

Percebi que sou uma mãe apaixonada, dedicada e imperfeita. Como todas as outras.

Gosto do meu senso de humor e da minha verve rock n’ roll. Gosto de falar besteira, mas também de conversar sério (só às vezes). Aprendi a receber elogios sem ficar tão desconcertada, mas ainda não reajo direito a eles. Gosto de fazer feliz as pessoas que eu amo, mesmo sabendo que nem sempre isso é possível.

Não sei exatamente como deve se comportar uma mulher de 36 anos. Mas confesso que isso não é uma grande preocupação. Prefiro ser de verdade. Só sei que gostei muito de aprender a dizer não; de não me preocupar, essencialmente, com o que as pessoas pensam, apenas respeitá-las; de me sentir mais segura diante de tudo; de me permitir dizer um foda-se bem grande quando necessário (recorrentíssimo!); de ter mais coragem; de ser intensa; de não guardar sentimentos (nem os bons e nem os ruins); e de jamais deixar de viver ou dizer qualquer coisa por orgulho. Isso trava e entristece a vida.

O que mudou? Além de tudo dito ai em cima, só a quantidade de cremes utilizados (um saco, mas necessários); a consciência de que não é mais possível ficar sem alguma atividade física (maldito Isaac Newton!), e a percepção de que não preciso de muito para ser feliz. Apenas de amor, família, amigos, um pouquinho de inteligência, uma cerveja de vez em quando, um pouco de paciência e bom humor... Não falei que era pouco?!

Apesar de não ser muito simpática a aforismos, alguns me descrevem e divertem. Minhas frases para hoje: “Quem não me entende, não me conhece” e “Se um dia a vida me der as costas, passo a mão na bunda dela”. (Betão feelings!)

A música tema para o momento é um samba do Cartola, a mesma dos últimos aniversários: “A sorrir, eu pretendo levar a vida, pois, chorando eu vi a mocidade perdida...”.

Posso dizer, enfim, que até aqui, gostei do que vi.

Fim.

E começo... Começo de um novo ano de vida. Tenho várias resoluções para ele, mas essas, são só minhas.

P.S. Grata pela paciência de quem chegou até aqui.