26 de novembro de 2013

Em breve, 36! Posso dizer que até aqui, gostei do que vi.


Há uma semana de completá-los, tenho pensado muito em tudo o que tem acontecido na minha vida, e em tudo o que implica trocar de idade. Na verdade, no número de anos em si, quase nada. Agora, o tempo é realmente implacável, para o bem e para o mal. Tenho refletido sobre os 36 anos, como em nenhuma outra idade. Sintomático? Não sei. Pra você que tem mais, deve ser engraçado ler, pra você que tem menos, deve estar achando que vai demorar a chegar (ledo engano!). Mas esse é o momento que eu vivo, e resolvi dividir minhas percepções e considerações sobre ele. Que, aliás, ficaram muito mais longas do que eu esperava, culpa dessa minha mania de escrever demais. Concisão e objetividade ZERO, mas só pra escrever. E sim, o primeiro parágrafo foi o último, como sempre fiz com as minhas redações e às vezes, com a minha vida, começar do final.

Não sinto vontade de ter 20 ou 25 anos, mesmo porque, digo que terei sempre 18, mas principalmente, porque me sinto bem melhor hoje do que aos 20, em todos os aspectos.

Várias descobertas até aqui. Descobri que depois dos 30 as mulheres são mais honestas e diretas, e que isso é muito bom. Que continuo adorando ler. Que tomo muito café, e gosto. Que quanto mais descabelada melhor. Que é ótimo ser dona das minhas decisões e escolhas. Que ainda tenho muito o que aprender. Que no fundo, continuo com a mesma timidez (tem gente que não acredita nela), que me acompanhou a vida toda. Que definitivamente, não se pode ter tudo o que se quer. Que ser absolutamente honesta com os seus próprios sentimentos te faz uma pessoa melhor. Que não dá pra ser só feliz, algum sofrimento faz parte. E que a “maturidade” permite uma certa loucura, já que as condições para lidar com os possíveis "BOs" são melhores.

Aprendi também que maturidade, não se traduz em “ganhar” cada vez mais anos, ela é conquistada através da curiosidade, da informação, da teimosia, da coragem, do conhecimento, da segurança... Ficar mais velha é só a parte ruim de todo o resto, que é bom.

Me conheço muito melhor hoje, conheço meus limites, mas às vezes ainda os ultrapasso. Mas não sou mais tão complacente com os meus defeitos. Os reconheço: teimosa, impulsiva, indisciplinada com algumas coisas, ansiosa, controladora (esse último vai pra conta do Márcio, não acho que seja...
J). Devo ter muitos outros, mas não sou eu que vou revelá-los. Apesar de cabeça dura, tento melhorar sempre.

Concluí também que pintar o cabelo uma vez por mês para esconder os brancos, a barriga mais saliente do que eu gostaria, as celulites, as ruguinhas que começam a aparecer, entre outras coisas indesejáveis, até que é um preço honesto pelo o que eu ganhei até aqui. “Não há parto sem dor”.

Estou aprendendo a não chorar pelo que passou, ou pelo o que não é como eu gostaria, ou chorar pouco e baixo. E apesar de ainda chorar, sempre prefiro rir.

Falo sempre o que penso, sem vergonha, sem melindres e sem pudores. Em alguns momentos falo demais, não em quantidade, mas em “conteúdo”, e às vezes, não da forma mais apropriada, mas é sempre a verdade. A minha, claro. Apesar disso, aprendi a ouvir mais do que falar, mesmo ouvindo muita asneira de vez em quando. Nesse caso, abstrair é a palavra.

Valorizo meus amigos e amigas com toda a força do meu coração, os velhos e os novos, cada dia mais. Apesar disso, muitas vezes, sou relapsa com todos eles e por isso usarei a justificativa mais clichê e verdadeira que existe: o tempo e a distância (e a displicência) não são capazes de abalar uma amizade verdadeira.

Percebi que preciso cuidar mais de mim, da minha saúde e do meu corpo. O que está me custando tempo, energia e dinheiro. Pode valer à pena, mas demora.

Estou controlando melhor o “sentido de urgência” que tenho quando quero alguma coisa. Isso ainda não está resolvido. Still working...

Aprendi que generosidade, gentileza e gratidão deveriam ser obrigações. E as chatices verdadeiras, abolidas. Exercito sempre.

Percebi que sou uma mãe apaixonada, dedicada e imperfeita. Como todas as outras.

Gosto do meu senso de humor e da minha verve rock n’ roll. Gosto de falar besteira, mas também de conversar sério (só às vezes). Aprendi a receber elogios sem ficar tão desconcertada, mas ainda não reajo direito a eles. Gosto de fazer feliz as pessoas que eu amo, mesmo sabendo que nem sempre isso é possível.

Não sei exatamente como deve se comportar uma mulher de 36 anos. Mas confesso que isso não é uma grande preocupação. Prefiro ser de verdade. Só sei que gostei muito de aprender a dizer não; de não me preocupar, essencialmente, com o que as pessoas pensam, apenas respeitá-las; de me sentir mais segura diante de tudo; de me permitir dizer um foda-se bem grande quando necessário (recorrentíssimo!); de ter mais coragem; de ser intensa; de não guardar sentimentos (nem os bons e nem os ruins); e de jamais deixar de viver ou dizer qualquer coisa por orgulho. Isso trava e entristece a vida.

O que mudou? Além de tudo dito ai em cima, só a quantidade de cremes utilizados (um saco, mas necessários); a consciência de que não é mais possível ficar sem alguma atividade física (maldito Isaac Newton!), e a percepção de que não preciso de muito para ser feliz. Apenas de amor, família, amigos, um pouquinho de inteligência, uma cerveja de vez em quando, um pouco de paciência e bom humor... Não falei que era pouco?!

Apesar de não ser muito simpática a aforismos, alguns me descrevem e divertem. Minhas frases para hoje: “Quem não me entende, não me conhece” e “Se um dia a vida me der as costas, passo a mão na bunda dela”. (Betão feelings!)

A música tema para o momento é um samba do Cartola, a mesma dos últimos aniversários: “A sorrir, eu pretendo levar a vida, pois, chorando eu vi a mocidade perdida...”.

Posso dizer, enfim, que até aqui, gostei do que vi.

Fim.

E começo... Começo de um novo ano de vida. Tenho várias resoluções para ele, mas essas, são só minhas.

P.S. Grata pela paciência de quem chegou até aqui.

21 de novembro de 2013

Que cor é a sua consciência?


Hoje é o Dia da Consciência Negra, e desde ontem, lendo muitos posicionamentos na rede e na imprensa, de todos os tipos, fiquei pensando sobre o significado desse dia, e mais ainda sobre os motivos. 

Vou partilhar algumas reflexões, deixando claro que não sou nem negra e nem antropóloga, portanto, falarei com a propriedade de uma cidadã que se indigna, que não gosta de ficar quieta, e que é uma branca tão negra quanto branca, é brasileira, e teve "sorte", porque ensinaram pra ela desde criança que somos todos iguais, todos gente.

Pra começar, é claro que sabemos que no Brasil, ao contrário do que muita gente insiste em apregoar, não existe democracia racial porra nenhuma.

Se houvesse, o sistema de cotas não seria necessário; 73% dos beneficiários do Bolsa Família não seriam negros; você não atravessaria a rua a noite se visse um “negão” na mão contrária; os presídios não estariam abarrotados da maioria negra; os meus filhos não conheceriam apenas um negro (o menino do 7 ano) na escola em que estudam; as taxas mais elevadas de analfabetismo e mortalidade infantil não seriam privilégio dos negros, enfim, são muitos os exemplos possíveis, que demonstram a desigualdade, a segregação, o preconceito.

Aliás, outra coisa que me ocorreu, e que também já estamos cansados de saber, é que o preconceito antes de ser racial é social. Sim, porque tem o Pelé, o Joaquim Barbosa, o Gilberto Gil, e outros poucos, menos famosos, mas que conseguiram ser juízes, médicos, esportistas, ricos e conhecidos. Aí, tudo bem, ele é negro, mas tem dinheiro, status, “agrega valor” ao camarote. Neste caso, até dá pra forjar uma igualdade hipócrita e nojenta. Agora, irmão, se você nasceu preto E pobre, e não deu sorte, você tá fudido!

Tem Negro filho da puta? Ô se tem. Muitos. Assim como tem Branco filho da puta, Japonês filho da puta... Pensando bem, será que tem japonês filho da puta? É que eu não conheço nenhum...

Enfim, não estou dizendo que os negros são bonzinhos e coitadinhos, pelo contrário, me incomoda quando, apesar de toda história, vejo discursos de negros que padecem de um profundo complexo de inferioridade, quando na realidade, tem todas as justificativas e motivações para reagir contra a discriminação, radicalmente se for o caso. E hoje, não estão sozinhos. Estão organizados em muitos movimentos, contam com a lei e contam, pasmem, com os brancos. Sim, os brancos que são tão negros quanto brancos. Os Brancos que entendem o que é o Brasil, e mais do que isso, o que é o ser humano, o que é a vida.

Como o racismo no Brasil é crime inafiançável e, além disso, é “fora de moda”, é politicamente incorreto, os brancos que não são tão negros quanto brancos, são só brancos, se esforçam para disfarçá-lo. Vez ou outra ele aparece publicamente, no menino que foi enxotado da loja por acharem que era trombadinha, e era só o filho adotado do casal; no jogador de futebol que fez uma lambança e é chamado de macaco; no jovem que foi a padaria na esquina de casa, sem documentos, e foi levado para averiguação... Motivo? Além de ser negro? Não se sabe... Ok, esses episódios são eventuais, porque o racismo no Brasil não é escancarado, a sociedade não admite ser racista ou preconceituosa. E aí, ele acontece nas sutilezas do dia a dia, que sabemos, mas não sou capaz de expressar, apenas de imaginar, só quem é negro pode. Talvez uma frase da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, ilustre o que eu quero dizer: “Quem quer saber o que é ser negro, seja negro por apenas 48 horas”.

É claro que muita coisa mudou, desde que os portugueses trouxeram os primeiros negros para o Brasil e os escravizaram. Tivemos avanços. Os negros conquistaram a “liberdade” com a abolição da escravatura, e então, começaram uma luta árdua e permanente para uma participação legítima e igual na sociedade. E aí? Levanta a mão quem acha que os negros conquistaram uma participação legítima e igual na sociedade? Não. De lá pra cá, eles sempre foram colocados em condição de inferioridade, sendo explorados e oprimidos. E sejamos honestos, o artigo 3 da Constituição Federal está bem longe de ser absolutamente cumprido.

Meu desejo, e sei que é o de muita gente também: Que o racismo que está impregnado na cabeça e no coração das pessoas, que sabemos que é cultural, histórico, mas assim mesmo, injustificável, dê lugar a consciência de que sangue negro corre nas nossas veias, e de que é insano pensar que alguém possa ser superior ao outro pela cor da pele. Que qualquer resquício de preconceito, dê lugar a consciência de que branco, negro, amarelo ou pardo, é tudo gente. 

E salve o Zumbi dos Palmares!

14 de novembro de 2013

FODA-SE o camarote! Carta ao Enzo.

Papo reto com meu filho, Enzo.

Uma carta que escrevi, motivada pela minha indignação ao assistir ao vídeo do “Rei do Camarote” (segue o link abaixo para quem ainda não viu e tiver curiosidade). Já falaram que é verdade, já falaram que é fake, enfim... O que importa é que idiotas como esse ainda nascem todos os dias. Por isso, aproveito o embalo para dar alguns conselhos para o meu filho. Ele não vai lê-la agora, ele só tem 10 anos. Vou esperar que a sua capacidade de compreensão alcance tudo o que isso significa, e que ele tenha idade para frequentar camarotes ou o Bar do Jaime. Voto na segunda opção, fácil!

Vídeo-piada:

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Ao meu filho, Enzo. Sobre os Reis dos Camarotes.

Meu filho, além de ensiná-lo como eu acredito que deva ser a vida; além de ensiná-lo a escovar os dentes direito; além de ensiná-lo a importância da leitura; além de ensiná-lo a respeitar o porteiro, a professora e até os Reis dos Camarotes... Te peço, fique longe deles, dos Reis dos Camarotes. Eles não tem nada a oferecer, além da imagem, da ostentação, do papo mais idiota que já ouvi, do completo desrespeito pelas mulheres e das champanhes estreladas... Se é pra piscar, lembra daquela musiquinha: “pisca o cu e balança o saco!”.

Meu filho, ao contrário do que os Reis dos Camarotes pensam, homens para serem interessantes e atraentes, para mulheres que valham a pena, não precisam de Ferraris, Chandons, seguranças, camisas Gucci ou o cacete a quatro. Precisam de alguma inteligência, de jeans e camiseta, de papo bom, de senso de humor e de atenção e respeito com as mulheres.

Meu filho, nunca saia por aí dizendo quem comeu no banheiro da balada, mesmo que não for casar com ela. Por dois motivos. Porque as suas aventuras sexuais não interessam a ninguém, e porque homens que detonam qualquer mulher depois de transar com ela, seja ela quem for, são inqualificáveis, eu diria. E quando é mentira então... Como parece o caso do tal rei do camarote, ou alguém acredita que ele realmente comeu alguém no banheiro da balada???  Putz, aí são passíveis de pena mesmo! Aliás, meu filho, banheiros de baladas costumam ser bem sujos, escolha melhor... Bom, deixa pra lá!

Meu filho, não é de hoje que os homens procuram (a priori) as mulheres bonitas. Mas ouça uma coisa importante: Fuja das mulheres lindas e sem nada dentro, essas não valem a pena, e podem ser bem chatas. Por aí está cheio de mulheres lindas, pensantes e cheias de vida, essas valem a pena. Há também as não tão lindas, mas de tão pensantes são as mais interessantes e ficam lindas, essas também valem a pena. As só lindas enfeitam e iluminam camarotes, as outras, podem iluminar a sua vida. O salto alto e a beleza, sozinhos, podem resolver o “problema” do sexo, bom também. Mas jamais resolverão o problema da essência, que um dia você vai precisar. Afinal, ninguém resiste muito tempo à ausência de conversa.

Meu filho, definitivamente, não precisa de camarote ou nada que o valha pra se divertir e ser feliz. Faça o que te deixa feliz e vá aos lugares onde estão as pessoas que te fazem bem, independente do lugar. Pode ir num boteco pé sujo tomar uma Ypióca ou uma Bhrama trincando, ou pode ir ao melhor PUB da cidade tomar uma Brewdog (que seu pai adora!) ou uma Fuller´s (que a sua mãe adora!). Ah, e trabalhe pra cacete, porque cerveja boa custa caro! O importante é com quem e não onde, sacou?

Meu filho, resumindo: FODA-SE o camarote! Lá é lugar de gente chata e superficial. Lá estão as "melhores" coisas e pessoas que o dinheiro pode comprar, e isso é muito pouco. Siga o exemplo da mamãe: Nem de boate eu gosto. Mas seja onde for, num show, num bar, numa festa... Eu sempre preferi a pista. Lá, pisam no seu pé, você sua pra cacete, não dá pra ver direito e podem até mijar na sua cabeça, mas é infinitamente mais divertido, e de verdade. 

Meu filho, espero que você também prefira a pista! 




20 de setembro de 2013

Gentileza. E o poder que ela pode ter.

Gentileza é pra mim, uma habilidade fundamental no ser humano, e que pouca gente tem. Ou esquece de usar.

Se você acha que gentileza é um papo careta, se engana. É das qualidades que mais carecemos hoje. É vanguarda pura, meu caro! E diante de tanta brutalidade da vida, acredito que, aos poucos, as pessoas irão descobrir o poder que ela tem, e mudar de atitude em relação ao mundo e as outras pessoas.

Outro dia, cheguei em casa dizendo: “Ah, como eu adoro encontrar pessoas gentis pelo caminho”! Desde aquele dia, tenho pensado nisso... E hoje, levando as crianças para escola, gentileza foi o nosso tema do dia, no carro. Afinal, não há lugar mais apropriado do que o trânsito, para ensinar, praticar e receber gentilezas.

Gentileza tem sido, portanto, um assunto recorrente nos últimos dias, o que me motivou a divagar um pouco sobre isso. Só lamento, que não seja uma atitude recorrente na vida de muita gente por aí.

Infelizmente, nos surpreendemos com atitudes de gentileza, que deveriam ser naturais, porque ainda não entendemos os efeitos, e não descobrimos como a gentileza pode transformar o dia e a vida, de quem recebe e de quem faz.

E olha só, eu não estou falando da gentileza que é “etiqueta”. Tipo puxar a cadeira para alguém, ou abrir a porta do carro. Estou falando da gentileza que está nas ações e palavras do dia a dia, a gentileza que está nos detalhes que quase ninguém percebe. A gentileza que está nas palavrinhas mágicas que nos ensinaram quando crianças, e que muitas vezes a pressa nos faz esquecer. A gentileza que evita mal entendido, que faz as pessoas sentirem-se consideradas, e que afasta a indiferença e a hostilidade. É dessa gentileza que falo.

A gentileza que é democrática, que todos podemos ‘dar e receber’, ricos e pobres; gordos e magros; brancos e negros; cristãos ou ateus; fãs do Naldo ou do Lemmy; vegans ou comedores de bacon; o empresário ou o garçon, enfim, gente. Toda gente merece. Tá bom vai, tem uns e outros que nem tanto, mas...

Ah, e há os que acham que ser gentil pode “comprometer a sua imagem”, se é que me entendem. Confundem gentileza com subserviência. Uma grande besteira. A gentileza é pra mim, uma das maiores virtudes de um ser humano, porque ela garante muitas outras. A gentileza é conciliadora, melhora as relações, transforma humores.

Gentileza é atenção, é cordialidade, é calma, é educação, é cuidado, é paciência. Gentileza é amor, simplesmente porque o amor deve ser sempre gentil, ou um dia ele desencanta.

Conviver com pessoas gentis faz uma puta diferença na vida. Mas, também tem uma coisa, ser gentil com quem você conhece e por quem você tem afeto é fundamental, mas é mais fácil. A diferença está em ser gentil com os outros, com o porteiro, com a caixa do supermercado, com o carro do seu lado, com as crianças, com o pedestre, com o idoso, com todo mundo.

Tudo bem, sabemos que ninguém dá conta de ser gentil o tempo todo, tem dias que você ´dorme com a bunda descoberta’ e tem vontade é de mandar a merda! Não passe vontade, que não faz bem pro fígado. Mande à merda, quem merece. Mas, faça com que esse dia seja a exceção, se não, viver fica bem chato, e triste.

Acho sim, que gentileza tem (também) a ver com a personalidade de cada um, e por isso existem pessoas naturalmente gentis. E acho também que gentileza não dá pra forçar, não se finge. Mas, seguramente, se aprende. Basta praticar.

Meus desejos: Que a falta de tempo, de grana, de um amor, de saco, os prazos curtos, o trânsito, que nada disso seja desculpa para a falta de cuidado e gentileza com as pessoas, afinal, motivos não nos faltam para sermos menos humanos. Que as pessoas percebam que respeito e gentileza são atemporais, e não coisas do tempo da sua avó. E que todos tenhamos uma visão mais generosa do mundo, mesmo quando a vontade é mandar tudo a merda.

E você, tem sido uma pessoa gentil?  Uma sugestão: faça essa pergunta sistematicamente a si mesmo. Eu tenho feito, e os efeitos são bons. São dois, pelo menos: autocrítica e mudança.

A vida toda ouvimos que a pressa é inimiga da perfeição. Infelizmente, não é só da perfeição que a pressa é inimiga. Da gentileza também. A pressa e a rotina nos cegam, e nos deixam insensíveis para perceber o outro, e suas necessidades, que poderiam ser atendidas ou amenizadas com atitudes simples, de cuidado, de atenção, de gentileza. Pensemos nisso. Sem medo de ser felizes, e gentis!

Enfim, eu não perco a fé nas pessoas, apesar dos pesares... Me disseram, um tempo atrás, que a minha ingenuidade pra certas coisas "é quase hippie". Eu agradeci, e disse que vou morrer com ela. Mas falei com toda gentileza. 


7 de setembro de 2013

Sete de setembro. Um dia para reflexão.

Quem, como eu, freqüentou os bancos da escola, aprendeu desde sempre a amar a pátria, cantar os hinos, respeitar a bandeira brasileira, comemorar a independência, enfim, símbolos da história do nosso país, e que se transformaram hoje em que? Cantamos o hino e até nos emocionamos com isso, numa vitória da seleção brasileira numa Copa do Mundo, ou com um judoca medalha de ouro numa olimpíada; hasteamos a bandeira em eventos e datas comemorativas; alguns ainda assistem ao desfile de 7 de setembro, cada ano mais esvaziado, porque agora o espaço é ocupado também por manifestações por melhores condições de vida, como o Grito dos Excluídos, e outras manifestações como as que vêm ocorrendo nos últimos meses... Tudo isso nos obriga a reflexão. Qual é o real sentido e importância, hoje, de se comemorar a Independência, além da praxe? Pra mim, nenhuma.

Não faço aqui nenhuma análise profunda da história, mas para perceber o que vou dizer, isso nem é necessário. Está aí pra quem quiser ver.

O problema é que nessa mesma escola, esqueceram de nos contar, ou contaram superficialmente, como conquistamos essa tal independência, e o que veio antes disso. O fato é que a nossa história começou mal. Começou com escravidão e morte, dos povos que já estavam por aqui antes de virarmos colônia de Portugal, e foram praticamente dizimados, pela ambição de impérios e monarquias que só queriam conquistar territórios e conseguir mão-de-obra escrava para enriquecer ainda mais.

Aí, Dom Pedro cansou e gritou “Independência ou Morte!” as margens do Ipiranga, com o objetivo de conquistar autonomia política e estabelecer o fim do domínio português. Seria uma maravilha se a independência fosse pra todos. O fato é que desde lá, não é pra todo mundo. Os pobres nem acompanharam o significado dessa independência, já que a escravidão foi mantida e a desigualdade permaneceu. A renda, como até hoje, se concentrava na mão de poucos. E é por isso, que quando fazemos qualquer crítica, por mais pertinente que seja, nunca devemos esquecer que o problema do nosso país é histórico. Devemos continuar sempre em busca das transformações, que são necessárias e urgentes, mas, apesar dessa frase ser lugar comum, a mudança deve começar em nós mesmos. Devemos nos transformar interiormente e depois exigir dos outros, que revejam e abandonem essa cultura escravocrata, preconceituosa e desigual.

Somos mesmo independentes??? De Portugal, sim, desde 1822. Mas, pra mim, e felizmente pra muitas outras pessoas, um país só será verdadeiramente independente quando cada pessoa que nele vive, for independente.

E o que precisamos para ser independentes? Precisamos de EDUCAÇÃO, mas com um ensino de qualidade, que forme cidadãos críticos, com pensamento livre. Precisamos de SAÚDE, uma saúde que atenda TODAS as demandas da população, desde saneamento básico, prevenção de doenças, até a necessidade de uma cirurgia complicada. Precisamos de SEGURANÇA, que nos garanta o direito a vida e a liberdade de ir e vir. Precisamos de MORADIA para todas as pessoas. Precisamos de TRANPORTE PÚBLICO de qualidade, para não precisarmos brigar mais, nem pelos R$ 0,20 centavos. Precisamos de COMIDA pra toda a população. Comida gente, comida... Para não precisarmos mais do Bolsa Família, por exemplo, e nem ter que ouvir tantas críticas desinformadas e preconceituosas. Precisamos ainda de TRABALHO, de LAZER, de CULTURA, enfim, tudo que garanta uma vida digna a todas as pessoas.

Quando a dignidade for universal em nosso país, seremos verdadeiramente um país independente. Enquanto isso, quem quiser pode continuar assistindo as fanfarras e desfiles militares, e admirando a simbologia vazia, da qual “fomos convencidos” na escola.

24 de agosto de 2013

Os Médicos Cubanos e o Preconceito

Essa história da vinda dos médicos cubanos tem me inquietado muito.

Apesar de saber que isso me interessaria naturalmente, confesso que ando mais sensível a esse assunto nos últimos dias. E é muito provável, que esse meu incômodo seja porque há poucos dias precisei do sistema de saúde, para uma histerectomia.  E olha que nem precisei de médicos cubanos para tirarem meu útero, porque felizmente tenho um plano de saúde, fiquei num hospital particular e tenho uma médica excelente, ao contrário das pessoas que vivem nos lugares mais afastados e pobres do Brasil, que até hoje nem um médico cubano tinham. Eu tenho o telefone da minha médica no celular, e qualquer dor mais forte, posso ligar no meio da noite pra pedir orientação, e tem gente que nem médico cubano tem. Nem consigo expressar direito o meu sentimento em relação a isso, indignação talvez, por as coisas serem tão injustas, revolta talvez, quando vejo algumas manifestações de pessoas contrárias à vinda dos médicos cubanos, e fico imaginando se o pensamento daquele sujeito conseguiu alcançar as pessoas que serão beneficiadas pelo programa, ou se parou no limite do seu egoísmo. Sinto culpa até, apesar de saber que ela não é só minha.

Depois do meu pequeno desabafo, vamos aos fatos...

Todos conhecemos a realidade da saúde pública no Brasil, e que ela vai mal, obrigada! Que além de médicos, faltam hospitais, UBSs, remédios, leitos, enfim, infra-estrutura para o atendimento à população, e não é de hoje. Também sabemos que os nossos gestores públicos, já deveriam ter tomado medidas para solucionar os problemas da saúde há muito tempo, e então, não precisariam dessas medidas emergenciais, a toque de caixa. Mas, o fato é que chegamos até aqui, e apesar de todos os questionamentos e dúvidas que temos quanto à forma de contratação, de avaliação e de remuneração dos médicos trazidos de Cuba, me parece que depois de muito tempo, temos um programa que tem o objetivo de melhorar efetivamente a saúde pública, e que certamente poderá e deverá ser aperfeiçoado com o tempo, enquanto isso vai salvando umas vidas.

É importante lembrarmos que antes de trazer os médicos de Cuba, o governo abriu a seleção para qualquer médico brasileiro interessado em trabalhar nos rincões do nosso país. E como vimos, pouquíssimos toparam, nem mesmo aqueles formados em universidades públicas, se sensibilizaram em oferecer alguma contrapartida pelo ensino gratuito que receberam, e que lhes garantiu que nunca precisarão de médicos cubanos. O que não deixou alternativa, já que ainda faltam muitos médicos, além dos de Portugal, Espanha, e de outros países, que já vieram. Mas ok, cada um tem o direto de decidir onde quer viver. Mas não o direito de boicotar a vinda dos colegas da Ilha de Fidel... Ah, também quero falar disso daqui a pouco.

Muitos brasileiros reagiram mal a esse programa do Ministério da Saúde, e por diferentes razões. Algumas mais aceitáveis, outras, nefastas.

Alguns reconhecem a necessidade, mas discordam da forma, e dizem que isso é a precarização de uma política pública, eu acho mesmo que pode ser, mas sejamos pragmáticos, não é melhor começarmos de algum lugar?

Outros assumem pra si QUALQUER argumento contra o programa, por uma questão puramente - e irresponsavelmente - ideológica. Se a iniciativa é da Dilma, do PT, da esquerda... Soy contra! Esses, mal conhecem do que se trata o programa, e muito menos estão preocupados com os que serão beneficiados por ele.

Outros dizem que a forma de contratação dos médicos cubanos é um sistema de quase escravidão. Eu, apesar da minha convicção de que qualquer indivíduo, seja brasileiro, cubano, do Senegal, ou da PQP, deveria receber diretamente pelo seu trabalho, não acho que seja. Porque isso é sim um problema, mas que eles deverão resolver, já que é decorrente da legislação daquele país. Mas a verdade, é que o que menos preocupa os que dizem isso é o regime de trabalho dos pobres médicos cubanos. Ou será que eles se preocupam também com os bolivianos que dos porões de São Paulo, enriquecem as grandes marcas da indústria têxtil, e com os empregados BRASILEIROS das fazendas agropecuárias? Os que dizem isso são em sua maioria, os mesmos que se revoltaram quando a PEC que ampliou os direitos das empregadas domésticas foi aprovada, e os mesmos que acham que o Bolsa Família é só um programa pra corromper pobre. Os que dizem isso, disseram a coisa mais ridícula que eu ouvi nessa história toda, que o principal objetivo do Brasil com esse programa é fortalecer o regime comunista de Cuba... Aiaiai, "meus culhão"! É isso mesmo, é o conservadorismo de parte dos brasileiro dando mais uma vez as caras. Sabe aquele anticomunismo medieval, aquele do medo da revolução, de perder um banheiro ou uma televisão em casa, então, ele está firme e forte, nas mentes de quem não tem nenhum compromisso com o bem estar coletivo, apenas medo de perder seus privilégios e de aceitar que algum projeto deste governo possa dar certo. E eu receio que a torcida contra, não seja apenas contra esse novo projeto para a saúde, mas, contra qualquer projeto ou programa que traga progresso aos “lá de baixo”.

Temos clareza de que esse programa não vai “salvar a pátria”, e que os médicos cubanos não são, nem de longe, a solução para todos os nossos males, mas é um começo, é um passo, é uma chance pra quem nunca nem ouviu falar disso, pra quem um médico cubano fará muita diferença.

E nem vou entrar no mérito do que diz a Organização Mundial da Saúde, que graças aos médicos cubanos, muitos países tiveram melhoras muito significativas no seu sistema de saúde pública. Se virão uns médicos cubanos nós-cegos ou medíocres no meio dessa turma? Pode ser. Mas, médicos nós-cegos e medíocres também temos aos cachos por aqui. Aí, vai ter que funcionar a avaliação e o acompanhamento desses médicos, que será feito pelas universidades federais das regiões em que estiverem. Se vai dar certo? Não sei. Mas, quem somos nós pra julgar a priori? Eu tenho plano de saúde, e você?

De tudo que eu leio e ouço, sabe o que mais me incomoda, é que ninguém que critica, e esbraveja raivosamente contra esse programa, oferece qualquer alternativa a ele. A alternativa é a morte de um monte de pobres. Ou você tem uma alternativa que possa rapidamente salvar quem está morrendo nos cafundós do Brasil, sem nem mesmo um “cubaninho” pra ajudar??? Foi o que eu imaginei. Eu também não tenho. Mas, se alguém aí tiver, tenho absoluta certeza que o governo e todos os brasileiros ficariam imensamente gratos pela sua colaboração. Enquanto isso enfie o seu egoísmo (ai que vontade de falar no cu!)... e espere pra ver, antes de tantas conclusões sabichonas, e sem torcer contra, por favor!

Pra acabar... Isso que estamos assistindo, de grande parte dos brasileiros que são contra a vinda desses médicos, não é a preocupação com os médicos cubanos, nem com quanto vão receber para estarem aqui, e muito menos com o coitado que está morrendo sem atendimento lá no norte do Brasil. Que tal começarmos a chamar as coisas pelos nomes certos? O que estamos assistindo chama-se, egoísmo, preconceito, arrogância, xenofobia.

Sem mais.





7 de agosto de 2013

Tudo o que é novo, original e faz barulho, incomoda alguém!

Com esse título, eu poderia escrever sobre muitas coisas. Mas hoje, quero falar da Mídia Ninja, que nem eu, e acho que quase ninguém, conhece profundamente ainda. Já que é uma organização relativamente nova, e que só ganhou visibilidade para o grande público, depois das coberturas que tem feito dos protestos nacionais, que começaram em junho deste ano. Assim mesmo, resolvi dar meus pitacos.

Tenho lido muitas coisas sobre eles, acompanho suas atualizações nas mídias sociais, e depois de assistir o Roda Viva, do ultimo domingo, onde dois dos fundadores do Mídia Ninja, Pablo Capilé e Bruno Torturra, eram os entrevistados, resolvi fazer minhas considerações.

O Mídia Ninja se auto intitula como um “coletivo de jornalismo”. Onde NINJA, neste caso, não é um agente secreto japonês, que usa artes de guerra não ortodoxas, como algum desavisado poderia imaginar. NINJA, neste caso, significa Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. No entanto, o que diz a sigla, junto com o que temos acompanhado da atuação do grupo, confirma que a relação dos nomes também não é mera coincidência.

Tenho muito respeito por quem já viveu mais do que eu.  E acho que quem é jovem tem muito que aprender com quem já viveu mais, já trabalhou mais, já apanhou mais. E também acredito no contrário, que pessoas mais velhas sempre têm o que aprender com os mais jovens. Mas, infelizmente, nem sempre essa recíproca é verdadeira. E isso, se aplica a tudo. Também ao jornalismo. Exemplo disso foi a postura de alguns jornalistas calejados, da grande imprensa, na atuação como entrevistadores dos “garotos” da Mídia Ninja, no Roda Viva. É triste perceber que alguns jornalistas, que já podem até terem sido “diferentes”, desistiram, e hoje, apenas dançam conforme a música.

Sabemos, é claro, que a intenção do Programa Roda Viva, cujo formato praticamente “encurrala” os entrevistados, é questionar, controverter, debater exaustivamente um tema. E é isso que sempre o fez interessante. No entanto, achei curiosa a postura de alguns entrevistadores. Eis a minha impressão sobre isso: alguns dos jornalistas, como a colunista da Folha de São Paulo, Suzana Singer, estavam visivelmente incomodados com as críticas (diretas) dos entrevistados à imprensa convencional; também achei bem ruim a mediação feita pelo jornalista Mario Sergio Conti, que conduziu o programa como se pensasse lá com seus botões “... seus comunistinhas de mierda, vocês vão crescer e ver que não é assim que funciona”; enfim, foi patético, o esforço dos que tentaram passar a imagem de isenção e imparcialidade da mídia que representam, e deles próprios. Não colou!

É fato que a Mídia NINJA está incomodando alguns, e por isso, estão sendo julgados - a priori - como um grupo nem tão independente assim, que tem ligação com partidos políticos e outros movimentos organizados, que já recebeu financiamento público através do Fora do Eixo, grupo de onde a Mídia Ninja se originou. Enfim, são muitas as tentativas, geralmente veladas (o que é pior), de desqualificá-los enquanto jornalistas independentes, que tem como objetivo principal transmitir informação com qualidade. E não estamos falando de qualidade tecnológica, já que basta um smartphone, um laptop e acesso 3G para que transmitam ao vivo as manifestações e atualizem a sua página no facebook. Quando me refiro à informação de qualidade, estamos falando em informação verdadeira, em tempo real, sem edição, sem filtros, independente.

O fato é que a Mídia Ninja é um “movimento” dos mais interessantes que apareceram nos últimos tempos. Tem gente que insiste em dizer que isso não é jornalismo. Perdoem a minha ignorância, mas, se não é jornalismo, é o que, José?

Eu gosto da ideia de ter a oportunidade de acompanhar uma cobertura jornalística consciente, de qualidade. E é claro que os responsáveis por essa cobertura tem um posicionamento político claramente de esquerda, o que é dito em tom de ‘acusação’ por algumas pessoas, ou mesmo, por outros jornalistas, que como falei ali no começo, tentam vincular a Mídia Ninja a partidos e organizações para desqualificar a sua atuação. Acho honesto e natural que jornalistas tenham o seu ponto de vista, suas convicções, o que não necessariamente, tornará uma cobertura tendenciosa. Acho bem pior, jornalistas que fingem uma isenção que não existe.

Gosto também da ideia que o grupo está lançando, de uma campanha de financiamento coletivo para suas despesas, o que, em minha opinião, é fundamental para garantir a independência que tanto prezam.
Gosto também da ideia de que muitos jornalistas jovens estão procurando associarem-se a Mídia Ninja, como colaboradores. Isso prova que nem tudo está perdido.

O negócio é que eu gosto dessa tal de Mídia NINJA! E até que se prove o contrário, eles vieram mesmo com a ideia de revolucionar o jornalismo, com simplicidade, transparência, coragem e independência, enfim, uma lógica completamente diferente do que virou o jornalismo da grande imprensa, o jornalismo tradicional. Que sobrevivam nessa “selva”!

Yááááá!!!!



31 de julho de 2013

Sobre religião, Deus e tolerância.


Falar de religião, que é um tema, naturalmente, controverso, não é simples. Talvez, porque toque nas crenças, nas fragilidades, nas dúvidas, nas inseguranças e nos sentimentos mais profundos das pessoas.  E isso, com alguma frequência, faz com que evitemos falar do assunto, já que numa conversa desse tipo, as opiniões muitas vezes são antagônicas e apaixonadas, dificilmente racionais, o que pode causar discussões acaloradas. Pra mim, é uma ótima oportunidade de exercitar tolerância.

Duas coisas me motivaram a escrever sobre esse assunto. A vinda do Papa ao Brasil e o episódio da Marcha das Vadias no Rio quebrando as imagens das Santas. Além de uma pergunta curiosa que me fizeram dia desses: “Ju, eu te conheço há muito tempo e tenho uma idéia da sua postura com relação à religião. Mas, o que você pensa exatamente sobre a nossa existência, sobre Deus, sobre religião”? Ai ai ai, que pergunta difícil! Tive que pensar bem pra responder e só sei que ao final da minha resposta, ele (que é ateu) olhou pra mim e disse: “Você é ‘quase’ uma agnóstica”. Não parei de pensar nisso desde então, aliás, acho que ninguém nunca deixa de pensar e de questionar a si mesmo e ao mundo sobre essas questões da existência. Pelo menos, acho que não deveria. Eu me convenço cada dia mais, que essas reflexões só nos melhoram como seres humanos, mesmo quando não encontramos todas as respostas.

Eu nasci e cresci numa família católica apostólica romana, que sempre frequentou e participou ativamente da igreja. Fui batizada, fiz primeira comunhão e crisma. E costumo brincar, que logo depois, quando tinha uns 14 ou 15 anos, desvirtuei. Mas, é brincadeira mesmo, não é isso o que eu penso, mesmo porque não acho que ir à igreja seja uma virtude, basta prestar atenção em como são e agem algumas pessoas que frequentam a Igreja e se julgam os paladinos da moral e dos bons costumes. E melhores do que os que não vão. Ah, tá bom...

Eu, na verdade, comecei a perceber que aquilo, simplesmente, não servia pra mim. Já não me acrescentava. Entre muita gente séria, compromissada e que estava ali pela sua fé, por amor, e por realmente acreditar na diferença que aquilo faz em sua vida, comecei a perceber também incoerência, hipocrisia, falso moralismo, enfim... E isso não tem nada a ver com fé, ou com Deus, tem a ver com gente.

Mas, é pra mim que a Igreja não teve e não tem peso. Pra muita gente, inclusive para pessoas muito próximas de mim, ela foi e é fundamental. A diferença é a motivação. Alguns vivem a Igreja com serenidade, por amor, por solidariedade, por fé verdadeira, com alegria. Outros são vítimas do que podemos chamar de uma verdadeira "coação religiosa", vivem a Igreja por medo. O que, infelizmente, interfere profundamente na vida dessas pessoas, especialmente das mulheres, eu arriscaria dizer. Interfere no modo de pensar, de fazer escolhas, de falar, de sentir prazer, de se comportar diante das pessoas e do mundo. Até mulheres modernas, independentes, inteligentes, acabam subservientes a essa igreja, que coage. E isso tudo, apesar de toda evolução do mundo e da própria igreja, como alguns insistem em apregoar que houve, é consequência de um ranço moralista, conservado até por aqueles que o rejeitam.

Não acredito em religiões, porém respeito verdadeiramente as pessoas que acreditam, mesmo sabendo que o contrário, nem sempre é verdade. É incompreensível para algumas pessoas, que outras possam simplesmente não acreditar no mesmo que elas, ou até, não acreditar em nada. E isso pra mim é egocentrismo, arrogância e, em alguns casos, até uma certa limitação intelectual, daquelas que cegam.

Eu, pessoalmente, acredito em Deus. Mas do meu jeito, no Deus que eu imagino existir. Não acredito na Igreja, porque não acredito em seus dogmas. Não acredito numa Igreja com idéias da idade média, que prega contra o uso de preservativos e anticoncepcionais; que com o seu discurso, pode estimular a homofobia; que prega igualdade e justiça social, mas ostenta uma riqueza imensurável, a começar pelo Vaticano, onde está a sua autoridade máxima, o Papa. E não acredito na Igreja que diz preparar seus fieis para conquistar o paraíso e a vida eterna. Se faz isso, está fazendo muito mal feito. 

Também não acredito em pecado, acredito em escolhas boas e ruins, no discernimento das pessoas. Não acredito em céu e inferno. Pra onde vamos, então? Como é que eu vou saber? Na verdade, nem quero, não estou com pressa. Não acredito na eficácia de usar a Igreja como muleta para as fragilidades humanas, como meio de superar sofrimentos e alcançar felicidade. Conquistar isso está dentro de cada um. Enfim, não acredito em religião. Não nessas que estão postas aí. Acredito sim, que respeito, tolerância, solidariedade, coerência, deveriam ser a “religião” universal.

Quanto ao episódio das “vadias” quebrarem as Santas, só tenho uma coisa a dizer: eu não faria. E não por moralismo, ou porque acredite ou venere as estátuas de barro, não. Mas, porque isso tem um simbolismo importante pra muita gente, e é desse respeito que eu falava. Tudo bem que a idéia é incomodar mesmo, e quebrar umas santas e umas vidraças é uma forma, digamos, incisiva, de protesto, de chamar a atenção. Ainda assim, existem outras maneiras, que podem ser até bem mais eficientes, quando não atingirem as crenças da maioria da população do país. Acho a estratégia  equivocada.

Quanto ao Papa, dizem que este, o Francisco, é “diferente”. Um jesuíta que chegou com a idéia de renovar a Igreja. Também só tenho uma coisa a dizer: Deus os ouça!

Os meus desejos: que todas as pessoas, sejam de qual religião forem, ou de nenhuma, possam conviver sem intolerância e com respeito pela diversidade religiosa, e todas as outras. Que as pessoas tenham a capacidade de refletirem com crítica sobre as suas próprias religiões. Que as pessoas possam encontrar as respostas que procuram, mas que tenham consciência de que elas nem sempre existem. Que saibam, verdadeiramente, porque fazem parte de uma religião, e que não sejam simplesmente, condescendentes com determinada doutrina, por comodismo, culpa, medo de perder seu “lugarzinho no céu”, ou outras "limitações".

Enfim, se você gosta mais de São Tomás de Aquino e de seus argumentos pela existência de Deus, ou de Darwin, com a sua teoria da evolução, ou ainda se prefere, Karl Marx, ateu que afirmou que a religião é o ópio do povo, uma coisa é certa, vivemos numa sociedade plural, com liberdade de pensamento e muitas crenças. Por isso, só nos resta aprender a conviver na diversidade, sem perder a capacidade de questionar, de refletir e de transformar pra melhor o mundo, a começar (sempre) por nós mesmos. E sem a pretensão de achar que a compreensão da vida, de Deus, da existência, das pessoas, possa ser maniqueísta e sempre racional. Às vezes, simplesmente, não há resposta. Mas, sempre há escolha.

“Quando pratico o bem, sinto-me bem; quando pratico o mal, sinto-me mal. Eis a minha religião”. Abraham Lincoln








29 de julho de 2013

CHILLI


Várias pessoas me pediram a receita do Chilli, então preferi postar aqui e quem quiser pode “servir-se”!

O Chilli é uma receita fácil. O segredo está no ponto (consistência), que no caso desta receita, deve ser pastoso, e no equilíbrio dos temperos, especialmente o cominho e a pimenta chilli, o que neste caso, pode te dar algum trabalho, porque não sei dizer as quantidades dos temperos, já que tempero “a zóio” e vou experimentando. Sempre faço duas versões, uma mais picante e uma menos (para os fracos!!!).

Mais uma coisa... Tenho grande dificuldade em fazer comida pra pouca gente. Essa receita serve 10 pessoas “bem comidas”, e sempre sobra! Portanto, se quiser fazer em menor quantidade, divida a receita proporcionalmente.


Receita do Chilli (é exatamente a receita da foto)

1 kg de feijão carioca 
1,200 Kg de carne moída magra (uso Patinho)
3 colheres (sopa) de azeite
1 cebola grande picadinha
5 dentes de alho amassados
1 lata de extrato de tomate
2 latas de molho de tomate
1 pitada de orégano
2 folhas de louro
½ maço de salsinha picadinha
Cominho (em pó)  “a zóio”
Pimenta chilli (em pó) “a zóio”
Páprica picante (em pó) “a zóio”
Sal “a zóio”

Modo de fazer:

Cozinhe o feijão até ficar bem molinho, amasse (ou com um processador) ou na raça (garfo), e reserve. Deve ficar uma pasta de feijão. Pode deixar alguns grãos inteiros, se preferir.

Prepare a carne, como se fizesse um molho à bolonhesa. Frite a cebola e o alho no azeite, e refogue a carne. Acrescente o orégano, o louro, o sal, o extrato, o molho de tomate e água filtrada. Deixe cozinhar e reduzir até ficar com bem pouco caldo. Acrescente a salsinha.

Quando a carne estiver pronta, acrescente o feijão, misture bem e tempere com o cominho, a páprica e a pimenta chilli (cuidado aqui!). A quantidade dos temperos depende do gosto do freguês. Vá colocando aos poucos e experimentando, pra não errar a mão! Agora é só corrigir o sal e o seu Chilli está pronto!


Acompanhamentos (com quantidade proporcional a essa receita de Chilli):

- 12 tomates sem sementes picados em cubinhos
- 4 pimentões pequenos picados em cubinhos (1 vermelho/1 amarelo/2 verdes)
- 1 Kg de queijo prato ralado grosso
- 600 g de Nachos. Pode usar os originais (difícil de achar um bom em Londrina), pode usar Doritos Nachos (é o que faço) ou se for muito virtuoso, pode fazer os nachos em casa (não compensa).
- Guacamole (receita anexa)

Receita do Guacamole (opcional):
2 abacates maduros
1 cebola roxa média bem picadinha
1 dente de alho amassado
1 tomate sem sementes bem picadinho
2 pimentas dedo de moça (sem sementes) bem picadinhas
¼ de um maço de coentro muito bem picado. Nem todo mundo gosta de coentro. Pode usar salsinha.
1 limão (suco)
Sal

Modo de fazer: Amasse os abacates e junte todos os outros ingredientes. Misture bem, coloque o suco de um limão e sal à gosto. Dá pra acompanhar o chilli e pode ser também um aperitivo, pra comer com nachos.

Sugestão na hora de comer: monte o prato em camadas. Comece pelo chilli, depois o queijo prato (que já vai derretendo), o tomate, o pimentão, e por último o guacamole (pra quem gosta). Os nachos, você pode quebrar em pequenos pedaços e jogar por cima. Ou deixa-los inteiros e ir pegando o chilli com os próprios nachos. It´s up to you, baby!

Bom apetite!!!






10 de julho de 2013

Devaneios atuais...

Ontem à noite, depois de uma discussão OSPBistica em casa, que não é rara, fiquei pensando: Em que baseio as minhas opiniões e convicções? O que eu sou? Que eu sou "canhota" já disse aqui, e isso é líquido e certo. E de onde isso vem?

De vários lugares, penso eu. Do ambiente, da criação, dos interesses, da formação, da informação, da personalidade, da educação, mas, principalmente, da alma, da essência.

Vem, por exemplo, de quando eu tinha 15 anos, muitos sonhos e um espírito libertário. E na época do Plebiscito de 1992, para escolher a forma de governo do nosso país, fui com outros jovens, amigos e conhecidos, para o calçadão de Londrina divulgar e defender a Anarquia. Pois é, um tema que desde muito menina me atraiu, li sobre ele, estudei, defendi. Era nisso que eu acreditava e sonhava. E ainda tenho em mim esse espírito. Mas, depois que a gente cresce, e a vida não é mais só música, amigos, escola e lutar por um ideal... Depois que a gente vira mãe, trabalha, paga contas, e vive nesse mundo tão real, começa a perceber a realidade com outra perspectiva. E hoje pra mim, no ponto em que chegamos, infelizmente, aquele arranjo social idealizado e defendido por Godwin, Bakunin, e tantos outros, está cada dia mais distante, improvável, utópico.

Toda essa história de ter que amadurecer, encarar os problemas, as dores (nossas e dos outros), e ver que a incoerência, a realidade e a brutalidade da vida, não é só o que se vê retratado na TV, ela está na cara de quem admite vê-la, pode fazer com que comecemos a desanimar. Mas isso, só se você estiver aqui só de passagem, sem vontades, sem convicções. Caso contrário, percebemos rapidamente que é possível ser feliz depois que a gente cresce, apesar dos pesares.

Hoje, com tantas coisas acontecendo, as pessoas nas ruas (pelo menos até uns dias atrás), as discussões nas mídias sociais, a troca de idéias, gente cobrando, gente “tentando” dar respostas, enfim, existe movimento, existem lados, existe discussão, existem contraditórios, existem consensos, e isso tudo é fruto da democracia. Hoje, é a ela que me apego. E gosto dela. Mas, sei também que ela tem um preço, às vezes alto, mas que vale à pena.

Tudo isso, só pra dizer que tudo muda. O mundo muda, o Brasil muda, você muda, eu mudo... Mas, o que importa, pelo menos nas pessoas, é a essência, o que você traz dentro de si, e o que você é capaz de fazer para transformar a realidade. E a despeito da minha idade, de ser ainda uma “menina” de 35 anos, eu sei o que trago dentro de mim. E tenho um acordo comigo mesma, o de nunca perder esse brilho rebelde e provocador da alma.





4 de julho de 2013

Um lero com o meu tio, Betão! Azar seu que não o conheceu!

Sabe tio Betão, no próximo mês faz 3 anos que você partiu dessa, se é pra melhor ou não, eu não sei e nem tenho pressa em saber. O fato é que eu tenho sonhado muito com você. Então, fiquei com vontade de “bater um papo”, como fazíamos sempre, e de te contar um pouco como andam as coisas por aqui.

Pra começo de conversa, quero dizer que você nunca vai nos deixar de verdade, já que está sempre presente. Seja nos papos das reuniões familiares que, aliás, continuam “daquele” mesmo jeito; nos nossos pensamentos; nas piadas que lembramos que você contava; ou nas coisas engraçadas que você dizia e que sempre repetimos. Você foi sei lá pra onde, mas apesar da saudade que sentimos de você e da sua presença, mesmo de longe, ainda nos diverte com a sua irreverência.
Não sei por que tenho sonhado tanto com você, meu tio. Talvez, porque eu esteja numa fase sensível e você tenha sido uma pessoa muito importante na minha vida. Talvez, porque você queira me dizer alguma coisa e resolveu me trolar, porque nunca diz. Ou talvez, você só queira me “encher o saco” mesmo, como sempre fez.
Quem te conheceu sabe bem como você foi. Mas, pra quem não teve o privilégio da sua convivência, vou contar um pouquinho como você era, na minha perspectiva. Como era o Betão, ou o tio Roberto. Eu nunca tive um jeito só de te chamar.
Você era um sujeito diferente e muito autentico. Nada preocupado com convenções sociais e nem um pouco preocupado com aparências, com nenhum tipo de aparência, aliás. Andava com as calças caindo e sempre abotoava a camisa errado, sobrando um botão, para o pavor da Marildinha, que vivia tentando te “ajeitar”. Você gostava das coisas simples e também preferia as pessoas simples. Era impaciente e detestava falar ao telefone. Gostava muito de apreciar a natureza (posso até ver você lá no fundo da chácara, dizendo como era lindo tudo aquilo). Você adorava os animais. E gostava de bater papo (só até te dar sono) e de tomar uma no Toninho, não o famoso, aquele da esquina da sua casa. Também tocava acordeon e a música que mais lembro de você tocando é Ronda. Mas, também, só tocava quando queria, apesar de toda insistência da família. A única que o convencia era a Vó Helena. Nossa! Falando nisso, ela deve estar te dando trabalho aí.

Você tinha um rigor de caráter impressionante, que deveria ser natural, mas é muito escasso nos dias de hoje. Esse rigor ensinou e cobrava de todos nós, seus sobrinhos, seus filhos e todos que conviviam com você. E posso te dizer uma coisa, tio? Não sabe como isso faz diferença na nossa vida.
 Apesar de respeitar muito as pessoas, quando alguma coisa não lhe agradava e se tinha o mínimo (o mínimo mesmo) de intimidade, mandava logo um “vai tomar no cu, seu corninho sem vergonha” e isso, pra você, não era desrespeito, e nem pra quem ouvia, quando vinha de você. 

No meu primeiro emprego de verdade, lá no Buffet, quando eu tinha 14 anos, você era o meu chefe. Lá aprendi muitas coisas que até hoje trago pra vida. Além dos meus pais, você foi um grande exemplo de responsabilidade e honestidade. Aprendi a respeitar horário, respeitar tratos e o mais importante, respeitar pessoas, todas elas. Lá também tivemos nossas discussões, que não duravam nada e que a Dona Gera dava logo um jeito de botar panos quentes. Mas essas discussões só aconteciam, em função dos papeis que desempenhávamos no trabalho e na vida. Você sempre cobrou muito compromisso e responsabilidade e, às vezes, daquele seu jeito meio torto. E eu, apesar de todo respeito que sempre tive por você, estava aprendendo e nunca soube ficar quieta sobre o que eu penso. Isso tudo também me fez crescer como pessoa e como profissional.
Foi você quem me emprestou, para ler, quando eu tinha uns 15 anos, aquele livro do Malba Taham, "O homem que calculava". Lembro claramente de alguns capítulos, como o dos 35 camelos; o das 90 maçãs; as curiosidades numéricas do Alcorão... Enfim, foi um livro que me instigou, me marcou, que li muitas vezes depois e que ajudou a construir o meu gosto pela leitura, já incentivado pelo meu pai. A partir dali gostei muito mais de leitura, de matemática e de possibilidades.

Betão, sabe o que você foi pra mim? Um exemplo de irreverência e coerência. Um tio de um humor que variava muito e assim mesmo era divertidíssimo. Um homem generoso e muito simples. Foi mais um exemplo de como levar a vida reta. Um tio que me deu muitas caronas pros shows de rock e, às vezes, entrava junto, pra “conhecer” o ambiente. Um tio que quando eu liguei, foi me buscar correndo em Águas de São Pedro, quando me meti num estágio furado e estava quase “em depressão”. Enfim, um tio com quem eu sempre contei.
Betão era um homem com espírito “anarquista, graças a Deus”. E nem era advindo da Itália, muito menos da família da Zélia Gatai. Na verdade, isso nada tem a ver com a obra. Era só um filho de espanhol, turrão, contestador do sistema, um espírito anarquista que acreditava em Deus (quem disse que não dá?), mas do seu jeito. Exemplo disso, é que quando resolvia ir à missa, preferia ir a Capela do Santa Fé, um bairro muito pobre de Londrina, do que ir à Igreja onde a família toda frequentava. Lá, no Santa Fé, ajudava na creche, nas festas populares para angariar fundos, conversava com as pessoas, enfim, lá, sabia que poderia fazer alguma diferença, aí fazia sentido pra ele.

Tio Roberto, as coisas por aqui andam quentes, o povo foi em massa pras ruas, mas não vou esquentar a sua cabeça com isso. Só pra ter uma idéia, vou emprestar uma música do Chico, de quem você gostava e que pode ilustrar nossos dias: “... Aqui na terra tão jogando futebol. Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll. Uns dias chove, noutros dias bate o sol. Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta. Muita mutreta pra levar a situação. Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça. E a gente vai tomando que também sem a cachaça. Ninguém segura esse rojão... Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta. É pirueta pra cavar o ganha-pão. Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro. E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro. Ninguém segura esse rojão...”. Pois é!
Tio, tá tudo “assim”, mas você já pode ficar tranqüilo. Você deixou, pra nós, muitas coisas, muitos exemplos, muitas histórias, muitas lembranças. Deixou também a Marildinha, sua companheira de tantos anos e uma tia incrível, que sente demais a sua falta, mas é uma mulher forte e está seguindo com a vida. E deixou quatro filhos sensacionais, meus primos amados. Ah, vou falar um pouco deles também.

Daniel, seu primeiro filho e o único sacudo, está bem obrigado, no trabalho e na vida. Continua sendo o “Punk mais pão doce de Curitiba”, como é chamado por suas amigas. É radical nas idéias e no caráter e muito gentil no trato com as pessoas. Carolina e Clarissa, sua gêmeas, são duas mulheres guerreiras. Carol na vida louca de São Paulo trabalha muito e construiu uma família linda, com o Adriano e o Pedro. Ela esbanja disposição para a vida. Clarissa, a pedagoga, apaixonada por crianças e que apesar de ter escolhido o frio de Porto Alegre e o mala do Fábio (a quem sabemos que você também amava) como marido, continua alegre, com aquele sorrisão. É muito esforçada e está se saindo uma mãe incrível para o seu neto Miguel. E tem também a sua temporona, a caçula Marina, que se formou há pouco tempo em jornalismo e já está trabalhando em São Paulo. Ela é inteligente, linda e cheia de personalidade. Você se orgulharia do que ela se tornou. De todos eles, aliás.
Vou parar por aqui, porque já escrevi demais e porque nessa altura as lágrimas já estão me cegando. Mas, tio, pode continuar me visitando. É bem vindo, como sempre foi, mas, sem trolagem, heim!

Pensei em publicar isso o mês que vem, em homenagem aos 3 anos da sua partida. Mas aí pensei, esperar pra quê? Esse papo é com o Betão e ele nunca gostou de esperar nada. Nem pra partir esperou, foi cedo e rápido, como sempre saía das festas, de fininho ou soltando um “vocês são tudo boa gente, mas eu vou é dormir”! E assim foi... Dormir!