Em tempos de lelec lec, e outros
tantos "dejetos" que escutamos e vemos por aí, tenho me questionado sobre o que
será da educação das nossas crianças, particularmente, a educação sexual, se
até quem deveria ter senso crítico, concebe esses “lixos culturais” com
naturalidade, com o argumento de que reflete a liberdade de expressão, um dos
princípios básicos do estado democrático de direitos. Ah tá... Não me venha com
churumelas! Também defendo a liberdade de expressão, a democracia, o direito
individual de escolha, e tudo que o valha, mas não essa anti-cultura
deprimente, que deseduca e deforma o pensamento e os interesses das crianças,
que ainda sem nenhum senso crítico, absorvem toda essa merda. E o pior, é que esse
lixo é “orgânico”, sem chance de reaproveitamento ou reciclagem, ele pode até
se decompor com o tempo, mas não, sem antes fazer estragos nas cabeças ingênuas
das crianças “desassistidas”.
Os
mais ortodoxos, quando o assunto é liberdade, podem achar que estou exagerando,
talvez porque não tenham ou nunca tiveram filhos pequenos, e essa não é uma
preocupação que lhes concerne, ou até tenham razão, dentro daquilo que
acreditam. Mas, o fato é que isso me incomoda, assim como deve incomodar muitos
pais.
E
não pense que essa é a preocupação de uma mãe conservadora e retrógrada, que
pensa que o mundo está perdido, etc... Nada disso. É a preocupação de uma mãe que
acompanha e acredita nas "evoluções”. A evolução da ciência, a evolução da
tecnologia, a evolução das pessoas, a evolução da democracia (apesar de
questionável) e que constantemente, busca “redimensionar” sua atuação como mãe.
E, por outro lado, assiste na TV, na internet, nas revistas, a erotização muito
precoce das nossas crianças, através de conteúdos que atrapalham e desconstroem
as tentativas de pais e educadores, de criarem seres pensantes. E, como mãe de
um menino de 9 anos e de uma menina de quase 12, isso me preocupa e inquieta.
Isso,
pra mim, já foi um paradoxo. Felizmente, há algum tempo, não é mais. Pensava na
contradição, de ser uma mulher do século 21, bem informada, esclarecida, que
acredita nas liberdades individuais, que gosta da “modernidade” do nosso tempo (apesar
de achá-la contraditória), e ao mesmo tempo, se vê forçada a questionar formas
de expressões, e a colocar tantos limites e proibições na educação dos seus
filhos. Até entender, que justamente por ser uma mulher assim, tenho a
obrigação de fazer direito, pelo menos com os meus filhos. Ou seja, isso está
totalmente superado na minha cabeça, desde que entendi que não tem nada a ver o
“cu cas carça”. Liberdade e direito de escolha, é pra quem tem discernimento e
capacidade de arcar com as consequências delas. Ou seja, para adultos, que
(teoricamente) se prepararam para isso. As crianças não, elas dependem (e
pedem) cuidado, atenção, regras, amor, broncas, restrições... Educar, ensinar e ajudar uma criança a
“formar-se” é uma responsabilidade que ultrapassa qualquer possível
questionamento de liberdade, seja ela qual for.
Lembro-me
bem (afinal, não faz tanto tempo assim) do que eu gostava quando criança.
Gostava de brincar na rua com outras crianças, andar de bicicleta, assistir
desenho animado, brincar de bonecas, desenhar, cantar e dançar as músicas do
Balão Mágico e do Saltimbancos... Foi-se o tempo! As nossas crianças de hoje,
apesar do esforço de alguns pais, em preservar as brincadeiras “de
antigamente”, preferem mesmo a internet, os videogames e os programas de TV (nada
infantis), que tem como ídolos, adolescentes com roupinhas sensuais e nada pra
falar. Não que eu seja contra, que crianças joguem videogame nos momentos de lazer,
assistam TV ou aprendam a usar a internet. Isso, não seria razoável, na
verdade, seria descabido nos dias de hoje. O grande desafio está em encontrar os
limites, desse acesso tão fácil e superficial a todo tipo de informação.
O
meu questionamento, afinal, é: qual é o modelo de comportamento com relação à
sexualidade, que a sociedade, as escolas, e principalmente, os pais, estão
deixando para os seus filhos? A situação não é simples, pelo contrário, é
crítica. E a responsabilidade de contornar isso, é de todos nós, da sociedade,
da escola, da mídia e dos pais, que em minha opinião, são os maiores
responsáveis, já que tem o controle mais “efetivo” da vida dos filhos.
Vamos
aos responsáveis...
A
mídia (boa parte dela) faz o desserviço de deturpar o tema da sexualidade,
quando apresenta programas infantis com conteúdo, músicas e figurinos
incompatíveis com a idade das crianças que os assistem, além de todo o lixo que
assistimos na programação das TVs.
A
educação nas escolas é uma questão ainda mais complicada, porque salvo
exceções, a qualidade do ensino já é bem questionável, e ainda tem a infraestrutura
precária, material didático muitas vezes não apropriado, professores
desvalorizados, sem formação adequada, ou seja, totalmente despreparados para
auxiliar na educação sexual dos nossos filhos.
Os
pais, na maioria das vezes ficam perplexos com essa realidade da erotização
precoce das crianças. Mas, ficam também, perdidos e atrapalhados, e acabam
cedendo às investidas das crianças e adolescentes, que querem repetir os
modelos da TV, dos amigos da escola, do mundo.
E
a sociedade? O que dizer? A sociedade que se indigna, critica, e posta no
facebook palavras de ordem e campanhas contra a pedofilia e a exploração
sexual, por exemplo, é a mesma sociedade que convive e aplaude os programas de
TV, as músicas, e os artistas formadores de opinião, que colaboram diariamente
com a erotização de seus filhos.
Ou
seja, essa “briga” deve mesmo começar em casa. Nos limites que damos aos nossos
filhos. Nos princípios que ensinamos, como quando mostramos o que é realmente
importante na vida. Nas respostas e explicações sobre sexualidade, que devem
ser sempre claras e sem subterfúgios. Na decisão sobre o que assistir e ouvir
na presença das crianças. Enfim, quem tem filhos, fez uma escolha (geralmente),
e por isso deve assumir a responsabilidade da sua educação. No entanto, você é
adulto, e pode ter e fazer o que bem entender da sua vida, mas se quer
programação picante, putaria, faça ou assista da meia noite às seis, meu caro, horário em
que os “anjinhos”, certamente, estão dormindo.
Bom,
agora o papo reto. Lá em casa é assim, e tem funcionado: Criança não usa
maquiagem. Criança não usa esmalte. Criança não usa roupa de adulto. Criança
não tem facebook, nem twitter, nem nada disso. Criança tem limite de horário e
supervisão de conteúdo pra ficar na internet. Criança não namora. Criança pode
perguntar o que quiser, inclusive sobre sexualidade, e será sempre respondida...
Entre muitas outras regras e “tratos”, o fato é que criança tem que ser
criança, até a hora que deixar de ser. Simples assim.
Mas
é simples administrar tudo isso? Nem um pouco. Somos questionados e cobrados
pelos filhos o tempo todo. Porque o amigo pode, o amigo faz, o amigo tem... E
eu, como mãe, só posso sentir compaixão pelo amigo e pelos seus pais. E não me
sinto pretensiosa dizendo isso. Porque apesar de todos os erros, que como todas
as mães e pais, eu sei que cometo e ainda cometerei na educação dos meus filhos, neste caso,
prefiro pecar pelo excesso. Pelo excesso de zelo e de limites. Eles podem não
entender isso agora e até nos “odiar” quando recebem um NÃO, mas um dia
entenderão. Porque isso vem do amor e do cuidado.
Enfim,
não vamos fugir às nossas responsabilidades e nos acomodarmos, com a desculpa
de que “hoje é assim que funciona”. Não, não é assim que funciona. Você
determina como funciona. Pelo menos dentro da sua casa, com os seus filhos.
Portanto, não há nenhuma desculpa para a omissão.