Sei que vai concordar comigo, apesar das
diferenças!
São quase vinte e dois anos juntos, e ainda “quebramos
tudo”. Estamos na flor da idade, eu na flor dos 35 e você na flor dos 38. E
vinte e dois anos, não é como ir ali na esquina comprar pão, e nem sair um dia
pra comprar cigarros e nunca mais voltar. É ficar, é amar, é superar. São vinte
e dois anos, de tudo. De parceria, de aprendizados, de dois filhos, de viagens,
de sonhos realizados, de sonhos ainda não, de paciência, de rock, de amigos
comuns, de troca, de brigas, de vai, de voltas, de amor, e de diferenças.
Ah, as diferenças! Deixei-as por último, porque
elas são o nosso prato do dia, o nosso PF. E devem ser comidas quentes, frias
ou requentadas. A digestão nem sempre é fácil. Mas, o que é fácil? Elas são
muitas, às vezes amenas, às vezes difíceis. Mas hoje, creio que sejam
fundamentais para a nossa sobrevivência. Rimos delas, e já choramos por elas.
Mas o fato é que vivemos delas.
Porque a graça do nosso amor está em achar o
equilíbrio nas diferenças. Quem quiser um amor sem emoção, deve sim procurar a
tampa da sua panela. Você não é, e nem nunca foi a tampa da minha panela, nem a
metade da minha laranja. E sabe porque? Porque não somos metades de nada, somos
dois inteiros, com tudo que isso tem de bom e de ruim. Com todos os nossos
defeitos e virtudes. Com todas as nossas piras, convicções, opiniões, gostos,
paixões, vontades... Não quero te completar, e nem que você me complete. Quero
só que continuemos assim, discordando, nos entendendo, nos respeitando, e
vivendo do amor e também das diferenças.
Mas nem sempre foi assim. Fomos conquistando esse “estágio”
de convivência, quando baixamos as expectativas um em relação ao outro, quando
percebemos que o maior responsável pela nossa felicidade, somos nós mesmos e
não o parceiro. Ou enquanto conversamos sobre o preço do tomate, sobre o
Feliciano, ou sobre a morte da bezerra. Ou quando você me acorda no sábado de
manhã, começa a puxar papo, e eu me recuso até mesmo a abrir os olhos de tanta
preguiça, e quando vemos já estamos gargalhando de alguma besteira que falamos.
Tem as diferenças simples, que até nos divertem,
como quando eu quero pizza, e você japonês. Ou quando eu quero assistir
Criminal Minds e você o Sport TV, que aliás, eu também gosto. Mas, falo das
diferenças mais “essenciais”, como nossas opiniões divergentes sobre algumas
pessoas, sobre política, sobre a educação das crianças, sobre a maneira de
enxergar a vida (em alguns aspectos), sobre a sua forma contundente e nada
ortodoxa de colocar as suas opiniões, e outras tantas discordâncias. Mas, no
que realmente importa, somos muito parecidos, nos nossos princípios, e
principalmente, na nossa perspectiva de que tipo de ser humano, desejamos que
nossos filhos sejam. Nisso concordamos sempre.
Tá, somos diferentes (e ponto). Eu gosto de TV
ligada no quarto até tarde, você não dorme assim. Neste caso, não me incomodo
de ficar algumas noites na sala. Gosto da rua, da noite, das festas. Você
também gosta, mas prefere o aconchego do nosso sofá. Eu gosto de rock e de
samba. Você só de rock, mas respeita meu samba. Eu gosto de dançar, você só de
olhar. É você que lembra de recolher o varal da varanda, quando vai chover. Eu
esqueceria sempre. Você passa apagando as luzes que eu insisto em largar acesas,
e (quase) não reclama mais.
O fato é que as diferenças arrumaram uma treta grande
com a gente. É que elas também são “vítimas”. Vítimas da nossa teimosia e disposição
de fazer dar certo, apesar delas.
Como quando acordo de manhã, atrasada, pulo da cama
igual uma louca, com aquele pijama velho (que eu adoro), toda descabelada, e
você olha e diz que eu sou a mulher mais linda do mundo. É a mentira mais doce
de se ouvir. E apesar do espelho, bem ali na minha frente, sempre acredito
nela.
Como quando você elogia aquela massa que fiz
correndo, e diz que nunca comeu nada igual. E fala pras crianças que elas têm
sorte de ter uma mãe assim, que “além de tudo”, cozinha bem.
Como quando eu chego cansada, depois de um dia
exaustivo de trabalho e correria, e você faz massagem nos meus pés. Mesmo que
eu sempre tenha que insistir pra que demore mais. E quando você merece, eu
retribuo. (rs!)
Então... Quero muito que saiba de uma coisa, que
provavelmente já te falei, mas já falamos sobre tantas coisas, que prefiro
repetir. Uma das coisas sobre você, que mais me faz feliz, é o fato de me
sentir livremente humana com você. Calma, vou explicar... Você me respeita,
exatamente do jeito que sou, às vezes tímida, às vezes louca.
Gosta de me ver
feliz, de ver que estou me divertindo, e se diverte também. Sempre vivi à minha
maneira, falo o que penso e com quem eu quero, danço quando eu quero, gargalho
alto... Nunca se sente constrangido comigo (ou guarda pra você, o que eu
duvido), até mesmo naquela festa que exagero no vinho, e volto pra casa
descalça. Quando tem alguma observação a fazer, faz depois, nunca na hora. Faz “amanhã”,
quando eu acordo toda borrocada, da maquiagem que não tirei “ontem” quando
cheguei em casa, porque você me pôs na cama e me deixou dormir daquele jeito,
com os pés sujos que você odeia. E depois da “bronca”, rimos de tudo.
Bom, o negócio é o seguinte, eu gosto é de
felicidade, e apesar da cara de mau, eu sei que você também gosta. E é por
isso, que quando as diferenças gritam, e alguma discussão mais acalorada
acontece, trato logo de fazer graça, de puxar papo, de inventar desculpas pra
reaver a paz. Sabe porque? Porque felicidade não se posterga. Felicidade é pra
sentir hoje, agora. Você já entendeu (também) isso em mim, e eu amo você também
por isso.
Uma crônica para o meu marido. Com amor.
Que lindo Jú!! Adorei!!
ResponderExcluirAdoro ver amores assim: reais, fortes e cheios de diferenças. E vcs, apesar delas, são indiscutivelmente um casal de uma sintonia explícita!!
bjs, Kathiuscia