Acredito que aquilo que nossos
avós diziam que “quando um burro fala o outro abaixa a orelha”, é só a forma
sertaneja de dizer que todos somos ignorantes sobre determinado assunto, pelo
menos na perspectiva do outro que pensa diferente, e que saber ouvir é uma
grande virtude. Acho que aprendo isso todos os dias, às vezes de forma mais dolorosa,
às vezes com mais tranqüilidade, mais aprendo.
O tema da redução da maioridade
penal ainda acende discussões em todas as rodas e mídias, especialmente, nas mídias
sociais como facebook e twitter. Mas, agora, as pessoas estão discutindo sobre
uma perspectiva diferente. Não apenas sobre os argumentos favoráveis ou
contrários. Algumas pessoas questionam também, muitas vezes de maneira arrogante,
a razão de quem emite opinião, e passam a agredir verbalmente, de forma velada
(ou não) - mas geralmente irônica - os que pensam diferente. E apesar de ter a
minha opinião formada sobre isso (que também já publiquei no FB, e republico ao
final deste texto), observei que isso vem acontecendo dos dois lados. O que é
uma pena, porque enfraquece o debate de idéias, que muitas vezes, acaba transformado
em uma discussão pessoal. Que é uma discussão ideológica, todos sabemos, mas
não pessoal.
Observado isso, me surgiu
uma questão: Quem tem razão? Quem é a favor da redução? Como você. Ou quem é
contra? Como eu. Claro que sou eu. Ou... Claro que é você. No fim é sempre quem
“está com a palavra”.
É como funciona o ser humano. Quando
tem uma opinião formada sobre determinado tema, acha mesmo que conhece a verdade
sobre ele. Mesmo aqueles que se dizem a favor da liberdade de pensamento, da
democracia, e afirmam peremptoriamente que respeitam as opiniões divergentes...
Humm, bullshit! As pessoas sempre acham que tem a razão (e ponto). Alguns pensam
mesmo serem os donos da verdade, os mais informados, os mais cultos, os mais
inteligentes, os intelectuais ou simplesmente, os mais “espertos” e com a intransigência de um
rinoceronte (poderia ser outro bicho) despejam a sua “humilde” opinião.
É muito difícil admitir que
alguém pense diferente, e principalmente que esse alguém possa estar certo, e
você errado.
Por isso, é preciso um pouco
mais de humildade e respeito, pra tudo, até para divergir de outras pessoas. Um
bom começo pra você, e pra mim, é admitir que não existe verdade absoluta. Que
as perspectivas de quem vê ou analisa determinado tema são diferentes. Que a
formação, os modelos, o meio, a maneira de enxergar a vida, as experiências,
tudo isso é diferente entre as pessoas. Que os interesses são diferentes. Talvez assim, possamos ter discussões que
levem a algum lugar. Até mesmo aquela discussão mais acalorada no facebook, ou
na mesa do boteco, pode render frutos, ao invés de estremecer amizades.
Não que eu ache que as pessoas
estão aí para serem convencidas do contrário daquilo que pensam e acreditam. Isso, vindo
de mim seria uma tremenda hipocrisia, já que tenho opiniões nem sempre usuais, e
sou convicta delas, além de ser teimosa, confesso. E, mesmo admitindo com alguma dificuldade, sou capaz de
mudá-las quando realmente achar que devo. Por isso, acho notável quando alguém reconhece
que possa estar errado, que possa rever conceitos, que possa aceitar novas idéias
e perspectivas, ou seja, que possa até mudar de opinião, ou simplesmente,
respeitar as divergentes. E é importante que se diga, respeitar não significa
concordar, apenas saber ouvir e debater, sem aquele ar de superioridade que acomete
alguns pseudos intelectuais, que até tem alguma inteligência, mas uma falsa
modéstia de dar pena.
A
propósito, eu sou contra a redução da maioridade penal, assunto que originou esse
post, por mim desvirtuado. Republico abaixo algumas considerações sobre isso.
Redução da maioridade penal.
(Texto já publicado por mim no facebook em Abril/2013)
Temos o mau hábito de pautar nossas opiniões pessoais, sobre assuntos importantes para a sociedade, pelo senso comum. Ou seja, saímos por aí, reproduzindo “verdades e soluções” sem nenhuma crítica, sem nenhum cuidado com a informação, muitas vezes sem nenhum fundamento histórico e real. Cuspimos nossas percepções, decepções e inseguranças, movidos apenas pela paixão. Neste caso, por exemplo, pela indignação de ver adolescentes cometendo crimes bárbaros, o que gera muitos desabafos e opiniões contundentes a favor da redução da maioridade penal. Assunto que está voltando à tona através da discussão da PEC 33/2012, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, do Congresso Nacional.
Mas nos esquecemos – convenientemente - que a responsabilidade pela violência e pela exclusão social, é também nossa. É da sociedade, que se omite e se acostuma com a miséria alheia; que faz perpetuar a pobreza; que é conivente com o descaso. Que critica veementemente o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), mas a maioria, jamais o leu; que não admite que negando os direitos fundamentais de crianças e jovens à alimentação, à saúde, à educação, permitimos que eles fiquem suscetíveis a sofrer ou praticar violência; que critica o tráfico e a violência que ele gera, mas compra e consome drogas... O que, na verdade, é problema ou alegria de cada um, o que não é aceitável é a incoerência.
É claro que também fico indignada com a violência, e consternada com as famílias que perdem seus entes queridos, seus amigos, pelas mãos desses adolescentes. É provável que se fizessem com um filho meu, teria vontade de matar, eu mesma. Mas isso é paixão, é impulso, é pessoal. Não podemos deixar que isso determine ou influencie uma lei que rege uma nação. Para puni-los, já existem leis, com medidas socioeducativas que deveriam – teoricamente - reintegrá-los à sociedade. Se elas estão funcionando, ou não, é uma outra questão, que deve ser avaliada, revista e cobrada a quem compete. Agora, aumentar as estatísticas demográficas de um sistema penitenciário sabidamente falido, definitivamente, não resolverá o problema da violência. O buraco é muito mais embaixo.
Temos que ter muito cuidado para que pensamentos de uma sociedade ainda muito reacionária, e essa busca emocional por justiça a qualquer preço, não causem danos irreversíveis para o nosso país, para os nossos filhos e principalmente para crianças e jovens, que sem nenhuma chance de escolha, já nasceram num ambiente de miséria, preconceito, injustiça social e violência.
Eu sou contra a PEC 33/2012.
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