24 de agosto de 2013

Os Médicos Cubanos e o Preconceito

Essa história da vinda dos médicos cubanos tem me inquietado muito.

Apesar de saber que isso me interessaria naturalmente, confesso que ando mais sensível a esse assunto nos últimos dias. E é muito provável, que esse meu incômodo seja porque há poucos dias precisei do sistema de saúde, para uma histerectomia.  E olha que nem precisei de médicos cubanos para tirarem meu útero, porque felizmente tenho um plano de saúde, fiquei num hospital particular e tenho uma médica excelente, ao contrário das pessoas que vivem nos lugares mais afastados e pobres do Brasil, que até hoje nem um médico cubano tinham. Eu tenho o telefone da minha médica no celular, e qualquer dor mais forte, posso ligar no meio da noite pra pedir orientação, e tem gente que nem médico cubano tem. Nem consigo expressar direito o meu sentimento em relação a isso, indignação talvez, por as coisas serem tão injustas, revolta talvez, quando vejo algumas manifestações de pessoas contrárias à vinda dos médicos cubanos, e fico imaginando se o pensamento daquele sujeito conseguiu alcançar as pessoas que serão beneficiadas pelo programa, ou se parou no limite do seu egoísmo. Sinto culpa até, apesar de saber que ela não é só minha.

Depois do meu pequeno desabafo, vamos aos fatos...

Todos conhecemos a realidade da saúde pública no Brasil, e que ela vai mal, obrigada! Que além de médicos, faltam hospitais, UBSs, remédios, leitos, enfim, infra-estrutura para o atendimento à população, e não é de hoje. Também sabemos que os nossos gestores públicos, já deveriam ter tomado medidas para solucionar os problemas da saúde há muito tempo, e então, não precisariam dessas medidas emergenciais, a toque de caixa. Mas, o fato é que chegamos até aqui, e apesar de todos os questionamentos e dúvidas que temos quanto à forma de contratação, de avaliação e de remuneração dos médicos trazidos de Cuba, me parece que depois de muito tempo, temos um programa que tem o objetivo de melhorar efetivamente a saúde pública, e que certamente poderá e deverá ser aperfeiçoado com o tempo, enquanto isso vai salvando umas vidas.

É importante lembrarmos que antes de trazer os médicos de Cuba, o governo abriu a seleção para qualquer médico brasileiro interessado em trabalhar nos rincões do nosso país. E como vimos, pouquíssimos toparam, nem mesmo aqueles formados em universidades públicas, se sensibilizaram em oferecer alguma contrapartida pelo ensino gratuito que receberam, e que lhes garantiu que nunca precisarão de médicos cubanos. O que não deixou alternativa, já que ainda faltam muitos médicos, além dos de Portugal, Espanha, e de outros países, que já vieram. Mas ok, cada um tem o direto de decidir onde quer viver. Mas não o direito de boicotar a vinda dos colegas da Ilha de Fidel... Ah, também quero falar disso daqui a pouco.

Muitos brasileiros reagiram mal a esse programa do Ministério da Saúde, e por diferentes razões. Algumas mais aceitáveis, outras, nefastas.

Alguns reconhecem a necessidade, mas discordam da forma, e dizem que isso é a precarização de uma política pública, eu acho mesmo que pode ser, mas sejamos pragmáticos, não é melhor começarmos de algum lugar?

Outros assumem pra si QUALQUER argumento contra o programa, por uma questão puramente - e irresponsavelmente - ideológica. Se a iniciativa é da Dilma, do PT, da esquerda... Soy contra! Esses, mal conhecem do que se trata o programa, e muito menos estão preocupados com os que serão beneficiados por ele.

Outros dizem que a forma de contratação dos médicos cubanos é um sistema de quase escravidão. Eu, apesar da minha convicção de que qualquer indivíduo, seja brasileiro, cubano, do Senegal, ou da PQP, deveria receber diretamente pelo seu trabalho, não acho que seja. Porque isso é sim um problema, mas que eles deverão resolver, já que é decorrente da legislação daquele país. Mas a verdade, é que o que menos preocupa os que dizem isso é o regime de trabalho dos pobres médicos cubanos. Ou será que eles se preocupam também com os bolivianos que dos porões de São Paulo, enriquecem as grandes marcas da indústria têxtil, e com os empregados BRASILEIROS das fazendas agropecuárias? Os que dizem isso são em sua maioria, os mesmos que se revoltaram quando a PEC que ampliou os direitos das empregadas domésticas foi aprovada, e os mesmos que acham que o Bolsa Família é só um programa pra corromper pobre. Os que dizem isso, disseram a coisa mais ridícula que eu ouvi nessa história toda, que o principal objetivo do Brasil com esse programa é fortalecer o regime comunista de Cuba... Aiaiai, "meus culhão"! É isso mesmo, é o conservadorismo de parte dos brasileiro dando mais uma vez as caras. Sabe aquele anticomunismo medieval, aquele do medo da revolução, de perder um banheiro ou uma televisão em casa, então, ele está firme e forte, nas mentes de quem não tem nenhum compromisso com o bem estar coletivo, apenas medo de perder seus privilégios e de aceitar que algum projeto deste governo possa dar certo. E eu receio que a torcida contra, não seja apenas contra esse novo projeto para a saúde, mas, contra qualquer projeto ou programa que traga progresso aos “lá de baixo”.

Temos clareza de que esse programa não vai “salvar a pátria”, e que os médicos cubanos não são, nem de longe, a solução para todos os nossos males, mas é um começo, é um passo, é uma chance pra quem nunca nem ouviu falar disso, pra quem um médico cubano fará muita diferença.

E nem vou entrar no mérito do que diz a Organização Mundial da Saúde, que graças aos médicos cubanos, muitos países tiveram melhoras muito significativas no seu sistema de saúde pública. Se virão uns médicos cubanos nós-cegos ou medíocres no meio dessa turma? Pode ser. Mas, médicos nós-cegos e medíocres também temos aos cachos por aqui. Aí, vai ter que funcionar a avaliação e o acompanhamento desses médicos, que será feito pelas universidades federais das regiões em que estiverem. Se vai dar certo? Não sei. Mas, quem somos nós pra julgar a priori? Eu tenho plano de saúde, e você?

De tudo que eu leio e ouço, sabe o que mais me incomoda, é que ninguém que critica, e esbraveja raivosamente contra esse programa, oferece qualquer alternativa a ele. A alternativa é a morte de um monte de pobres. Ou você tem uma alternativa que possa rapidamente salvar quem está morrendo nos cafundós do Brasil, sem nem mesmo um “cubaninho” pra ajudar??? Foi o que eu imaginei. Eu também não tenho. Mas, se alguém aí tiver, tenho absoluta certeza que o governo e todos os brasileiros ficariam imensamente gratos pela sua colaboração. Enquanto isso enfie o seu egoísmo (ai que vontade de falar no cu!)... e espere pra ver, antes de tantas conclusões sabichonas, e sem torcer contra, por favor!

Pra acabar... Isso que estamos assistindo, de grande parte dos brasileiros que são contra a vinda desses médicos, não é a preocupação com os médicos cubanos, nem com quanto vão receber para estarem aqui, e muito menos com o coitado que está morrendo sem atendimento lá no norte do Brasil. Que tal começarmos a chamar as coisas pelos nomes certos? O que estamos assistindo chama-se, egoísmo, preconceito, arrogância, xenofobia.

Sem mais.





7 de agosto de 2013

Tudo o que é novo, original e faz barulho, incomoda alguém!

Com esse título, eu poderia escrever sobre muitas coisas. Mas hoje, quero falar da Mídia Ninja, que nem eu, e acho que quase ninguém, conhece profundamente ainda. Já que é uma organização relativamente nova, e que só ganhou visibilidade para o grande público, depois das coberturas que tem feito dos protestos nacionais, que começaram em junho deste ano. Assim mesmo, resolvi dar meus pitacos.

Tenho lido muitas coisas sobre eles, acompanho suas atualizações nas mídias sociais, e depois de assistir o Roda Viva, do ultimo domingo, onde dois dos fundadores do Mídia Ninja, Pablo Capilé e Bruno Torturra, eram os entrevistados, resolvi fazer minhas considerações.

O Mídia Ninja se auto intitula como um “coletivo de jornalismo”. Onde NINJA, neste caso, não é um agente secreto japonês, que usa artes de guerra não ortodoxas, como algum desavisado poderia imaginar. NINJA, neste caso, significa Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. No entanto, o que diz a sigla, junto com o que temos acompanhado da atuação do grupo, confirma que a relação dos nomes também não é mera coincidência.

Tenho muito respeito por quem já viveu mais do que eu.  E acho que quem é jovem tem muito que aprender com quem já viveu mais, já trabalhou mais, já apanhou mais. E também acredito no contrário, que pessoas mais velhas sempre têm o que aprender com os mais jovens. Mas, infelizmente, nem sempre essa recíproca é verdadeira. E isso, se aplica a tudo. Também ao jornalismo. Exemplo disso foi a postura de alguns jornalistas calejados, da grande imprensa, na atuação como entrevistadores dos “garotos” da Mídia Ninja, no Roda Viva. É triste perceber que alguns jornalistas, que já podem até terem sido “diferentes”, desistiram, e hoje, apenas dançam conforme a música.

Sabemos, é claro, que a intenção do Programa Roda Viva, cujo formato praticamente “encurrala” os entrevistados, é questionar, controverter, debater exaustivamente um tema. E é isso que sempre o fez interessante. No entanto, achei curiosa a postura de alguns entrevistadores. Eis a minha impressão sobre isso: alguns dos jornalistas, como a colunista da Folha de São Paulo, Suzana Singer, estavam visivelmente incomodados com as críticas (diretas) dos entrevistados à imprensa convencional; também achei bem ruim a mediação feita pelo jornalista Mario Sergio Conti, que conduziu o programa como se pensasse lá com seus botões “... seus comunistinhas de mierda, vocês vão crescer e ver que não é assim que funciona”; enfim, foi patético, o esforço dos que tentaram passar a imagem de isenção e imparcialidade da mídia que representam, e deles próprios. Não colou!

É fato que a Mídia NINJA está incomodando alguns, e por isso, estão sendo julgados - a priori - como um grupo nem tão independente assim, que tem ligação com partidos políticos e outros movimentos organizados, que já recebeu financiamento público através do Fora do Eixo, grupo de onde a Mídia Ninja se originou. Enfim, são muitas as tentativas, geralmente veladas (o que é pior), de desqualificá-los enquanto jornalistas independentes, que tem como objetivo principal transmitir informação com qualidade. E não estamos falando de qualidade tecnológica, já que basta um smartphone, um laptop e acesso 3G para que transmitam ao vivo as manifestações e atualizem a sua página no facebook. Quando me refiro à informação de qualidade, estamos falando em informação verdadeira, em tempo real, sem edição, sem filtros, independente.

O fato é que a Mídia Ninja é um “movimento” dos mais interessantes que apareceram nos últimos tempos. Tem gente que insiste em dizer que isso não é jornalismo. Perdoem a minha ignorância, mas, se não é jornalismo, é o que, José?

Eu gosto da ideia de ter a oportunidade de acompanhar uma cobertura jornalística consciente, de qualidade. E é claro que os responsáveis por essa cobertura tem um posicionamento político claramente de esquerda, o que é dito em tom de ‘acusação’ por algumas pessoas, ou mesmo, por outros jornalistas, que como falei ali no começo, tentam vincular a Mídia Ninja a partidos e organizações para desqualificar a sua atuação. Acho honesto e natural que jornalistas tenham o seu ponto de vista, suas convicções, o que não necessariamente, tornará uma cobertura tendenciosa. Acho bem pior, jornalistas que fingem uma isenção que não existe.

Gosto também da ideia que o grupo está lançando, de uma campanha de financiamento coletivo para suas despesas, o que, em minha opinião, é fundamental para garantir a independência que tanto prezam.
Gosto também da ideia de que muitos jornalistas jovens estão procurando associarem-se a Mídia Ninja, como colaboradores. Isso prova que nem tudo está perdido.

O negócio é que eu gosto dessa tal de Mídia NINJA! E até que se prove o contrário, eles vieram mesmo com a ideia de revolucionar o jornalismo, com simplicidade, transparência, coragem e independência, enfim, uma lógica completamente diferente do que virou o jornalismo da grande imprensa, o jornalismo tradicional. Que sobrevivam nessa “selva”!

Yááááá!!!!