20 de setembro de 2013

Gentileza. E o poder que ela pode ter.

Gentileza é pra mim, uma habilidade fundamental no ser humano, e que pouca gente tem. Ou esquece de usar.

Se você acha que gentileza é um papo careta, se engana. É das qualidades que mais carecemos hoje. É vanguarda pura, meu caro! E diante de tanta brutalidade da vida, acredito que, aos poucos, as pessoas irão descobrir o poder que ela tem, e mudar de atitude em relação ao mundo e as outras pessoas.

Outro dia, cheguei em casa dizendo: “Ah, como eu adoro encontrar pessoas gentis pelo caminho”! Desde aquele dia, tenho pensado nisso... E hoje, levando as crianças para escola, gentileza foi o nosso tema do dia, no carro. Afinal, não há lugar mais apropriado do que o trânsito, para ensinar, praticar e receber gentilezas.

Gentileza tem sido, portanto, um assunto recorrente nos últimos dias, o que me motivou a divagar um pouco sobre isso. Só lamento, que não seja uma atitude recorrente na vida de muita gente por aí.

Infelizmente, nos surpreendemos com atitudes de gentileza, que deveriam ser naturais, porque ainda não entendemos os efeitos, e não descobrimos como a gentileza pode transformar o dia e a vida, de quem recebe e de quem faz.

E olha só, eu não estou falando da gentileza que é “etiqueta”. Tipo puxar a cadeira para alguém, ou abrir a porta do carro. Estou falando da gentileza que está nas ações e palavras do dia a dia, a gentileza que está nos detalhes que quase ninguém percebe. A gentileza que está nas palavrinhas mágicas que nos ensinaram quando crianças, e que muitas vezes a pressa nos faz esquecer. A gentileza que evita mal entendido, que faz as pessoas sentirem-se consideradas, e que afasta a indiferença e a hostilidade. É dessa gentileza que falo.

A gentileza que é democrática, que todos podemos ‘dar e receber’, ricos e pobres; gordos e magros; brancos e negros; cristãos ou ateus; fãs do Naldo ou do Lemmy; vegans ou comedores de bacon; o empresário ou o garçon, enfim, gente. Toda gente merece. Tá bom vai, tem uns e outros que nem tanto, mas...

Ah, e há os que acham que ser gentil pode “comprometer a sua imagem”, se é que me entendem. Confundem gentileza com subserviência. Uma grande besteira. A gentileza é pra mim, uma das maiores virtudes de um ser humano, porque ela garante muitas outras. A gentileza é conciliadora, melhora as relações, transforma humores.

Gentileza é atenção, é cordialidade, é calma, é educação, é cuidado, é paciência. Gentileza é amor, simplesmente porque o amor deve ser sempre gentil, ou um dia ele desencanta.

Conviver com pessoas gentis faz uma puta diferença na vida. Mas, também tem uma coisa, ser gentil com quem você conhece e por quem você tem afeto é fundamental, mas é mais fácil. A diferença está em ser gentil com os outros, com o porteiro, com a caixa do supermercado, com o carro do seu lado, com as crianças, com o pedestre, com o idoso, com todo mundo.

Tudo bem, sabemos que ninguém dá conta de ser gentil o tempo todo, tem dias que você ´dorme com a bunda descoberta’ e tem vontade é de mandar a merda! Não passe vontade, que não faz bem pro fígado. Mande à merda, quem merece. Mas, faça com que esse dia seja a exceção, se não, viver fica bem chato, e triste.

Acho sim, que gentileza tem (também) a ver com a personalidade de cada um, e por isso existem pessoas naturalmente gentis. E acho também que gentileza não dá pra forçar, não se finge. Mas, seguramente, se aprende. Basta praticar.

Meus desejos: Que a falta de tempo, de grana, de um amor, de saco, os prazos curtos, o trânsito, que nada disso seja desculpa para a falta de cuidado e gentileza com as pessoas, afinal, motivos não nos faltam para sermos menos humanos. Que as pessoas percebam que respeito e gentileza são atemporais, e não coisas do tempo da sua avó. E que todos tenhamos uma visão mais generosa do mundo, mesmo quando a vontade é mandar tudo a merda.

E você, tem sido uma pessoa gentil?  Uma sugestão: faça essa pergunta sistematicamente a si mesmo. Eu tenho feito, e os efeitos são bons. São dois, pelo menos: autocrítica e mudança.

A vida toda ouvimos que a pressa é inimiga da perfeição. Infelizmente, não é só da perfeição que a pressa é inimiga. Da gentileza também. A pressa e a rotina nos cegam, e nos deixam insensíveis para perceber o outro, e suas necessidades, que poderiam ser atendidas ou amenizadas com atitudes simples, de cuidado, de atenção, de gentileza. Pensemos nisso. Sem medo de ser felizes, e gentis!

Enfim, eu não perco a fé nas pessoas, apesar dos pesares... Me disseram, um tempo atrás, que a minha ingenuidade pra certas coisas "é quase hippie". Eu agradeci, e disse que vou morrer com ela. Mas falei com toda gentileza. 


7 de setembro de 2013

Sete de setembro. Um dia para reflexão.

Quem, como eu, freqüentou os bancos da escola, aprendeu desde sempre a amar a pátria, cantar os hinos, respeitar a bandeira brasileira, comemorar a independência, enfim, símbolos da história do nosso país, e que se transformaram hoje em que? Cantamos o hino e até nos emocionamos com isso, numa vitória da seleção brasileira numa Copa do Mundo, ou com um judoca medalha de ouro numa olimpíada; hasteamos a bandeira em eventos e datas comemorativas; alguns ainda assistem ao desfile de 7 de setembro, cada ano mais esvaziado, porque agora o espaço é ocupado também por manifestações por melhores condições de vida, como o Grito dos Excluídos, e outras manifestações como as que vêm ocorrendo nos últimos meses... Tudo isso nos obriga a reflexão. Qual é o real sentido e importância, hoje, de se comemorar a Independência, além da praxe? Pra mim, nenhuma.

Não faço aqui nenhuma análise profunda da história, mas para perceber o que vou dizer, isso nem é necessário. Está aí pra quem quiser ver.

O problema é que nessa mesma escola, esqueceram de nos contar, ou contaram superficialmente, como conquistamos essa tal independência, e o que veio antes disso. O fato é que a nossa história começou mal. Começou com escravidão e morte, dos povos que já estavam por aqui antes de virarmos colônia de Portugal, e foram praticamente dizimados, pela ambição de impérios e monarquias que só queriam conquistar territórios e conseguir mão-de-obra escrava para enriquecer ainda mais.

Aí, Dom Pedro cansou e gritou “Independência ou Morte!” as margens do Ipiranga, com o objetivo de conquistar autonomia política e estabelecer o fim do domínio português. Seria uma maravilha se a independência fosse pra todos. O fato é que desde lá, não é pra todo mundo. Os pobres nem acompanharam o significado dessa independência, já que a escravidão foi mantida e a desigualdade permaneceu. A renda, como até hoje, se concentrava na mão de poucos. E é por isso, que quando fazemos qualquer crítica, por mais pertinente que seja, nunca devemos esquecer que o problema do nosso país é histórico. Devemos continuar sempre em busca das transformações, que são necessárias e urgentes, mas, apesar dessa frase ser lugar comum, a mudança deve começar em nós mesmos. Devemos nos transformar interiormente e depois exigir dos outros, que revejam e abandonem essa cultura escravocrata, preconceituosa e desigual.

Somos mesmo independentes??? De Portugal, sim, desde 1822. Mas, pra mim, e felizmente pra muitas outras pessoas, um país só será verdadeiramente independente quando cada pessoa que nele vive, for independente.

E o que precisamos para ser independentes? Precisamos de EDUCAÇÃO, mas com um ensino de qualidade, que forme cidadãos críticos, com pensamento livre. Precisamos de SAÚDE, uma saúde que atenda TODAS as demandas da população, desde saneamento básico, prevenção de doenças, até a necessidade de uma cirurgia complicada. Precisamos de SEGURANÇA, que nos garanta o direito a vida e a liberdade de ir e vir. Precisamos de MORADIA para todas as pessoas. Precisamos de TRANPORTE PÚBLICO de qualidade, para não precisarmos brigar mais, nem pelos R$ 0,20 centavos. Precisamos de COMIDA pra toda a população. Comida gente, comida... Para não precisarmos mais do Bolsa Família, por exemplo, e nem ter que ouvir tantas críticas desinformadas e preconceituosas. Precisamos ainda de TRABALHO, de LAZER, de CULTURA, enfim, tudo que garanta uma vida digna a todas as pessoas.

Quando a dignidade for universal em nosso país, seremos verdadeiramente um país independente. Enquanto isso, quem quiser pode continuar assistindo as fanfarras e desfiles militares, e admirando a simbologia vazia, da qual “fomos convencidos” na escola.