26 de novembro de 2013

Em breve, 36! Posso dizer que até aqui, gostei do que vi.


Há uma semana de completá-los, tenho pensado muito em tudo o que tem acontecido na minha vida, e em tudo o que implica trocar de idade. Na verdade, no número de anos em si, quase nada. Agora, o tempo é realmente implacável, para o bem e para o mal. Tenho refletido sobre os 36 anos, como em nenhuma outra idade. Sintomático? Não sei. Pra você que tem mais, deve ser engraçado ler, pra você que tem menos, deve estar achando que vai demorar a chegar (ledo engano!). Mas esse é o momento que eu vivo, e resolvi dividir minhas percepções e considerações sobre ele. Que, aliás, ficaram muito mais longas do que eu esperava, culpa dessa minha mania de escrever demais. Concisão e objetividade ZERO, mas só pra escrever. E sim, o primeiro parágrafo foi o último, como sempre fiz com as minhas redações e às vezes, com a minha vida, começar do final.

Não sinto vontade de ter 20 ou 25 anos, mesmo porque, digo que terei sempre 18, mas principalmente, porque me sinto bem melhor hoje do que aos 20, em todos os aspectos.

Várias descobertas até aqui. Descobri que depois dos 30 as mulheres são mais honestas e diretas, e que isso é muito bom. Que continuo adorando ler. Que tomo muito café, e gosto. Que quanto mais descabelada melhor. Que é ótimo ser dona das minhas decisões e escolhas. Que ainda tenho muito o que aprender. Que no fundo, continuo com a mesma timidez (tem gente que não acredita nela), que me acompanhou a vida toda. Que definitivamente, não se pode ter tudo o que se quer. Que ser absolutamente honesta com os seus próprios sentimentos te faz uma pessoa melhor. Que não dá pra ser só feliz, algum sofrimento faz parte. E que a “maturidade” permite uma certa loucura, já que as condições para lidar com os possíveis "BOs" são melhores.

Aprendi também que maturidade, não se traduz em “ganhar” cada vez mais anos, ela é conquistada através da curiosidade, da informação, da teimosia, da coragem, do conhecimento, da segurança... Ficar mais velha é só a parte ruim de todo o resto, que é bom.

Me conheço muito melhor hoje, conheço meus limites, mas às vezes ainda os ultrapasso. Mas não sou mais tão complacente com os meus defeitos. Os reconheço: teimosa, impulsiva, indisciplinada com algumas coisas, ansiosa, controladora (esse último vai pra conta do Márcio, não acho que seja...
J). Devo ter muitos outros, mas não sou eu que vou revelá-los. Apesar de cabeça dura, tento melhorar sempre.

Concluí também que pintar o cabelo uma vez por mês para esconder os brancos, a barriga mais saliente do que eu gostaria, as celulites, as ruguinhas que começam a aparecer, entre outras coisas indesejáveis, até que é um preço honesto pelo o que eu ganhei até aqui. “Não há parto sem dor”.

Estou aprendendo a não chorar pelo que passou, ou pelo o que não é como eu gostaria, ou chorar pouco e baixo. E apesar de ainda chorar, sempre prefiro rir.

Falo sempre o que penso, sem vergonha, sem melindres e sem pudores. Em alguns momentos falo demais, não em quantidade, mas em “conteúdo”, e às vezes, não da forma mais apropriada, mas é sempre a verdade. A minha, claro. Apesar disso, aprendi a ouvir mais do que falar, mesmo ouvindo muita asneira de vez em quando. Nesse caso, abstrair é a palavra.

Valorizo meus amigos e amigas com toda a força do meu coração, os velhos e os novos, cada dia mais. Apesar disso, muitas vezes, sou relapsa com todos eles e por isso usarei a justificativa mais clichê e verdadeira que existe: o tempo e a distância (e a displicência) não são capazes de abalar uma amizade verdadeira.

Percebi que preciso cuidar mais de mim, da minha saúde e do meu corpo. O que está me custando tempo, energia e dinheiro. Pode valer à pena, mas demora.

Estou controlando melhor o “sentido de urgência” que tenho quando quero alguma coisa. Isso ainda não está resolvido. Still working...

Aprendi que generosidade, gentileza e gratidão deveriam ser obrigações. E as chatices verdadeiras, abolidas. Exercito sempre.

Percebi que sou uma mãe apaixonada, dedicada e imperfeita. Como todas as outras.

Gosto do meu senso de humor e da minha verve rock n’ roll. Gosto de falar besteira, mas também de conversar sério (só às vezes). Aprendi a receber elogios sem ficar tão desconcertada, mas ainda não reajo direito a eles. Gosto de fazer feliz as pessoas que eu amo, mesmo sabendo que nem sempre isso é possível.

Não sei exatamente como deve se comportar uma mulher de 36 anos. Mas confesso que isso não é uma grande preocupação. Prefiro ser de verdade. Só sei que gostei muito de aprender a dizer não; de não me preocupar, essencialmente, com o que as pessoas pensam, apenas respeitá-las; de me sentir mais segura diante de tudo; de me permitir dizer um foda-se bem grande quando necessário (recorrentíssimo!); de ter mais coragem; de ser intensa; de não guardar sentimentos (nem os bons e nem os ruins); e de jamais deixar de viver ou dizer qualquer coisa por orgulho. Isso trava e entristece a vida.

O que mudou? Além de tudo dito ai em cima, só a quantidade de cremes utilizados (um saco, mas necessários); a consciência de que não é mais possível ficar sem alguma atividade física (maldito Isaac Newton!), e a percepção de que não preciso de muito para ser feliz. Apenas de amor, família, amigos, um pouquinho de inteligência, uma cerveja de vez em quando, um pouco de paciência e bom humor... Não falei que era pouco?!

Apesar de não ser muito simpática a aforismos, alguns me descrevem e divertem. Minhas frases para hoje: “Quem não me entende, não me conhece” e “Se um dia a vida me der as costas, passo a mão na bunda dela”. (Betão feelings!)

A música tema para o momento é um samba do Cartola, a mesma dos últimos aniversários: “A sorrir, eu pretendo levar a vida, pois, chorando eu vi a mocidade perdida...”.

Posso dizer, enfim, que até aqui, gostei do que vi.

Fim.

E começo... Começo de um novo ano de vida. Tenho várias resoluções para ele, mas essas, são só minhas.

P.S. Grata pela paciência de quem chegou até aqui.

21 de novembro de 2013

Que cor é a sua consciência?


Hoje é o Dia da Consciência Negra, e desde ontem, lendo muitos posicionamentos na rede e na imprensa, de todos os tipos, fiquei pensando sobre o significado desse dia, e mais ainda sobre os motivos. 

Vou partilhar algumas reflexões, deixando claro que não sou nem negra e nem antropóloga, portanto, falarei com a propriedade de uma cidadã que se indigna, que não gosta de ficar quieta, e que é uma branca tão negra quanto branca, é brasileira, e teve "sorte", porque ensinaram pra ela desde criança que somos todos iguais, todos gente.

Pra começar, é claro que sabemos que no Brasil, ao contrário do que muita gente insiste em apregoar, não existe democracia racial porra nenhuma.

Se houvesse, o sistema de cotas não seria necessário; 73% dos beneficiários do Bolsa Família não seriam negros; você não atravessaria a rua a noite se visse um “negão” na mão contrária; os presídios não estariam abarrotados da maioria negra; os meus filhos não conheceriam apenas um negro (o menino do 7 ano) na escola em que estudam; as taxas mais elevadas de analfabetismo e mortalidade infantil não seriam privilégio dos negros, enfim, são muitos os exemplos possíveis, que demonstram a desigualdade, a segregação, o preconceito.

Aliás, outra coisa que me ocorreu, e que também já estamos cansados de saber, é que o preconceito antes de ser racial é social. Sim, porque tem o Pelé, o Joaquim Barbosa, o Gilberto Gil, e outros poucos, menos famosos, mas que conseguiram ser juízes, médicos, esportistas, ricos e conhecidos. Aí, tudo bem, ele é negro, mas tem dinheiro, status, “agrega valor” ao camarote. Neste caso, até dá pra forjar uma igualdade hipócrita e nojenta. Agora, irmão, se você nasceu preto E pobre, e não deu sorte, você tá fudido!

Tem Negro filho da puta? Ô se tem. Muitos. Assim como tem Branco filho da puta, Japonês filho da puta... Pensando bem, será que tem japonês filho da puta? É que eu não conheço nenhum...

Enfim, não estou dizendo que os negros são bonzinhos e coitadinhos, pelo contrário, me incomoda quando, apesar de toda história, vejo discursos de negros que padecem de um profundo complexo de inferioridade, quando na realidade, tem todas as justificativas e motivações para reagir contra a discriminação, radicalmente se for o caso. E hoje, não estão sozinhos. Estão organizados em muitos movimentos, contam com a lei e contam, pasmem, com os brancos. Sim, os brancos que são tão negros quanto brancos. Os Brancos que entendem o que é o Brasil, e mais do que isso, o que é o ser humano, o que é a vida.

Como o racismo no Brasil é crime inafiançável e, além disso, é “fora de moda”, é politicamente incorreto, os brancos que não são tão negros quanto brancos, são só brancos, se esforçam para disfarçá-lo. Vez ou outra ele aparece publicamente, no menino que foi enxotado da loja por acharem que era trombadinha, e era só o filho adotado do casal; no jogador de futebol que fez uma lambança e é chamado de macaco; no jovem que foi a padaria na esquina de casa, sem documentos, e foi levado para averiguação... Motivo? Além de ser negro? Não se sabe... Ok, esses episódios são eventuais, porque o racismo no Brasil não é escancarado, a sociedade não admite ser racista ou preconceituosa. E aí, ele acontece nas sutilezas do dia a dia, que sabemos, mas não sou capaz de expressar, apenas de imaginar, só quem é negro pode. Talvez uma frase da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, ilustre o que eu quero dizer: “Quem quer saber o que é ser negro, seja negro por apenas 48 horas”.

É claro que muita coisa mudou, desde que os portugueses trouxeram os primeiros negros para o Brasil e os escravizaram. Tivemos avanços. Os negros conquistaram a “liberdade” com a abolição da escravatura, e então, começaram uma luta árdua e permanente para uma participação legítima e igual na sociedade. E aí? Levanta a mão quem acha que os negros conquistaram uma participação legítima e igual na sociedade? Não. De lá pra cá, eles sempre foram colocados em condição de inferioridade, sendo explorados e oprimidos. E sejamos honestos, o artigo 3 da Constituição Federal está bem longe de ser absolutamente cumprido.

Meu desejo, e sei que é o de muita gente também: Que o racismo que está impregnado na cabeça e no coração das pessoas, que sabemos que é cultural, histórico, mas assim mesmo, injustificável, dê lugar a consciência de que sangue negro corre nas nossas veias, e de que é insano pensar que alguém possa ser superior ao outro pela cor da pele. Que qualquer resquício de preconceito, dê lugar a consciência de que branco, negro, amarelo ou pardo, é tudo gente. 

E salve o Zumbi dos Palmares!

14 de novembro de 2013

FODA-SE o camarote! Carta ao Enzo.

Papo reto com meu filho, Enzo.

Uma carta que escrevi, motivada pela minha indignação ao assistir ao vídeo do “Rei do Camarote” (segue o link abaixo para quem ainda não viu e tiver curiosidade). Já falaram que é verdade, já falaram que é fake, enfim... O que importa é que idiotas como esse ainda nascem todos os dias. Por isso, aproveito o embalo para dar alguns conselhos para o meu filho. Ele não vai lê-la agora, ele só tem 10 anos. Vou esperar que a sua capacidade de compreensão alcance tudo o que isso significa, e que ele tenha idade para frequentar camarotes ou o Bar do Jaime. Voto na segunda opção, fácil!

Vídeo-piada:

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Ao meu filho, Enzo. Sobre os Reis dos Camarotes.

Meu filho, além de ensiná-lo como eu acredito que deva ser a vida; além de ensiná-lo a escovar os dentes direito; além de ensiná-lo a importância da leitura; além de ensiná-lo a respeitar o porteiro, a professora e até os Reis dos Camarotes... Te peço, fique longe deles, dos Reis dos Camarotes. Eles não tem nada a oferecer, além da imagem, da ostentação, do papo mais idiota que já ouvi, do completo desrespeito pelas mulheres e das champanhes estreladas... Se é pra piscar, lembra daquela musiquinha: “pisca o cu e balança o saco!”.

Meu filho, ao contrário do que os Reis dos Camarotes pensam, homens para serem interessantes e atraentes, para mulheres que valham a pena, não precisam de Ferraris, Chandons, seguranças, camisas Gucci ou o cacete a quatro. Precisam de alguma inteligência, de jeans e camiseta, de papo bom, de senso de humor e de atenção e respeito com as mulheres.

Meu filho, nunca saia por aí dizendo quem comeu no banheiro da balada, mesmo que não for casar com ela. Por dois motivos. Porque as suas aventuras sexuais não interessam a ninguém, e porque homens que detonam qualquer mulher depois de transar com ela, seja ela quem for, são inqualificáveis, eu diria. E quando é mentira então... Como parece o caso do tal rei do camarote, ou alguém acredita que ele realmente comeu alguém no banheiro da balada???  Putz, aí são passíveis de pena mesmo! Aliás, meu filho, banheiros de baladas costumam ser bem sujos, escolha melhor... Bom, deixa pra lá!

Meu filho, não é de hoje que os homens procuram (a priori) as mulheres bonitas. Mas ouça uma coisa importante: Fuja das mulheres lindas e sem nada dentro, essas não valem a pena, e podem ser bem chatas. Por aí está cheio de mulheres lindas, pensantes e cheias de vida, essas valem a pena. Há também as não tão lindas, mas de tão pensantes são as mais interessantes e ficam lindas, essas também valem a pena. As só lindas enfeitam e iluminam camarotes, as outras, podem iluminar a sua vida. O salto alto e a beleza, sozinhos, podem resolver o “problema” do sexo, bom também. Mas jamais resolverão o problema da essência, que um dia você vai precisar. Afinal, ninguém resiste muito tempo à ausência de conversa.

Meu filho, definitivamente, não precisa de camarote ou nada que o valha pra se divertir e ser feliz. Faça o que te deixa feliz e vá aos lugares onde estão as pessoas que te fazem bem, independente do lugar. Pode ir num boteco pé sujo tomar uma Ypióca ou uma Bhrama trincando, ou pode ir ao melhor PUB da cidade tomar uma Brewdog (que seu pai adora!) ou uma Fuller´s (que a sua mãe adora!). Ah, e trabalhe pra cacete, porque cerveja boa custa caro! O importante é com quem e não onde, sacou?

Meu filho, resumindo: FODA-SE o camarote! Lá é lugar de gente chata e superficial. Lá estão as "melhores" coisas e pessoas que o dinheiro pode comprar, e isso é muito pouco. Siga o exemplo da mamãe: Nem de boate eu gosto. Mas seja onde for, num show, num bar, numa festa... Eu sempre preferi a pista. Lá, pisam no seu pé, você sua pra cacete, não dá pra ver direito e podem até mijar na sua cabeça, mas é infinitamente mais divertido, e de verdade. 

Meu filho, espero que você também prefira a pista!