20 de janeiro de 2014

Não está tudo fudido, não! Só a auto-estima do brasileiro.

Uma das coisas que me impressionaram na viagem a Buenos Aires é a auto-estima dos argentinos. A fama é conhecida, mas agora “experimentei” de perto. Uma auto-estima que beira a arrogância, às vezes. Mas só um país com boa auto-estima consegue manter viva e bem preservada tanta história, através de seus monumentos, prédios, praças, ruas e principalmente da sua gente. Não é a toa que Buenos Aires não pára de crescer como um grande destino turístico, e sagrou-se a “capital europeia” da América Latina, o que já não dá lá muito crédito, considerando a situação atual de muitas capitais europeias (mas isso é outro assunto, voltemos...). E isso tudo apesar dos imensos problemas sociais e econômicos que enfrentam e conhecemos bem. Aliás, enfrentam mesmo, vão pra rua, lutam pelos seus direitos, ocupam os espaços públicos, brigam, esculacham o governo, mas me parece não perderem nunca o sentido de pertencimento àquela pátria, e a defendem acima de tudo. O que é bem diferente do complexo de inferioridade e a “raiva”, eu me arrisco a dizer, que desenvolvemos no Brasil pelo Brasil, ao longo da nossa história.

Pois é... Comecei com a Argentina, mas quero mesmo é falar de nós, brasileiros. Motivada pela vontade de entender o que realmente passa na cabeça das pessoas que só achincalham o Brasil, mas nem por isso planejam ir morar em Zurique ou Copenhague. Basta “passar um pano” no Facebook e vai entender o que quero dizer. Pra mim, por enquanto, uma certeza: Somos um povo contraditório. Somo alegres, festeiros, empreendedores e temos fama de cordiais. E ao mesmo tempo tratamos mal a nossa própria gente e o nosso próprio país.

Tem gente que é implacável nas críticas contra o Brasil.  E que prontamente reproduz qualquer informação ruim, mesmo sem ter certeza da veracidade, xinga, critica, esculhamba. Agora, quando ouve uma notícia boa, não dá valor. Pelo contrário, logo pensa, ou pior, diz: “ah, isso aí é mentira, informação plantada por esse bando de políticos filhos da puta”. Isso pode ser verdade? Claro, e infelizmente. Mas mesmo quando a notícia é séria, divulgada por Institutos e pessoas sérias tem gente que faz questão de achincalhar. E muitas vezes, simplesmente por ter uma postura ideológica diferente, ou por ignorância ou mau caratismo mesmo. A verdade é que as pessoas confundem Nação com Governo. Ninguém é obrigado a gostar de quem está no governo, mas isso não é a mesma coisa que torcer sempre contra o seu país.

É claro que temos muitos motivos para nos indignar e decepcionar com acontecimentos que ocorreram e ocorrem em nosso país. É claro que a realidade esfregada na nossa cara diariamente, como as desigualdades sociais; a decepção com muitos dos nossos representantes políticos; todos os tipos de preconceitos; nossas taxas de analfabetismo; a violência; enfim, nada disso é capaz de provocar um sentimento ufanista. Mas daí a repetir incansavelmente frases como: “ O Brasil não tem jeito mesmo”; “Eita paizinho de merda”; e outras coisas do tipo tem uma larga diferença, e uma boa dose de má vontade. Diante disso, me resta acreditar na constatação de que nós brasileiros (ou uma boa parcela de nós) temos uma péssima auto-estima. O que pode não ocorrer com você pessoalmente, mas como povo, como sociedade, como país, sim.

E penso também que a auto-estima de um povo não depende só do desenvolvimento social, econômico e cultural do seu país. Depende também da postura das pessoas diante da vida. De ter uma visão otimista e positiva do futuro, e mais do que isso, de fazer a sua parte, de buscar as transformações. Agora é a hora que você vai pensar: essa coisa de cada um fazer a sua parte soa como um velho “clichezão”. Pois é, e nem assim...

Somos um país rico em gente. Isso é muito bom, e ao mesmo tempo um problema. Porque temos todo tipo de gente. Gente demasiadamente burocrática. Gente demasiadamente egoísta. Gente demasiadamente sonhadora e idealista. Gente demasiadamente acomodada. Gente demasiadamente capitalista. Gente demasiadamente insatisfeita. Gente demasiadamente irônica. Gente demasiadamente critica. Gente demasiadamente alienada. Gente demasiadamente ignorante. Gente demasiadamente trabalhadora. Gente demasiadamente vagabunda. Gente demasiadamente arrogante. E ainda temos gente demasiadamente com fome, sem educação e sem saúde. E também gente letrada, e ainda assim ignorante. Todo o tipo de gente. E todo tipo de gente misturados também dentro da gente. Ainda assim, quero acreditar que somos - e seremos sempre - gente capaz de absorver e lidar com tantas contradições.

Será mesmo que o Brasil não tem jeito? Será mesmo que somos bons apenas em samba e futebol? Será que não estamos acomodados demais no pensamento que “já fudeu mesmo”? Será que nos sentiremos o resto da vida a colônia coitada e desvirginada por Portugal?

Por que não somos capazes de no dia a dia dar o mesmo “show de civismo” que damos  ao torcer pela Seleção  Brasileira de Futebol?  Estamos nos preparando pra fazer isso na Copa do Mundo, que será “nossa”. Isso é uma outra coisa que eu gostaria de entender. Lá entoamos o hino, nos emocionamos, gritamos pela seleção. E é futebol. Depois reclamamos que nos conhecem apenas pelo futebol, o carnaval, as mulatas e os macacos da Amazônia.

Quero dizer que não tenho nada contra o futebol, ou torcer pela seleção. Adoro futebol e também vou torcer pela seleção. E sobre o que dizem as más línguas, que futebol é um dos ópios do povo, só tenho uma coisa a dizer: que seja! Um pouco de ópio no meio de tanta realidade não faz mal a ninguém.

Respondendo o que perguntei ali em cima: Sim, pra mim, o Brasil tem jeito. E o jeito é a gente que começa a dar. Cada um de nós.

Não tenho nenhuma intensão de ter um discurso nacionalista ou ingênuo. Eu simplesmente não entendo quem tem vocação para passar a vida amargurando coisas ruins. Ou quem passa a vida reclamando de tudo, com e sem razão. E se pensarmos que podemos morrer amanhã, atropelados por uma jamanta, ou de qualquer outra maneira, pode ficar mais fácil superar tanta amargura e tentar buscar felicidade em todos os momentos. Sem drama, mas é isso. Com relação ao Brasil e tudo o que acontece nele, a ideia não é se acomodar e aceitar. A ideia é se posicionar sempre, brigar pelo o que acredita, criticar o que está errado, mas sem deixar de reconhecer o valor que temos e tudo que já conquistamos nos (ainda breves) quinhentos e poucos anos de vida.

Meu desejo: Que consigamos superar esse teimoso complexo colonial e passemos a enxergar também o que temos de bom, e agora, eu não estou falando de futebol, carnaval e mulher bonita, não. Eu estou falando de gente valorosa, de recursos naturais abundantes e exuberantes; de um país que vem conquistando espaço e respeito no mundo, apesar de toda torcida contra.

Para acabar, tudo isso é pra dizer que apesar dos pesares, daqui eu não saio, nem pra Dinamarca. Ah, e pra dizer também que muita amargura faz mal para o fígado e para alma.