10 de setembro de 2014

MÃE CULPADA é pleonasmo???


Pois não deveria ser.

Então, eu também sou dessas. “Das culpadas”. E o clichê que a culpa é inerente às mães é um dos mais verdadeiros que eu conheço. Mas para a minha sanidade e para o bem estar das crianças estou cuidando disso.

E a “alguma culpa” que eu ainda sinto - e é provável que vá sentir sempre - me motivou a escrever aqui, pra redimir, pra dividir, porque também pode servir pra você, outra mãe.

É bom já não sentir a mesma culpa de tempos atrás. Talvez porque os meus filhos já tenham 10 e 13 anos, o que já lhes confere alguma independência e a mim, complacência. Eles dizem que a mãe “é louca”, mas sei que pra eles isso é um elogio, então pra mim também é.

Antes me culparia muito mais quando só consigo sair as 20h do trabalho e chego no fim do dia deles, quase na hora de irem pra cama. Nesse dia, o jantar atrasa e eu me culpo (mas não devia) porque eles já estão “morrendo” de fome e sono, mas fazem questão de me esperar.

Me culpo quando chego cansada e com nenhuma vontade de olhar a tarefa daquele dia.

Me culpei quando tive que tirar a chupeta deles. Achava uma crueldade, necessária. E ouvir aquele choro sofrido me fazia chorar junto, escondida. Mas passou, e rápido.

Me culpei nas vezes que deixei passar a hora certa de dar o remédio. Mas dei depois e eles sararam.

Me culpei por não ter conseguido fazer parto normal, que eu queria muito. E olha aí, a culpa está explícita nessa frase “...por não ter conseguido”. Simplesmente não deu. O fato é que demorei um pouco pra me convencer disso, mas passou.

Me culpo quando acho que eles não estão “se comportanto” como acho que deveriam. Penso: onde estou errando???

Me culpo quando pego eles na escola, almoçamos correndo e quando estou saindo pra voltar ao trabalho, eles perguntam: “Ah mãe, não pode ficar mais um pouco com a gente?”

Enfim, me culpo, ou já me culpei, por muitas outras coisas, mas já deu... É muita culpa pra uma catarse só.

A verdade é que pra mim e pra maioria das mães dos nossos tempos, a razão maior da culpa é o pouco tempo com as crianças. E isso, com o espaço que a mulher assumiu na sociedade, no mercado de trabalho, na parceria com as responsabilidades financeiras da família e em todos os espaços que foi ocupando, é definitivamente irreversível.

E contra toda essa culpa me convenço todos os dias que nenhuma convenção é mais importante do que o nosso entendimento e de que nenhum filho espera uma mãe perfeita. Esperam uma mãe, com tudo que isso implica, uma mãe de verdade. E que pra eles é muito mais vantagem uma mãe satisfeita com seu trabalho, com a sua vida, independente, realizada e feliz, do que uma mãe “sem culpa”, frustrada e infeliz. Eles querem ter a quem se espelhar e de quem se orgulhar. Eu sei, porque comigo foi assim.

Por isso, hoje já não sinto (tanta) culpa de trabalhar o dia todo e deixá-los na escola e em casa; nem culpa de esquecer alguma coisa que me pediram pra trazer naquele dia; nem culpa de atrasar um pouco o jantar ou pra pegá-los na escola; e nem de deixá-los um dia ou uma noite na casa dos avós simplesmente pra sair e me divertir. Aliás, os avós adoram.

Me dei conta que a culpa pode ir sendo substituída por tudo o que é bom na relação com os filhos, pela cumplicidade dos momentos juntos, pela confiança, pelas trocas e pelo o amor. Esse, indiscutível.

Aqui em casa, as regras são claras, mais claras que as do Arnaldo (o Cesar Coelho), mas a diversão e a alegria também são. Com exceção dos finais de semana, eles tem horários certos pra dormir e acordar. Eles tem horário e supervisão pra ficar na internet ou no vídeo-game. Eles não tem facebook, como quase todas as outras crianças e adolescentes da idade deles. Eles não comem miojo. Eles tem que comer verduras, legumes e pelo menos duas frutas por dia, e anotam pra eu chegar no fim do dia e saber quais foram. Eles tem horário pra fazer tarefa e pra brincar. E eles tem bastante tempo pra brincar, o que acho fundamental. Mas isso tudo, são escolhas que fizemos, é a nossa forma de educar. Cada um tem a sua e eu respeito isso, porque as pessoas, os conceitos, as rotinas, as vidas são diferentes, até entre as mães.

E apesar de toda disciplina que temos em casa, porque acho sim que os limites são fundamentais, sei que não sou uma mãe de Manual, nem de comercial de margarina, muito menos perfeita. Às vezes “surto”; às vezes faço as tranqueiras que eles pedem pra comer; às vezes me escapam os palavrões; às vezes esqueço de ler a agenda da escola; às vezes peço pra eles pararem de brigar, “brigando”; já deixei ir dormir sem tomar banho; já deixei almoçar pastel do Bar do Jaime, etc, etc, etc... Me julguem. Eu me desculpo. E eles me amam e respeitam, logo, está tudo no lugar.

No fim, o que importa é que não falta amor e nem limites, não falta respeito, não tem assunto proibido, não falta diversão, nem alegria, nem educação. Aí, a culpa ainda existe, mas fica pequenininha.

É provável que alguns vão concordar, mas certamente, outros vão me julgar, especialmente as mães modelos, que vivem como “os manuais”. Pra essas, eu só tenho uma coisa a dizer: O importante é ser uma mãe de verdade. A nossa culpa e inseguranças também vão pra eles. Não sou, e nem tenho a pretensão de ser, uma mãe nem melhor e nem pior que as outras. Sou só uma mãe. Com TUDO o que isso carrega e significa. Sou uma mãe imperfeita. Mas sou a melhor mãe que eu posso ser. E o que me conforta, é que eu sei que eles sabem disso.

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