8 de dezembro de 2014

Da Série: 37 anos de mim – Depois das 8 partes, o fim.

Já que estou na semana dos 37, resolvi blasfemar sobre mim.

Farei uma “Série” com várias partezinhas e depois vou juntar tudo e ver o quanto de coerência consegui juntar em 37 anos. Já posso adiantar que sou num dia a pessoa mais normal, bem resolvida e decidida do mundo e no outro, posso ser pura bagunça, tipo louca mesmo. Mas a essência, os princípios e as convicções, não mudam em dia nenhum. Dá um pouco de medo ver o final dessa brincadeira. Mas sou sem vergonha.

Pra começar, não gosto de beterraba, nem de gente fofoqueira, nem de convites pra jogar Candy Crush e nem de Pink Floyd, muito menos de Pink Floyd (desculpe Sá!). Mas, adoro praia e ficar melada de areia num dia nojento de tão quente.

Ah, e sinto tédio quando escuto “se tem dia da consciência negra deveria ter dia da consciência branca”. *Risos*

Não acho que a vida se resume em plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. De qualquer forma - pra garantir - já plantei algumas. Mas acho mesmo é que precisamos cuidar das que temos e plantar várias ao longo da vida. Filhos? Já tive. Sou louca pelos meus, mas também acho que é possível ser feliz sem. Mas só antes de tê-los. Tem gente que faz essa opção e é. E um livro? Nunca escrevi um de verdade, além de um de terror na quinta série. Já me falaram (os amigos, claro) que eu deveria, porque gosto de escrever e vivo "me expondo". Mas a verdade é que eu acho que tenho que comer muito feijão com arroz pra escrever um livro. Livro pra mim é coisa séria. Gosto do descompromisso com as palavras e com a forma. Gosto da catarse.

Fui descobrindo que, com exceção das coisas que “devem” ser, não gosto de nada unilateral na vida. Nem da palavra eu gosto.

É simples. Não me agrada radicalismos e regrinhas com relação a gosto e às coisas cotidianas. Por exemplo, não acho que a pessoa precise gostar de UM estilo de música, UM tipo de leitura, usar UM estilo de roupa, frequentar UM tipo de lugar. Quando mais jovem, confesso, já desejei ter um “gosto” só sobre as coisas, achava que isso trazia alguma coerência à vida. Nunca consegui, por sorte. Hoje, acho isso muito chato.

Saio hoje de chinelo. Amanhã, se eu quiser, meto um salto lindo e depois de amanhã passo o dia de tênis. Eu adoro - na mesma proporção - comer uma costelinha (na gaita) e uma Brahma gelada (com milho mesmo!) no Bar do Jaime ou um Bife de Ancho com uma Patagônia no Cabaña Ganadera (meu restaurante preferido por aqui). Eu posso estar lendo A Bibliotecária de Auschwitz (recomendo, aliás!) e na mesma meia hora pegar uma revista e ler “Como fortalecer os glúteos”, o que é muito foda! Os dois, Auschwitz e fortalecer os glúteos. Numa “roda de youtube” posso escolher Back in Black do AC/DC, Réu Confesso do Tim Maia, Alvorada do Cartola, Homem na Estrada dos Racionais, enfim, gosto de música, qualquer uma que me disser alguma coisa, agradar aos meus ouvidos e me fazer bater os pés. Tudo isso é só para dizer que coisas bem diferentes uma da outra podem me fazer feliz igualmente e que os chatos e as convenções não me apetecem. Eles só tem razão quando o assunto é o Funk. Ah, o funk…

Por falar em música, também sou daquelas que acha que música move o mundo. Tudo que envolve ela. Ouvir, dançar, cantar, tocar, lembrar, enfim... Adoro dançar, mas, um dos meus cunhados me disse uma vez - depois de uma festa de formatura e um pé pisado - que eu sou ótima dançando sozinha e livre. E isso dispensa qualquer explicação. Também não sei cantar, mas adoro e canto assim mesmo. Uma frustração: não tocar nenhum instrumento. E isso, ao contrário de dançar e cantar, não dá pra fazer sem saber. Se bem que tá cheio de gente por aí que... Deixa pra lá, que a ideia aqui é falar mal só de mim.

Poucas coisas na vida me deixam mais feliz do que café, amor e gentileza. Simples, não!? Humm...

Já provei muitos, porque sou bem fã, mas o meu requeijão preferido é o Crioulo, talvez porque eu deteste a ideia de separar o Brasil, ou só porque ele seja bom pra cacete mesmo. Adoro requeijão com torrada e o Brasil tudo junto.


Tenho Aristóteles na pele. Porque fui metida, li algumas coisas, mas sei muito menos dele do que gostaria. Tenho Guimarães Rosa como citação de Facebook, o que quer dizer quase nada. Isso, se não fosse ele, que pra mim quer dizer quase tudo.

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim. Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

Quero parar de fumar. Eu sei, já falei isso antes... Agora, além dos motivos óbvios, a atividade física, que sempre foi um peso e hoje é um prazer, está atrapalhando muito o meu desempenho com o cigarro. Vou te contar, não tá fácil! Mas vou conseguir, já fiz coisas piores.

Também não sei emitir nota fiscal do jeito novo, só naquele bloco old school. Não sou eu que faço minha declaração de imposto de renda. Esqueço senhas, números de telefones, datas de vencimento e datas de aniversários importantes. Como podem ver não sou boa com números, mas sempre fui boa de conta. Ou seja, raciocínio “ok” e memória “zero”.

As coisas que faço melhor não me garantem nenhuma grana, mas... Sou boa pra organizar festas; sempre acerto o tamanho do pote na hora de guardar a comida que sobrou (dica: na dúvida, sempre escolha o menor); sou craque em fazer baliza e fazer criança rir; e todos os dias repito a façanha de fazer a melhor comida que já fiz na vida, pelo menos na opinião do Enzo, o que não é pouco.

Não ligo (mesmo) que me peçam o último pedaço ou o último gole. Não poderia, costumo fazer isso. Eu sei, eu sei... Mas pelo menos não conto o final do filme, nem do livro. Não mais.

Os meus filhos me ensinam todos os dias que as crianças aprendem com aquilo que a gente faz e não com o que a gente diz. Eu continuo falando, mas também sendo, ou tentando ser.

Me emocionam... Um gol do Corinthians nos 45 do segundo tempo; o olhar e o sorriso dos meus filhos, sempre, mesmo quando eu já sei que vão pedir alguma coisa; Um Sonho de Liberdade, As Pontes de Madison e até O Paizão naquela cena do julgamento (pois é!).

Me dá saudades... A época da faculdade; Londres; meus avôs e outros tantos que se foram e não me despedi direito; os luais da Praia Brava; jogar bétis na rua até quando não dava mais pra enxergar a bolinha; de quando a vida era só festa e chamava os garçons dos bares pelo nome, daquela época só restou o Almir e alguns dos bares, eu é que não vou mais (tanto); sinto saudade de lugares, imagens, cheiros, vozes, tantas coisas e pessoas... Sou lotada de saudades. E não vejo mal nisso. Acho essa, a prova mais evidente de que se foi feliz – também - antes.

Amo viajar. E viajo menos do que gostaria. Já que é preciso tempo, dinheiro e escolhas. Ainda as faço, mas com o tempo, as viagens foram virando fraldas, porcelanatos, mensalidades escolares e financiamentos... Mas quer saber? Não posso reclamar, não. Com “só” 37 já conheci muitos lugares incríveis. E gosto de viajar de qualquer jeito. Pode ser de carro, de avião, de trem, de ônibus. Pra Paris ou Curitiba, todo lugar. Até pra Sapopema se me chamarem, eu vou. Pode ser de mala ou mochilão. Pode ser hotel, albergue, casa alugada ou casa de amigo. Se o lugar for limpo, tiver chuveiro e cama razoáveis, e claro, bons parceiros de viagem, eu topo. Porque, aliás, viajar com gente chata é um porre. Prefiro um porre, na verdade. E em grupo também é complicado, mas na última que fizemos em família e em 12 (É isso mesmo, 12 pessoas!), todos sobrevivemos e nos divertimos.

Quase todo mundo que eu conheço gosta de viajar. E olha, vou ser bem sincera, a pessoa tem que ser muito mal humorada pra não gostar. Viajar transforma os dias, as percepções, as opiniões, os preconceitos, os conhecimentos, os equívocos, o pensamento. Viajar, com o tempo e as viagens acumuladas, pode transformar o seu jeito de ver a vida.

Viajar me faz curiosa e ansiosa feito criança. Gosto dos detalhes. Viajar é comer sem culpa e experimentar até aquilo que você sabe que não vai gostar. É acordar cedo mesmo que tenha ido dormir tarde e bêbada, mas não porque tem hora pra acordar. E no outro dia perder o horário do café-da-manhã do hotel porque decidiu dormir até quando der vontade. É dar risada numa fila quilométrica de um teatro ou quando erra o caminho e tem que andar o dobro. Viajar é usar roupas que aqui nunca ficariam boas. É lembrar de esquecer os roteiros tradicionais. Não estou dizendo que quem vai a Paris deva voltar sem conhecer a Torre Eiffel e quem vai a Barcelona, a La Rambla (Ah Barcelona!!!), mas é ótimo esquecer os roteiros de vez em quando...

Viajar é ter histórias pra contar e pra lembrar.

A primeira viagem de que se tem notícia na minha vida foi pra Itanhaém, uma praia do litoral paulista que fomos por muitos anos. Eu tinha 1 ano. E lá, aprendi a andar. Talvez por isso goste tanto de praia, dei meus primeiros passos na areia. Com pouco mais de um ano fiz minha primeira viagem de avião. Uma viagem curta e engraçada. Engraçada, hoje. Não pra minha mãe, naquele dia. Assim que o avião decolou, passei mal e desmaiei, e ela, desesperada – segundo meu pai conta e ri - pedia insistentemente que parassem o avião. É, eu sei...

Depois dessa iniciação curiosa foram muitas e muitas aventuras. Viagens em família, com namorado, com amigos. Praias, fazendas, ilhas, cidades... Até aqui, se lembrei direito, foram 13 países, muitas cidades, noites mal dormidas, lugares apaixonantes, sustos, caminhadas intermináveis, barracas alagadas, pés torcidos, paisagens, cheiros e pessoas inesquecíveis. E a riqueza maior: todas as lembranças e conhecimentos surrupiados de todas as andanças estarão sempre aqui, comigo. Por isso, sou grata por todas as chances e oportunidades que tive de pôr o pé na estrada. Dei uma acalmada, mas deixa as contas diminuírem e as crianças crescerem... Enquanto isso, vou quando dá e “viajo” por aqui mesmo. Também sou boa nisso.

O Fernando Pessoa era mesmo um sabidão... “Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...”

Algumas paixões, fora de ordem... Cozinhar, minha família, as palavras (em todas as suas formas), café, dezembro, conversar com quem eu gosto, Weiss, fazer festa, Pilates, massa, seriados, meu mixer da Cuisinart e o Corinthians. Bobinha, eu sei.

Aliás, por falar em Corinthians, adoro futebol. E ao contrário do que alguns homens (e mulheres) pensam sobre as mulheres que gostam de futebol, sim, eu sei o que é um Impedimento; sei que o Dorival Junior SÓ ajudou a ferrar o Palmeiras, que deve cair; sei o que faz um meio-campo, um volante ou um ponta; sei quem é Ribéry, Ibrahimovic ou Schweinsteiger, etc... Esse último, o palavrão, é da gangue dos nossos algozes, mas nem vamos entrar nesse assunto, que é indigesto.

Não gosto do Arnaldo Jabor, nem do Rodrigo Constantino, nem do Fred do Fluminense e nem de goleiro que escolhe o canto antes da cobrança. E cenoura, só como por “obrigação”.

Sempre fui melhor escrevendo do que falando. Sou tímida. Pode acreditar. E irremediavelmente – ou ingenuamente, se preferir – otimista. Nem um pouco adepta ao pensamento reverso quando desejo e espero alguma coisa, como o Enzo tentou me ensinar a ser, um tempo atrás. Pra mim, pensamento reverso só funciona em matemática, na vida não.

Enfim, o que? Uma mulher de 37 anos “em construção”. Com muitas dúvidas, algumas certezas, desajeitadamente intensa, com erros e acertos, coisas pra resolver, tentando, sempre tentando ser o melhor que posso ser, respeitando os meus limites e sim, muito mais complacente comigo mesma. E quer saber? Feliz com o que consegui até aqui.

O que eu quero daqui até os 38???

Tá bem fácil... Só assinar um Beer Pack do Club do Malte; ter mais tempo pra ler; conseguir descascar uma maça inteira ininterruptamente (sabe aquele espiral de casca? Nunca consegui na vida!); ver o Corinthians, mais uma vez, campeão da Libertadores; viajar pra qualquer lugar e ser bem feliz de todo jeito que eu puder. Só isso.

Com amor e gratidão,
Juliana.