21 de junho de 2013

É bonito de ver! Mas, é preciso refletir...

É bonito de ver o que está acontecendo no Brasil. Apesar de todos os equívocos, sim, porque eles também estão acontecendo, nada muda o fato de que a população está se organizando, e indo atrás do que lhe é de direito. De que, agora, não é só na Europa que o povo se organiza e toma as ruas e praças públicas das grandes (e pequenas) cidades, põe a cara pra bater, e vai atrás dos seus direitos, literalmente. Aqui também sabemos fazer isso.

Não podemos desconsiderar que essa mobilização toda que vem acontecendo em nosso país, não surgiu do nada. Originou-se de grupos já organizados, que historicamente encampam essas lutas sociais, por melhorias no transporte público, e tudo que isso envolve; melhorias na saúde; na educação; na legislação; desoneração da carga tributária, enfim, são muitas as nossas demandas e necessidades. E que, na sua maioria, tem sido negligenciada pelo poder público, em todas as esferas de governo.

No entanto, em poucos dias, vimos surgir um grande movimento popular, que acabou com a “solidão” desses grupos, que foi para as ruas exigindo atenção, fazendo barulho, exigindo que sua indignação, sua inconformidade, suas necessidades sejam ouvidas.

Um movimento, que começou com a luta contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa dos transportes urbanos de São Paulo, a luta do Movimento Passe Livre. Mas que, rapidamente, deixou de ser apenas pelos R$ 0,20 da tarifa, e agora até o Maradona e o Mark Zuckenberg sabem disso, o que não quer dizer, efetivamente, nada. Se isso não confirmasse o fato de que o mundo todo está vendo o que está acontecendo por aqui, o que quer dizer muito. Pra muito além da luta do MPL, passou a ser uma luta coletiva, de todo o povo brasileiro, que clama por mudanças em nosso país. Mudanças que transformem efetivamente a realidade e a vida das pessoas. Mudança de atitude. Mudança de prioridades. Mudança de postura dos políticos que nos representam. Mudança de rumo.

Os nossos representantes políticos, que ainda tem algum juízo, certamente, estão observando isso tudo com espanto e muito cuidado. Devem estar perplexos com a capacidade de organização da população, apesar do improviso, e daqueles que estão se esforçando sobremaneira para atrapalhar e desqualificar o movimento, que é legítimo. Estão percebendo, que o povo está ciente de quem deve “mandar” nesse país, e que definitivamente, não são eles. As pressões começam a surtir efeito. Muitas cidades já baixaram o valor das tarifas do transporte público, e muitos políticos já se colocam à disposição para receber representantes desse movimento, e discutir outras demandas. Os políticos, ou, uma boa parte deles (porque generalizar é sempre burrice) podem ser egoístas, corruptos, atuar por interesses próprios ou de uma pequena parcela da população... Mas, não são burros. Ano que vem, é ano de eleição, e eles estão vendo nas ruas, e verão (se tudo correr bem) nas urnas, quem manda nessa porra! Por isso, barbas estão de molho!

Estão vendo que não podem mais simplesmente subir as tarifas de ônibus, sem diálogo com a população; estão vendo que a repressão policial não intimida milhões de brasileiros brigando por direitos; que as bombas de gás lacrimogênio fazem menos barulho que a voz do povo... Enfim, tudo isso nos dá a impressão que uma nova democracia está nascendo, a que vem realmente do povo. E por isso, além de toda essa comoção, de ser brasileiro, e juntos lutarmos por direitos, além de todas as motivações e da vontade de se fazer ouvir e conquistar, é preciso calma, inteligência e discernimento. Porque, também nesse movimento, há tudo quanto é tipo de gente.

O fato é que estamos em meio a uma grande crise de representatividade. Quem é de “direita” não aceita e não se sente representado por um governo, a princípio, popular. Que, torçam os narizes, mas, um governo que, apesar de todos os equívocos, foi sim, capaz de transformações indiscutíveis para o país. Talvez, não pra você, que nunca sentiu cheiro e teve que comer com o pensamento... Bom, mas isso é outro assunto que, aliás, quero falar em outra oportunidade. Por outro lado, quem é de “esquerda”, muitos, sentem-se traídos. Traídos pelo pragmatismo político, daqueles que reduziram a política e seus ideais, pessoais e partidários, à arte de vencer eleições; daqueles que em nome da “governabilidade” fazem alianças com qualquer tipo de oportunista, e concessões antes impensáveis para eles próprios; daqueles que a manutenção de suas ideias e princípios não é mais condição sine qua non para a sua atuação política. Além desses dois grupos, ainda existem aqueles que vivem à margem. Que dizem que “odeiam” política. Mas, pra mim, isso é uma grande confusão. Ninguém deveria odiar política, simplesmente porque somos seres políticos, fazemos política o tempo todo, em casa, no trabalho, com os filhos, nos relacionamentos, e também, mas não somente, na política partidária. O que estamos fazendo nas ruas, nesse momento histórico do Brasil, é política pura.

Uma coisa que me chamou atenção nesses últimos dias é um pequeno movimento que começa a pedir o Impeachment da presidenta Dilma, provavelmente orquestrado pelos conservadores de plantão, que aproveitam esse momento de mobilização popular para tentar seu “golpe”. A indignação e a revolta de todos, e não só contra o governo federal, contra todas as esferas de governo, diante de tanta inversão de prioridades, tanta ausência do Estado nas políticas públicas que interferem diretamente na vida dos cidadãos, tantos desmandos... Tudo isso é compreensível. Mas, penso que temos que ser razoáveis e inteligentes numa hora como essa. Querem tirar a presidenta? E aí? Querem Michel Temer como presidente do Brasil? Resolveria o nosso problema? Qual a alternativa a isso? Golpe? Ditadura? Todo cuidado é pouco...

Para refletirmos: há 20 anos tivemos a oportunidade de escolher, através de um Plebiscito, o sistema de governo que regeria o Brasil. Tínhamos opções... Monarquia, Presidencialismo e Parlamentarismo. Optamos, através de uma consulta democrática à população, pelo Presidencialismo. Se votamos errado, desde lá? Não sei, pode ser! Mas, confesso que ainda prefiro a democracia representativa, onde, mal ou bem, o povo escolhe quem o governa. O que é fundamental que aconteça, é que a política se renove; que surjam novas lideranças; que o brasileiro, definitivamente, aprenda a votar, para que os políticos, depois de eleitos saibam exatamente por quem estão lá; que as cobranças pelos direitos sejam feitas, não só em grandes manifestações, mas no dia a dia; que aprendamos a exercer cidadania não só na hora de ir para as ruas, mas em todas as atitudes rotineiras, nos direitos e nos deveres.

Dúvidas: Vamos nos manter firmes e determinados, apesar de todos aqueles que jogam contra? Está claro, onde queremos chegar? Temos (todos) clareza das mudanças e transformações que queremos?

Apesar das dúvidas, meus desejos são: que o movimento cresça e se fortaleça cada vez mais, e com objetivos claros; que os representantes políticos respeitáveis (ainda existem), ou que querem ter alguma chance de continuar a nos representar, entendam que o momento é de mudanças drásticas, que venham a público, manifestem-se e ajudem eles próprios a fortalecer a democracia e a mudar o país; que o vandalismo despropositado se dissipe em favor dos interesses e objetivos coletivos, basta pensarmos a quem ele serve; e que o barulho de bombas explodindo e de balas de borracha não sejam as onomatopeias desse movimento.  

Sigamos!

6 de junho de 2013

Agora mais essa! O Estatuto do Nascituro.

Você sabe o que é? Pra mim - para pelo menos começar o texto educadamente - é uma bela “confusão” que os nossos digníssimos parlamentares estão fazendo no Congresso Nacional. Uma confusão que mistura política, ética e religião. Uma confusão de falta de informação e total irresponsabilidade. É gente fazendo proselitismo religioso/político com a vida de milhares de mulheres.

Antes de fazer as minhas considerações sobre o tema e o Estatuto em questão que, aliás, já posso adiantar, considero insano, entendamos o que é, e o que pretende esse Estatuto.

Trata-se de um projeto de lei da Câmara dos Deputados, que acaba de ser aprovado na Comissão de Finanças, e que apesar de precisar passar pela Comissão de Justiça e ainda ser aprovado no plenário, já causa muitos questionamentos e indignação, em muitas mulheres e homens de bom senso, e com o mínimo de inteligência e sensibilidade.

A grosso modo, o projeto prevê que um nascituro (concebido, mas não nascido), ganhe status de personalidade jurídica e possa “reclamar” direitos ao Estado, mesmo antes de tornar-se um feto, e deixar de ser apenas células humanas fecundadas, com a possibilidade de tornar-se, ou não, uma vida. Isso, em detrimento do direito da mãe, da mulher, de decidir se quer ou não gerar uma vida, que pode ser fruto de um estrupo, ou um embrião com má formação, ou até mesmo uma gestação que traga risco de morte para ela. Ou seja, os direitos do nascituro se sobreporiam ao da mulher, uma vida que já está aqui.

Resumidamente o Estatuto prevê o seguinte: um nascituro mesmo sendo fruto de estupro tem o seu direito de nascer garantido, e a mulher que decidir por um aborto estará cometendo um crime; o Estado se responsabilizará pela assistência médica e psicológica da gestante (e que assistência irá precisar uma mulher OBRIGADA a ter um filho fruto de um estupro!); o Estado se responsabilizará por uma pensão de um salário mínimo mensal até que o nascituro complete 18 anos, caso o genitor não seja identificado, neste caso, o estuprador. Pois é, caso identificado, o estuprador pagaria a pensão (não, não é pra rir!).

O mais insano de tudo isso, é que esse Estatuto “caga” para uma vida que já existe, neste caso, a vida de uma menina ou uma mulher, para preservar TODOS os direitos do nascituro, alguém que poderá ou não existir.

É muito importante que entendamos que, defender que uma mulher tenha o seu direito de decidir ou não por um aborto, garantido, não é um atentado contra a vida. O direito de decidir por um aborto após um estupro, ou quando o embrião corre risco de má formação, ou quando ela própria corre risco de vida, ou até mesmo porque considera ser a única opção naquele momento de sua vida, só deve dizer respeito a ela. Mesmo porque, ninguém pode imaginar as consequências físicas e principalmente, psicológicas, na vida de uma mulher após uma decisão dessas. Além do que, o direito de uma mulher decidir, ou não, pelo aborto na maioria dessas situações, já está assegurado na Constituição Federal. Ou seja, além de uma interferência absurda na vida de uma mulher, esse Estatuto seria um tremendo retrocesso para todas as conquistas das mulheres e do nosso país.

O que está em discussão aqui, não é a minha, ou a sua, opinião pessoal de ser contra ou a favor do aborto. Cada um tem o direito de pensar e de viver de acordo com os seus paradigmas e suas crenças, e defendê-los, pessoalmente. O problema é quando agentes políticos, que teoricamente deveriam nos representar (a todos), expõem suas posições radicais e egoístas, pautados por “fantasias filosóficas”.

No fundo, sabe o que é isso? Homens, que estão tentando através do poder que lhes foi dado, o de “fazedores de leis”, impor à sociedade as suas convicções morais e religiosas, equivocadas. Criminalizando o aborto, e controlando a reprodução das mulheres, sem a mínima noção do que significa sofrer uma violência sexual, ou ser obrigada a carregar dentro de si um feto sem chances de sobrevida, e até mesmo com o risco de morte da própria mãe.

Quando, na verdade, o que deveríamos esperar desses representantes, é que respeitassem os princípios da laicidade do estado (tá, isso já virou piada!); que não misturassem a sua responsabilidade pública com as suas convicções morais e religiosas; e que respeitassem os direitos fundamentais da mulher, como por exemplo, o direito da mulher de interromper a gravidez nos casos já previstos na Constituição. Isso não envolve (ou não deveria envolver) nenhum aspecto moral, já que é uma questão de saúde, física e psicológica, da mãe e do nascituro. E também, não se deve comparar a antecipação do parto nesses casos específicos, com a descriminalização total do aborto – que é outro assunto, muito mais controverso. Não para mim.

E tem gente que faz ainda mais confusão. O que eu, e muita gente, defende que seja assegurado, é o direito da decisão ser da mulher, e que ela não seja punida ao decidir antecipar o parto de um nascituro fruto de um estupro, ou com poucas chances de nascer, por exemplo. E não que toda gravidez assim deverá ser interrompida. Quem decidir levar a gravidez até o final, também tem todo o direito.

Enfim, na cabeça “bondosa” dos defensores desse Estatuto, se por “acaso” uma excrecência dessas for aprovada, eles estarão assegurando que os direitos de células humanas recém-fecundadas, mesmo se forem frutos de um estupro, sejam totalmente e amplamente reconhecidos. Mas, e a mulher? Com o perdão da palavra: FODA-SE a mulher!

Portanto, você aí, que nunca sofreu um estupro, que nunca teve um feto anencéfalo dentro de você, que nunca correu risco de morte numa gravidez... Não julgue. Permita que a mulher nessa situação, na sua “cara” autonomia, e que é a única que pode mensurar os efeitos disso em seu corpo e em sua vida, decida.








3 de junho de 2013

E você, mora onde?... E quem se importa?

Moro no país do futebol, que exporta o Neymar e importa o Zizao. Mas pelo menos, o Zizao tá lendo, né gente?! E quem se importa?

Moro num país tropical onde as pessoas trabalham de terno e gravata, mesmo num calor de quase 40 graus. Hábito importado e equivocado! E quem se importa?

Moro num país onde jornalista da Folha de São Paulo “insinua” que adolescentes podem sofrer violência sexual, pela roupa que usam, ou seja, a culpa é delas! E quem se importa?

Moro num país onde as pessoas estão ficando chatas! Onde dizem que política, futebol e religião não se discute.  Como assim? É o que mais se discute. E sexo então? É (ainda) tabu, apesar de todo mundo fazer e todo mundo gostar, mas pra maioria é assunto proibido. Nelson Rodrigues disse uma vez: “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”. Pois é, mas todo mundo faz, e todo mundo se cumprimenta. Mas, quase ninguém fala! E quem se importa?

Moro num país onde dizem que 11 entre 10 mulheres dariam para o Chico Buarque. Além de um exagero, é matematicamente impossível! E quem se importa?

Moro num país onde as pessoas não só acham que as “Copas” não vão dar certo, mas também torcem por isso! Se não, como é que fica o prazer, eu diria sádico, de antecipar os fatos, e dizer “Eu sabia! Eu disse!”. E tem também o complexo de vira-latas, né... Como eventos dessa magnitude darão certo num país como esse, de gente como você e como eu??? Pode dar e pode não dar... E quem se importa?

Moro num país onde tem muita gente que acha que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, pra quem não tem nem pro café, são excrecencias. Mas, sonegar IR, diminuir o valor do imóvel na hora do registro, subornar o guarda pra não levar aquela multa... ah, essas coisas podem! É só o jeitinho brasileiro. E quem se importa?

Moro num país onde o Pr. Marco Feliciano é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e José Maria Marin é o presidente da CBF. E quem se importa?

Moro num país onde alunos xingam e jogam livros na cara de professores, e professores, esgotados, agridem alunos. Onde a ideia de educação está deturpada, e as responsabilidades “confundidas”. Certeza que Piaget, Vygotsky, Paulo Freire e tantos outros estão revirando em seus túmulos. Mas, que não percamos a fé na educação, que é das poucas coisas que podem nos “salvar”. E quem se importa?

Eu moro no Brasil. E sabe de uma coisa? Eu me importo.