Quem, como eu, freqüentou os bancos da escola,
aprendeu desde sempre a amar a pátria, cantar os hinos, respeitar a bandeira
brasileira, comemorar a independência, enfim, símbolos da história do nosso país, e que se
transformaram hoje em que? Cantamos o hino e até nos emocionamos com isso, numa
vitória da seleção brasileira numa Copa do Mundo, ou com um judoca medalha de ouro numa olimpíada;
hasteamos a bandeira em eventos e datas comemorativas; alguns ainda assistem ao
desfile de 7 de setembro, cada ano mais esvaziado, porque agora o espaço é
ocupado também por manifestações por melhores condições de vida, como o Grito
dos Excluídos, e outras manifestações como as que vêm ocorrendo nos últimos
meses... Tudo isso nos obriga a reflexão. Qual é o real sentido e importância,
hoje, de se comemorar a Independência, além da praxe? Pra mim, nenhuma.
Não faço aqui nenhuma análise profunda da história, mas para perceber o que vou dizer, isso nem é necessário. Está aí pra quem quiser ver.
Não faço aqui nenhuma análise profunda da história, mas para perceber o que vou dizer, isso nem é necessário. Está aí pra quem quiser ver.
O problema é que nessa mesma escola,
esqueceram de nos contar, ou contaram superficialmente, como conquistamos essa
tal independência, e o que veio antes disso. O fato é que a nossa história
começou mal. Começou com escravidão e morte, dos povos que já estavam por aqui
antes de virarmos colônia de Portugal, e foram praticamente dizimados, pela
ambição de impérios e monarquias que só queriam conquistar territórios e conseguir
mão-de-obra escrava para enriquecer ainda mais.
Aí, Dom Pedro cansou e gritou “Independência
ou Morte!” as margens do Ipiranga, com o objetivo de conquistar autonomia
política e estabelecer o fim do domínio português. Seria uma maravilha se a
independência fosse pra todos. O fato é que desde lá, não é pra todo mundo. Os
pobres nem acompanharam o significado dessa independência, já que a escravidão
foi mantida e a desigualdade permaneceu. A renda, como até hoje, se concentrava
na mão de poucos. E é por isso, que quando fazemos qualquer crítica, por mais
pertinente que seja, nunca devemos esquecer que o problema do nosso país é
histórico. Devemos continuar sempre em busca das transformações, que são
necessárias e urgentes, mas, apesar dessa frase ser lugar comum, a mudança deve
começar em nós mesmos. Devemos nos transformar interiormente e depois exigir
dos outros, que revejam e abandonem essa cultura escravocrata, preconceituosa e
desigual.
Somos mesmo independentes??? De Portugal, sim, desde 1822. Mas, pra mim, e felizmente pra muitas outras pessoas, um país só será verdadeiramente independente quando cada pessoa que nele vive, for independente.
E o que precisamos para ser independentes?
Precisamos de EDUCAÇÃO, mas com um ensino de qualidade, que forme cidadãos
críticos, com pensamento livre. Precisamos de SAÚDE, uma saúde que atenda TODAS
as demandas da população, desde saneamento básico, prevenção de doenças, até a
necessidade de uma cirurgia complicada. Precisamos de SEGURANÇA, que nos
garanta o direito a vida e a liberdade de ir e vir. Precisamos de MORADIA para
todas as pessoas. Precisamos de TRANPORTE PÚBLICO de qualidade, para não
precisarmos brigar mais, nem pelos R$ 0,20 centavos. Precisamos de COMIDA pra
toda a população. Comida gente, comida... Para não precisarmos mais do Bolsa Família,
por exemplo, e nem ter que ouvir tantas críticas desinformadas e
preconceituosas. Precisamos ainda de TRABALHO, de LAZER, de CULTURA, enfim,
tudo que garanta uma vida digna a todas as pessoas.
Quando a dignidade for universal em nosso
país, seremos verdadeiramente um país independente. Enquanto isso, quem quiser
pode continuar assistindo as fanfarras e desfiles militares, e admirando a
simbologia vazia, da qual “fomos convencidos” na escola.
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