21 de novembro de 2013

Que cor é a sua consciência?


Hoje é o Dia da Consciência Negra, e desde ontem, lendo muitos posicionamentos na rede e na imprensa, de todos os tipos, fiquei pensando sobre o significado desse dia, e mais ainda sobre os motivos. 

Vou partilhar algumas reflexões, deixando claro que não sou nem negra e nem antropóloga, portanto, falarei com a propriedade de uma cidadã que se indigna, que não gosta de ficar quieta, e que é uma branca tão negra quanto branca, é brasileira, e teve "sorte", porque ensinaram pra ela desde criança que somos todos iguais, todos gente.

Pra começar, é claro que sabemos que no Brasil, ao contrário do que muita gente insiste em apregoar, não existe democracia racial porra nenhuma.

Se houvesse, o sistema de cotas não seria necessário; 73% dos beneficiários do Bolsa Família não seriam negros; você não atravessaria a rua a noite se visse um “negão” na mão contrária; os presídios não estariam abarrotados da maioria negra; os meus filhos não conheceriam apenas um negro (o menino do 7 ano) na escola em que estudam; as taxas mais elevadas de analfabetismo e mortalidade infantil não seriam privilégio dos negros, enfim, são muitos os exemplos possíveis, que demonstram a desigualdade, a segregação, o preconceito.

Aliás, outra coisa que me ocorreu, e que também já estamos cansados de saber, é que o preconceito antes de ser racial é social. Sim, porque tem o Pelé, o Joaquim Barbosa, o Gilberto Gil, e outros poucos, menos famosos, mas que conseguiram ser juízes, médicos, esportistas, ricos e conhecidos. Aí, tudo bem, ele é negro, mas tem dinheiro, status, “agrega valor” ao camarote. Neste caso, até dá pra forjar uma igualdade hipócrita e nojenta. Agora, irmão, se você nasceu preto E pobre, e não deu sorte, você tá fudido!

Tem Negro filho da puta? Ô se tem. Muitos. Assim como tem Branco filho da puta, Japonês filho da puta... Pensando bem, será que tem japonês filho da puta? É que eu não conheço nenhum...

Enfim, não estou dizendo que os negros são bonzinhos e coitadinhos, pelo contrário, me incomoda quando, apesar de toda história, vejo discursos de negros que padecem de um profundo complexo de inferioridade, quando na realidade, tem todas as justificativas e motivações para reagir contra a discriminação, radicalmente se for o caso. E hoje, não estão sozinhos. Estão organizados em muitos movimentos, contam com a lei e contam, pasmem, com os brancos. Sim, os brancos que são tão negros quanto brancos. Os Brancos que entendem o que é o Brasil, e mais do que isso, o que é o ser humano, o que é a vida.

Como o racismo no Brasil é crime inafiançável e, além disso, é “fora de moda”, é politicamente incorreto, os brancos que não são tão negros quanto brancos, são só brancos, se esforçam para disfarçá-lo. Vez ou outra ele aparece publicamente, no menino que foi enxotado da loja por acharem que era trombadinha, e era só o filho adotado do casal; no jogador de futebol que fez uma lambança e é chamado de macaco; no jovem que foi a padaria na esquina de casa, sem documentos, e foi levado para averiguação... Motivo? Além de ser negro? Não se sabe... Ok, esses episódios são eventuais, porque o racismo no Brasil não é escancarado, a sociedade não admite ser racista ou preconceituosa. E aí, ele acontece nas sutilezas do dia a dia, que sabemos, mas não sou capaz de expressar, apenas de imaginar, só quem é negro pode. Talvez uma frase da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, ilustre o que eu quero dizer: “Quem quer saber o que é ser negro, seja negro por apenas 48 horas”.

É claro que muita coisa mudou, desde que os portugueses trouxeram os primeiros negros para o Brasil e os escravizaram. Tivemos avanços. Os negros conquistaram a “liberdade” com a abolição da escravatura, e então, começaram uma luta árdua e permanente para uma participação legítima e igual na sociedade. E aí? Levanta a mão quem acha que os negros conquistaram uma participação legítima e igual na sociedade? Não. De lá pra cá, eles sempre foram colocados em condição de inferioridade, sendo explorados e oprimidos. E sejamos honestos, o artigo 3 da Constituição Federal está bem longe de ser absolutamente cumprido.

Meu desejo, e sei que é o de muita gente também: Que o racismo que está impregnado na cabeça e no coração das pessoas, que sabemos que é cultural, histórico, mas assim mesmo, injustificável, dê lugar a consciência de que sangue negro corre nas nossas veias, e de que é insano pensar que alguém possa ser superior ao outro pela cor da pele. Que qualquer resquício de preconceito, dê lugar a consciência de que branco, negro, amarelo ou pardo, é tudo gente. 

E salve o Zumbi dos Palmares!

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