Apesar de ter consciência do apelo
polêmico do tema, e reconhecer que o pensamento coletivo sobre ele é muito
divergente, o que me motivou a escrever sobre isso, foi o Editorial da Gazeta
do Povo, do dia 09/02/13, que na minha opinião, é totalmente equivocado.
Principalmente, porque coloca a posição política, religiosa e ideológica, acima
da vida de milhares de meninas e mulheres, que morrem a todo o momento no
Brasil, realizando abortos clandestinos.
Apesar de cada um ter sua opinião
pessoal sobre o tema, que muitas vezes é carregada de preconceito e ignorância,
e outras, é apenas a sua opinião pessoal mesmo, acredito que diante da real situação
brasileira, pra mim, o aborto é uma questão que deva ser tratada com
pragmatismo, e não com paixão.
É claro que o ideal, é que as mulheres
só engravidassem quando realmente desejassem, e pudessem assumir a
responsabilidade de gerar e criar um filho. Mas, sabemos que efetivamente não é
o que acontece, o ser humano é complexo e imperfeito, e até a vida de quem
considera o aborto um “assassinato”, está bem longe de ser a ideal. Portanto, ninguém está imune a uma gravidez
indesejada em sua família, entre suas amigas, ou consigo mesma. Por isso, antes
de julgar qualquer atitude, é melhor olhar pra sua própria vida, pras suas
fraquezas e limitações.
Posso ter muitas críticas à forma como
o Estado tratou até aqui essa questão, com relação à falta de educação, de
prevenção e de proteção às meninas e mulheres, que por diferentes motivos
recorrem a um aborto. No entanto, quanto à crítica do Editorial, ao Governo
Federal, que diz que a Presidenta e o PT, defendem uma plataforma pró-aborto a
qualquer custo, penso que o problema é bem mais complexo. Seguramente, no
próprio governo há pessoas com diferentes pensamentos em relação a isso, porém,
acima disso, o governo tem uma responsabilidade pública pela proteção de sua
população. E não deixar, mulheres morrerem por optarem por um aborto, sem ter
acesso a médicos e medicamentos adequados; por introduzirem agulhas de tricô na
vagina; tomar remédios sem nenhuma orientação, e acabarem suscetíveis às
infecções e hemorragias, cuja conseqüência pode ser a morte, já que têm o
atendimento de emergência comprometido, pela própria natureza do aborto, penso
que seja sim, responsabilidade do Estado.
As pessoas, que são contra ou a favor
do aborto, também tem diferentes motivações para essa posição. Alguns acham que o feto já representa uma
vida, desde a concepção, desde que espermatozóide e óvulo fecundam, e,
portanto, é sagrado; outras acham que o aborto deveria ser liberado até os três
meses de gravidez, época até a qual não há atividade cerebral, uma opinião,
digamos “biológica”. Há também, as pessoas, que como eu, que apesar de sua
convicção pessoal, escolhem o respeito pela liberdade das outras pessoas, e são
pragmáticas, ou seja, pensam que já que os abortos são uma realidade, e
acontecem, querendo você ou não, que pelo menos sejam feito por médicos, no
período adequado e com a maior segurança possível.
Sobre a minha convicção pessoal,
também posso falar. Pessoalmente, apesar de não desejar mais filhos, já tenho
dois, não faria um aborto. Mas isso sou eu. Talvez, porque já seja mãe, tenha
adorado estar grávida, e ache incrível a experiência de ser mãe. Ou porque,
felizmente, tenho condições físicas, psicológicas e materiais, de dar uma
educação digna e adequada aos meus filhos. Ou simplesmente, porque talvez não
seja capaz de conviver com isso, com as conseqüências de um aborto na vida de
uma mulher. Porque também tem isso, só
quem passa pela situação, sabe quais as conseqüências reais disso em sua vida.
Agora, uma coisa que me indigna muito,
são pessoas que se dizem cristãs, seja católico, evangélico, ou de qualquer
outra religião, que julgam e chamam de “assassinas”, as mulheres que fazem ou
já fizeram aborto. Essas pessoas julgam-se grandes defensores da moral, dos
bons costumes e da vida, e exigem respeito de todo mundo, mas não respeitam
quem pensa ou age diferente delas. Para elas, a mulher que engravida
independente das circunstâncias ou condições, é responsável por trazer essa
criança ao mundo, a qualquer custo, para a vida de ambos, da mãe e da criança.
Como cidadã e mulher, acredito
sinceramente, que nenhuma convicção pessoal, ou qualquer princípio ideológico,
religioso ou filosófico, deva justificar a morte de tantas meninas e mulheres.
E que por isso, é sim dever dos gestores públicos e de nossos legisladores
assumirem a questão do aborto como um problema de saúde pública, e criarem leis
e programas, que atendam e protejam essas meninas e mulheres, que assistam à
vida!
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